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Conselheiros admitem crise e sugerem soluções
Entre as propostas está fundir as bienais de arte e arquitetura em um só evento
Também há aqueles que defendem criar estrutura permanente e moderna para a Bienal e tentar rejuvenescer o conselho
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há dúvida entre os conselheiros da Bienal de São Paulo de que a mostra passa por sua
maior crise desde que foi fundada em 1951 por Ciccillo Matarazzo. Mas discordam quando o assunto é como restaurar o
prestígio do segundo maior e
mais tradicional evento de arte
contemporânea no mundo.
Na enquete feita pela Ilustrada, cada conselheiro foi
convidado a opinar sobre os
motivos da crise atual, sugerir
soluções para o futuro e dizer o
que espera da nova gestão. Heitor Martins deve ser eleito hoje
presidente da Fundação Bienal, substituindo Manoel Pires
da Costa, que deixa a presidência com dívida de R$ 4 milhões.
Com 15 membros vitalícios e
38 temporários, o conselho,
que não é remunerado, funciona como espécie de congresso
da Bienal, podendo vetar decisões do presidente e rejeitar
suas prestações de contas.
Formado em sua maioria por
representantes da elite paulista, é um órgão que se reconhece
como inchado e, com idade média de 69 anos, idoso -ainda há
conselheiros que entraram para a instituição a convite do
próprio Ciccillo Matarazzo.
A ideia original era que os
conselheiros, representantes
de classes abastadas e com
prestígio político e financeiro,
ajudassem a buscar recursos
para as mostras. Hoje, no entanto, há reclamações de que
boa parte está ali em busca de
status, não para contribuir.
Segundo os conselheiros, a
falta de verbas é a principal
causa da crise da Fundação Bienal. "Está em crise porque vive
da caridade da iniciativa privada", resume o jornalista e conselheiro Cesar Giobbi, 60. "Nos
últimos tempos, a Bienal foi
mal gerida", diz o professor Rubens Murillo Marques, 72.
Outra razão seria o envelhecimento da instituição e do
conselho. "Esse conselho não
se renovou. Podia dar uma boa
sacudida, ter sangue novo, mais
gente jovem", diz a jornalista
Maria Ignez Barbosa, 64, mulher do ex-embaixador Rubens
Barbosa, que chegou a ser cotado para presidir a fundação.
"A arte evoluiu, mas a Bienal
não tem evoluído, fica lá uma
velharia inoperante, que pouco
participa, mas vai a festas, badalações", afirma o arquiteto
Carlos Bratke, 66, que já presidiu a Fundação Bienal. "Não é
isso que a gente quer, a gente
quer gente trabalhando."
Soluções
Até agora, o único passo rumo à mudança foi a aprovação
pelo conselho de um novo estatuto para a Fundação Bienal,
que, entre outras medidas, deve
reduzir para 40 o número de
conselheiros e punir, com a
perda do cargo, os que não forem às reuniões.
Enquanto isso, conselheiros
sugerem desde juntar as mostras de arte e arquitetura numa
só Bienal, para facilitar a captação de recursos, a aumentar os
intervalos entre as exposições,
com itinerâncias da Bienal por
outras cidades e parcerias com
museus de São Paulo.
A proposta de juntar as bienais numa só deve ser apresentada por uma comissão de conselheiros ao futuro presidente,
com o argumento de já não haver distinções tão claras entre
arte, arquitetura e design. "Por
que separar arquitetura e arte?
Estamos tentando encontrar
novos formatos para reunir o
que há de contemporâneo",
adianta Fabio Magalhães, 66.
Para sanar problemas de orçamento, alguns defendem a
volta das representações nacionais, mecanismo extinto desde
2006 em que cada país escolhia
e financiava seus artistas na
mostra. É um ponto polêmico,
no entanto, porque limitaria a
liberdade do curador.
Conselheiros enfatizaram a
necessidade de instalar na Bienal uma estrutura administrativa permanente e moderna,
que evitasse o desmanche de
equipes a cada edição da mostra. "É preciso um "aggiornamento" da Bienal como um todo", resume Andrea Matarazzo, 53, atual secretário da Coordenação de Subprefeituras de
São Paulo, que também foi cotado para o cargo de presidente.
Embora seja vista com bons
olhos a candidatura de Heitor
Martins, chamado de "herói",
"corajoso" e "farolzão no fim do
túnel" por alguns conselheiros,
também há resistência à sua indicação para o cargo.
"Parece que a Bienal cogitou
nomes importantes e acabou
com um desconhecido que se
aventurou a ser presidente",
disse um membro do conselho
que não quis ser identificado.
(SILAS MARTÍ)
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