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CRÍTICA
Obra tem citações de cunho racista
da Redação
Denso e cheio de informações
(compiladas com a ajuda de Helen
Bettison, historiadora de Cambridge), "A História do Vinho"
não é um livro fácil de ler. É mais
um obra de consulta, que sofre,
por vezes, dos efeitos (talvez inevitáveis) de condensar uma gigantesca quantidade de dados, da Idade da Pedra até os nossos dias, em
pouco mais de 500 páginas.
No capitulo 4, "O Vinoso Mar da
Grécia", por exemplo, a abundância de informações despejada em
poucas linhas que contam as idas e
vindas entre a Grécia, suas ilhas e o
território italiano dos espartanos,
dóricos, eubeus, aqueus... deixa as
mensagens a respeito do vinho na
época um tanto perdidas.
Já em "Homens de Três Garrafas", que descreve os hábitos de
consumo de vinho dos ingleses, o
texto insiste em alternar incessantemente informações do século 12
com outras do 18.
Mas essas são escorregadelas
praticamente inevitáveis num esforço literário desta envergadura.
Imperdoável, porém, é a terrível
derrapada que o autor dá no capítulo "Tudo Menos Porto", ao fazer
referência aos problemas encontrados pelos ingleses para se abastecer de vinho português, durante
uma guerra com os franceses, seus
principais fornecedores.
"Nem os nobres, nem os negociantes locais (portugueses) tinham interesse na vitivinicultura",
afirma. "Segundo alguns, isso se
deveria ao sangue mourisco existente nas suas veias. As relações do
país com Ásia, África e o Brasil certamente resultaram numa gente
mais morena ("a darker-skinned
race", uma raça de pele mais escura, no original) que os vizinhos espanhóis. Seja como for, a indústria
vinícola portuguesa achava-se
num estado deplorável".
Afinal, desde quando a alvura da
pele ou algum tipo determinado de
raça é motivo para o fracasso ou
sucesso de alguma atividade?
Em conversa com a Folha, Johnson se mostrou surpreso quando
foi inquirido a respeito do conteúdo do parágrafo. "Eu não me lembro de ter escrito isso", foi a sua
primeira resposta. "Devo estar citando um outro autor mencionado
na bibliografia", afirmou após
consultar o livro, concluindo que o
texto "apenas está registrando
uma diferença no tom da pele".
Seja dele ou de outro autor (fato
que o livro não deixa claro), após
assinar várias das melhores publicações que existem sobre vinho,
Johnson deveria ter evitado esse
infeliz amontoado de palavras.
Muito mais nestas bandas, onde
comentários desse tipo, que podem ser interpretados como de cunho racista, podem dar cadeia.
(JC)
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