São Paulo, Sexta-feira, 28 de Maio de 1999
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CRÍTICA
Obra tem citações de cunho racista

da Redação

Denso e cheio de informações (compiladas com a ajuda de Helen Bettison, historiadora de Cambridge), "A História do Vinho" não é um livro fácil de ler. É mais um obra de consulta, que sofre, por vezes, dos efeitos (talvez inevitáveis) de condensar uma gigantesca quantidade de dados, da Idade da Pedra até os nossos dias, em pouco mais de 500 páginas.
No capitulo 4, "O Vinoso Mar da Grécia", por exemplo, a abundância de informações despejada em poucas linhas que contam as idas e vindas entre a Grécia, suas ilhas e o território italiano dos espartanos, dóricos, eubeus, aqueus... deixa as mensagens a respeito do vinho na época um tanto perdidas.
Já em "Homens de Três Garrafas", que descreve os hábitos de consumo de vinho dos ingleses, o texto insiste em alternar incessantemente informações do século 12 com outras do 18.
Mas essas são escorregadelas praticamente inevitáveis num esforço literário desta envergadura. Imperdoável, porém, é a terrível derrapada que o autor dá no capítulo "Tudo Menos Porto", ao fazer referência aos problemas encontrados pelos ingleses para se abastecer de vinho português, durante uma guerra com os franceses, seus principais fornecedores.
"Nem os nobres, nem os negociantes locais (portugueses) tinham interesse na vitivinicultura", afirma. "Segundo alguns, isso se deveria ao sangue mourisco existente nas suas veias. As relações do país com Ásia, África e o Brasil certamente resultaram numa gente mais morena ("a darker-skinned race", uma raça de pele mais escura, no original) que os vizinhos espanhóis. Seja como for, a indústria vinícola portuguesa achava-se num estado deplorável".
Afinal, desde quando a alvura da pele ou algum tipo determinado de raça é motivo para o fracasso ou sucesso de alguma atividade?
Em conversa com a Folha, Johnson se mostrou surpreso quando foi inquirido a respeito do conteúdo do parágrafo. "Eu não me lembro de ter escrito isso", foi a sua primeira resposta. "Devo estar citando um outro autor mencionado na bibliografia", afirmou após consultar o livro, concluindo que o texto "apenas está registrando uma diferença no tom da pele".
Seja dele ou de outro autor (fato que o livro não deixa claro), após assinar várias das melhores publicações que existem sobre vinho, Johnson deveria ter evitado esse infeliz amontoado de palavras. Muito mais nestas bandas, onde comentários desse tipo, que podem ser interpretados como de cunho racista, podem dar cadeia. (JC)


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