São Paulo, Sexta-feira, 28 de Maio de 1999
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TELEVISÃO
Desertor, Godard filma a guerra

CARLOS ADRIANO
especial para a Folha

O desertor Jean-Luc Godard é um diretor de guerras. De "O Pequeno Soldado" e "Les Carabiniers" às obras guerrilheiras do grupo Dziga Vertov, engajou seus filmes no Vietnã, na Palestina, em Moçambique e outras brigadas internacionais.
"For Ever Mozart", que teve pré-estréia em Sarajevo e passa hoje no canal Telecine 3, às 21h30 (e dia 28, às 9h15), fala da guerra na ex-Iugoslávia. Mas, fiel ao estilo aforismático, fala da guerra por perífrases. Filme-falésia, interroga sobre o mundo e sua representação.
Não foi filmado em Sarajevo, mas do outro lado do lago Léman (Suíça), nas ruínas de uma grande propriedade que pertenceu aos avós protestantes e onde Godard passou a infância.
O filme se divide em teatro, romance de aventura, cinema, música. A "guerra consiste em fazer um pedaço de ferro penetrar um pedaço de carne". Mozart leva "For Ever" a "Weekend", na autópsia de uma civilização necrosada.
Busca "mostrar para compreender", entre a morte no morgue, a pornografia da palavra, o interdito da imagem, a degradação da história. Rodado em 96, o filme segue Camille e Jérôme arrastados pelos sérvios, até Kosovo em 99.
Godard fez o filme inspirado no "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa e num artigo de Philippe Sollers, no "Le Monde", que ridicularizava Susan Sontag por ela montar em Sarajevo a peça "Esperando Godot". Para Sollers, Marivaux seria melhor que Beckett.
Na sequência "Música", lê-se: "Aprender a virar a página". Na tela, ouve-se (Manoel de Oliveira sobre o cinema de Godard): "Uma saturação de signos magníficos, que banham-se na luz de sua ausência de explicação".


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