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TELEVISÃO
Desertor, Godard filma a guerra
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha
O desertor Jean-Luc Godard é
um diretor de guerras. De "O Pequeno Soldado" e "Les Carabiniers" às obras guerrilheiras do
grupo Dziga Vertov, engajou seus
filmes no Vietnã, na Palestina, em
Moçambique e outras brigadas internacionais.
"For Ever Mozart", que teve pré-estréia em Sarajevo e passa hoje no
canal Telecine 3, às 21h30 (e dia 28,
às 9h15), fala da guerra na ex-Iugoslávia. Mas, fiel ao estilo aforismático, fala da guerra por perífrases. Filme-falésia, interroga sobre
o mundo e sua representação.
Não foi filmado em Sarajevo,
mas do outro lado do lago Léman
(Suíça), nas ruínas de uma grande
propriedade que pertenceu aos
avós protestantes e onde Godard
passou a infância.
O filme se divide em teatro, romance de aventura, cinema, música. A "guerra consiste em fazer um
pedaço de ferro penetrar um pedaço de carne". Mozart leva "For
Ever" a "Weekend", na autópsia de
uma civilização necrosada.
Busca "mostrar para compreender", entre a morte no morgue, a
pornografia da palavra, o interdito
da imagem, a degradação da história. Rodado em 96, o filme segue
Camille e Jérôme arrastados pelos
sérvios, até Kosovo em 99.
Godard fez o filme inspirado no
"Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa e num artigo de Philippe Sollers, no "Le Monde", que
ridicularizava Susan Sontag por
ela montar em Sarajevo a peça "Esperando Godot". Para Sollers, Marivaux seria melhor que Beckett.
Na sequência "Música", lê-se:
"Aprender a virar a página". Na tela, ouve-se (Manoel de Oliveira sobre o cinema de Godard): "Uma
saturação de signos magníficos,
que banham-se na luz de sua ausência de explicação".
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