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"ESTE LADO DO PARAÍSO"
Livro de estréia em 1920 significou a ascensão vertiginosa do jovem autor para a fama
Scott Fitzgerald narra a tragédia americana
BERNARDO CARVALHO
COLUNISTA DA FOLHA
A glória e o fracasso são os
grandes temas dos romances
de F. Scott Fitzgerald (1896-1940).
São também os grandes mitos do
capitalismo americano, da terra
da oportunidade e da mobilidade
social. Como não há romance (ou
vida) sem movimento, sem passagem de um estado a outro (nem
que seja apenas na consciência do
leitor), as histórias de Scott Fitzgerald contrariam o sonho americano ao fazer o movimento inverso,
da glória ao fracasso.
"Toda vida é um processo de
demolição", o autor escreveu em
1936, doente e alcoólatra depois
de uma vida de festas e excessos,
num dos seus últimos textos,
"The Crack-Up" ("O Colapso"),
um dos mais desesperados.
Transformado aos 23 anos na
grande sensação literária da chamada "Era do Jazz", com um romance de estréia cujo título é no
mínimo irônico ("Este Lado do
Paraíso", 1920), Scott Fitzgerald
acabou se revelando um dos grandes romancistas da tragédia americana -e isso ele fez questão de
reiterar com a própria vida.
Amory Blaine, o jovem protagonista de "Este Lado do Paraíso",
sonha "em se tornar alguém, não
em ser alguém".
A competição, a sede de vencer
e de sucesso, um dos fundamentos da sociedade americana, "o
desejo de sobrepujar tantos garotos quanto possível e chegar ao
ápice do mundo", aqui parece
não ter outro objetivo senão a certeza de alcançar um ponto de onde não se pode mais subir, de onde só resta cair.
Já na sua estréia o jovem Scott
Fitzgerald dava um outro sentido
ao romance de formação. Filho da
alta burguesia do Meio Oeste,
Amory Blaine, um jovem narcisista e egocêntrico, vai ser educado na Universidade de Princeton,
vai transitar pelas altas rodas de
Nova York e desprezar o americano médio, apenas para terminar
concluindo que o egoísmo é parte
intrínseca do seu ser: "Sou egoísta
(...). Este egoísmo não apenas faz
parte de mim, mas é o que existe
de mais vivo em mim".
Num pequeno ensaio retrospectivo ("Ecos da Era do Jazz"), o
autor escreveu que "Este Lado do
Paraíso" revelou aos americanos
o quanto a vida dos adolescentes
era cheia de sexo. Era o retrato da
nova geração, contra a hipocrisia
das gerações anteriores, o retrato
de um capitalismo hedonista, e foi
recebido como tal, alcançando
um imenso sucesso.
Por um lado, o livro retrata uma
juventude muito semelhante às
gerações que vieram em seguida,
como se nele fossem definidos pela primeira vez os traços da juventude como a conhecemos hoje no
mundo ocidental sob a influência
americana. Nesse sentido, é um livro inaugural. Por outro lado, a
idéia de que esse retrato já é suficiente como obra literária o torna
um tanto datado.
A ironia dos livros de Scott Fitzgerald é que o desastre, a derrocada e a dimensão trágica tão pouco
cultivada pela cultura americana
surgem justamente da exacerbação da cegueira para qualquer
destino trágico.
É como se "O Grande Gatsby",
sua obra-prima de 1925, anunciasse o fim da festa que viria com
a crise de 1929. E o sucesso de "Este Lado do Paraíso", um texto de
juventude em grande parte autobiográfico, de alguma forma tivesse que se concluir com o desespero de "The Crack-Up", com o
próprio autor identificado à tragédia dos seus personagens, "aos
objetos do meu horror e da minha
compaixão".
Os livros de Fitzgerald mostram
o que o sonho tem de trágico: tudo o que sobe tem que descer, o
sucesso é a véspera do fracasso.
"Este Lado do Paraíso", que significou a ascensão vertiginosa do jovem autor estreante para a fama,
não é um livro trágico -embora
a desilusão esteja embutida nele.
É um retrato de geração. Ainda
não há a queda. É apenas o primeiro capítulo de um romance
que o autor iria concluir com a
própria vida.
Este Lado do Paraíso
This Side of Paradise
Autor: F. Scott Fitzgerald
Tradução: Carlos Marcondes de Moura
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 37 (336 págs.)
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