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CINEMA
Diretores de diferentes países discutem as condições atuais para a realização de filmes na região durante o Cinesul
Mostra faz panorama da produção latina
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
De um lado, a Argentina, com
um cinema nacional de 90 produções por ano e US$ 25 milhões
(cerca de R$ 59,7 milhões) em
subsídios públicos; do outro, o
Uruguai, com um cinema pequeno, cinco produções ao ano e
pouquíssimo investimento do governo. Tão próximos, mas ao
mesmo tempo tão distantes.
É assim que (sobre)vive o cinema latino-americano, que atualmente se enxerga com desigualdades, apesar do aparente desenvolvimento cultural de cada país.
A pedido da Folha, quatro cineastas -Miguel Rodriguez
Arias (Argentina), Pablo Rodriguez, Rosário Infantozzi (ambos
do Uruguai) e Lester Hamlet (Cuba)- discutiram o panorama e a
cinematografia latina antes de
deixarem o Brasil, onde participaram do 9º Cinesul - Festival Latino-Americano de Cinema e Vídeo, que terminou anteontem no
Rio e começa hoje em Brasília.
A Argentina está mais próxima
da realidade brasileira. O modelo
de financiamento público tem
funcionado como o principal propulsor de sua cinematografia
(descontadas as proporções econômicas), mas o setor ensaia os
mesmos passos do mercado brasileiro, que tenta evitar uma crise,
afogada no dilema qualidade-quantidade (como solucionar a
equação entre filmes comerciais e
autorais?) no cinema local.
Para Miguel Rodrigues Arias,
60, diretor que divide seu tempo
entre a televisão e o cinema, a distribuição também é desigual. Ele
apresentou no Rio o documentário "Gardel, el Hombre y el Mito"
(2004). "Questionamos se devemos optar pela pulverização dos
recursos ou se investimos em
bons projetos. Eu fico com a segunda opção", afirmou. Além disso, segundo ele, a Argentina tem
conseguido fazer grande parte de
seus filmes em regime de co-produção. Arias, por exemplo, que
acaba de rodar o documentário
sobre Carlos Gardel exibido no
Cinesul, já tem outros dois projetos na manga. São dois documentários, um sobre o que ele chama
de "Nuremberg Argentino" e outro com a história de Diego Maradona, que será lançado em setembro deste ano.
Na outra ponta, Pablo Rodriguez ("Gardel, Ecos del Silencio"),
42, e Rosario Infantozzi ("La
Cumparsita"), 58, reclamam da
falta de iniciativa do governo em
apoiar o cinema uruguaio, cuja
retomada começou nos anos 90,
época em que o Brasil naufragava
sob a tutela da era Collor.
O exemplo de mais sucesso do
jovem cinema uruguaio é
"Whisky", de Juan Pablo Rebella
e Pablo Stoll, co-produção com
Argentina, Espanha e Alemanha.
Cineastas procuram se associar a
outros países para conseguirem
lançar seus longas, conta Rodriguez. "O nosso cinema tenta ser
independente, mas empenhamos
apartamentos, tentamos empréstimos, fazemos de tudo para fazer
nossos filmes", afirmou.
"Apesar de tudo, fizemos 15
produtos muito dignos nestes últimos nove anos, com uma resposta do público, que tem ido às
salas", disse Infantozzi. "Mas os
cineastas procuram sobreviver
por meio da publicidade."
Há discussões no país sobre a
criação de um fundo de financiamento por meio de taxas associadas à instalação de TV a cabo, por
exemplo, e sobre leis de regulação
do setor.
Enquanto argentinos e uruguaios discutiam como criar e
manter uma indústria cinematográfica que se auto-sustente, o cubano Lester Hamlet, 33, co-diretor de "Tres Veces Dos", recortes
de peculiares histórias de três jovens, observava atentamente.
"Minha realidade é tão distante...
Como indústria, Cuba é um fracasso. Temos um filme por ano,
muitos projetos, mas nada é lançado. Nossa maior oportunidade
de exibir os filmes são no festival
de Havana, que é uma festa do cinema", disse.
Prêmios
Debates e comparações à parte,
a diversidade de filmes pontuou
as mostras. Foram exibidos 150
filmes latino-americanos, entre
longas e médias em 35 mm, além
de vídeos.
O chileno "Mala Leche", de
Leon Errázuriz, foi escolhido o
melhor longa-metragem da mostra competitiva.
"Punto y Raya", co-produção
de Venezuela, Espanha, Chile e
Uruguai, de Elia K. Schneider, e o
argentino "Whisky Romeo Zulu",
de Enrique Piñeyro, receberam
menções honrosas do júri. O segundo também ganhou o prêmio
da crítica.
O documentário brasileiro "500
Almas", de Joel Pizzini, sobre a
cultura guató (comunidade que
vive na região do Pantanal), levou
o prêmio na categoria.
"Tobias 700 - A História de uma
Ocupação", do brasileiro Daniel
A. Rubio (sobre histórias de famílias sem-teto de São Paulo), ganhou como o melhor vídeo.
Parte do festival será exibida em
Brasília a partir de hoje, no Centro
Cultural Banco do Brasil (SCES,
trecho 2, lote 22, Brasília, tel. 0/xx/
61/310-7087), até 10 de julho.
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