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ARTES PLÁSTICAS
Exposição em Nova York reúne 80 trabalhos do século 19 feitas lado a lado pelos dois artistas
MoMA casa obras de Cézanne e Pissarro
HOLLAND COTTER
DO "NEW YORK TIMES"
Os sinos de casamento tocam
novamente no Museu de Arte
Moderna de Nova York (MoMA).
Dois anos atrás, Matisse e Picasso
se uniram lá; antes deles foram Picasso e Braque. Anteontem,
quando foi inaugurada a exposição "Pioneiros da Pintura Moderna: Cézanne e Pissarro" iniciou-se
mais uma lua-de-mel.
Durante cerca de uma década
em meados do século 19 Cézanne
e Pisarro trabalharam freqüentemente lado a lado. Esse período é
o foco da mostra de 80 quadros,
reunidos por Joachim Pissarro,
curador do departamento de pintura e escultura do MoMA e bisneto de Pissarro.
Os dois artistas provinham de
fora da cultura dominante francesa. Pissarro, nascido na ilha caribenha de St. Thomas, era filho de
um negociante judeu. Estudou na
França, mas somente depois de
voltar a St. Thomas, e então passar dois anos na Venezuela, se estabeleceu de vez na Europa, tornando-se pintor.
Cézanne era de Provence, no sul
da França, e também sofria sob as
expectativas da família. Enviado a
Paris para estudar direito, ele teve
aulas de pintura em uma escola de
Paris. Ali conheceu Pissarro, que
era nove anos mais velho e tornaram-se amigos.
Formavam uma dupla marcantemente estranha. Cézanne era
um desajustado furioso, com rosto de hobbit, mente de acadêmico
e boca de estivador. Pissarro era
sério, paciente, mas radicalmente
contra o autoritarismo. Quando
perguntado sobre o modo de fazer a arte francesa progredir, disse: "Queimar o Louvre".
O que os artistas compartilhavam era ambição e propósitos elevados. Como pintores heterodoxos, tinham pequena chance de
sucesso nos salões patrocinados
pelo Estado. Então faziam o que
queriam: seguiam o caminho da
maior resistência. Eles transformaram a exclusão em independência, e a independência num
imperativo moral inabalável.
Paradoxalmente, a maior diferença inicial entre os dois era sua
arte. "As Margens do Marne no
Inverno" (1866), de Pissarro pode
não parecer tão ousado hoje, mas
foi uma grande conquista para o
pintor. Ali está a simplicidade do
plein air de Daubigny; e também a
futura geometria de Mondrian.
A pintura correspondente de
Cézanne também de 1866, um retrato de seu pai em tamanho quase natural, está a um mundo de
distância: é assustadoramente
claustrofóbico, com a tinta espalhada a espátula. Cézanne pai se
equilibra numa poltrona instável.
Um banqueiro politicamente
conservador segura um jornal de
esquerda que jamais seria visto
lendo. Uma natureza-morta de
seu filho errante está pendurada
sobre sua cabeça.
Os artistas aprenderam com
suas dessemelhanças. Cézanne
começou a fazer mais paisagens e
a experimentar com a geometria.
Pissarro pegou uma espátula e
enlouqueceu um pouco. Eles se
tornaram uma espécie de coletivo
de dois, trocando informações e
alternando papéis.
Dois quadros de 1877 (veja ao
lado), de um pomar na aldeia de
Pontoise, oferecem grandes contrastes entre as pinturas dos artistas. O grupo de árvores de Pissarro é uma miragem, trazida à vida
com pinceladas curtas e rápidas,
enquanto o de Cézanne é feito de
manchas de cor emplastadas.
A mostra foi montada de maneira que permite examinar essa
ação superficial de perto, como os
artistas teriam feito, um olhando
por cima do ombro do outro.
No final da década de 1870, a ligação entre os artistas começa a se
diluir. E quando Pissarro teve um
curto e sério flerte com o neo-impressionismo, Cézanne, sempre
disposto a sentir-se traído, fechou
a porta da amizade, sem fechá-la
para a arte inicial de Pissarro, com
a qual continuou aprendendo.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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