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Com voz e carisma, Mariza inaugura renovação do fado
Cantora nascida em Moçambique se apresenta hoje no Rio e amanhã em SP; shows tem participação de Jaques Morelenbaum
A partir de Mariza, o fado já não soa mais melancólico como nos tempos de Amália Rodrigues, maior referência do gênero português
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde que uma jovem cantora de sorriso carismático e cabelo platinado se tornou a nova
embaixadora mundial do fado,
no início da década, essa manifestação tão típica da cultura
portuguesa ganhou um fôlego
inusitado. Na voz de Mariza, o
fado já não soa mais sombrio e
melancólico como nos tempos
de Amália Rodrigues, maior referência desse gênero musical.
"Eu vejo o fado por outro
prisma. Quando estou no palco,
tenho outra forma de observar
a música e de sentir o público,
mas não deixo de estar perto da
tradição. As bases e tradições
do fado estão todas lá", diz a
cantora, que se apresenta hoje,
no Vivo Rio, e amanhã, no Tom Brasil,
em São Paulo.
Essa maneira diferente de encarar o
fado tem a ver com
as origens de Mariza. "Nasci em Moçambique, ex-colônia africana de Portugal, e cresci em
Mouraria, bairro de
Lisboa, muito perto
da tradição da música portuguesa e do
fado. De forma inconsciente, minha
mãe me mostrou
outros gêneros musicais, abriu portas
em minha mente",
relembra.
Uma dessas portas foi a da música
brasileira, que tem
acompanhado Mariza, fã de Elis Regina e Clara Nunes desde a infância. Seu próprio nome foi inspirado em
Marisa Gata Mansa, intérprete
carioca da primeira geração da
bossa nova. "Meu pai viveu um
tempo no Brasil e gostava muito dessa cantora, que eu conheço mal porque é difícil encontrar os discos dela."
Mariza tinha só cinco anos
quando começou a cantar fados
na taverna que a família abriu
em Lisboa, ao voltar da África.
"Obviamente, uma menina não
poderia cantar os fados mais
pesados, não teria bagagem para isso, mas meu pai foi me
mostrando fados mais leves,
que falam da cidade, do estar
junto e comemorar a vida."
Combinando novos autores e
mestres do gênero no repertório, Mariza só precisou de dois
álbuns "Fado em Mim" (2001)
e "Fado Curvo" (2003) para se
estabelecer como a nova diva
do fado. A consagração definitiva veio com "Transparente"
(2005), álbum que marcou o
início de sua parceria com Jaques Morelenbaum. Graças
aos arranjos e à produção do músico
carioca, o fado ganhou uma leveza
inédita.
"O Jaques tem
uma forma de estar
perante a música
que me fascina. Ele
me ajudou muito
numa época em que
eu procurava uma
sonoridade especial. Eu já cantava
muito fora de Portugal e sentia que
algumas pessoas faziam reticências ao
fado porque achavam que ele era pesado e triste. O Jaques me ajudou a
encontrar uma linguagem mais moderna", diz
Mariza, cujos discos já foram
lançados em mais de 40 países.
Morelenbaum também participa dos shows de hoje e amanhã. O repertório se baseia em
"Concerto em Lisboa" (2006),
registro em CD e DVD de uma
ótima apresentação da cantora,
já lançado no Brasil. No roteiro,
fados tradicionais de Pedro Rodrigues e Joaquim Campos
convivem com poemas de Fernando Pessoa e Florbela Espanca musicados por autores
mais novos, como Mário Pacheco e Tiago Machado.
A cantora se diverte ao lembrar que "Transparente", o álbum que deflagrou sua fase
atual, foi caracterizado por um
crítico francês como "muito
jazz", assim como um norte-americano encontrou forte influência da bossa nova nesse
trabalho.
"Já meus amigos mais puristas e tradicionalistas do fado
disseram que esse disco não poderia ser mais fadista. Acho que
cada pessoa sente o que quer
sentir", comenta rindo.
Mariza diz que ainda não sabe como será o álbum que pretende gravar no fim do ano,
mas descarta a possibilidade de
flertar com a eletrônica. "O fado que eu faço é muito orgânico, portanto a eletrônica não
está dentro dos meus horizontes. Talvez mais tarde", diz, ressaltando que não tem nada
contra quem quiser fazer a experiência. "A única coisa que
peço é que a façam prestigiando
a música, a língua e a cultura."
MARIZA
Quando: hoje, às 21h30 (Rio) amanhã,
às 22h (SP)
Onde: Vivo Rio (av. Infante Dom Henrique, 85, tel. 0/xx/21/2272-2919) e
Tom Brasil (r. Bragança Paulista,
1.281, tel. 0/xx/11/2163-2000)
Quanto: de R$ 80 a R$150 (Rio) e de
R$ 80 a R$ 160 (SP)
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