São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

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Com voz e carisma, Mariza inaugura renovação do fado

Cantora nascida em Moçambique se apresenta hoje no Rio e amanhã em SP; shows tem participação de Jaques Morelenbaum

A partir de Mariza, o fado já não soa mais melancólico como nos tempos de Amália Rodrigues, maior referência do gênero português


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde que uma jovem cantora de sorriso carismático e cabelo platinado se tornou a nova embaixadora mundial do fado, no início da década, essa manifestação tão típica da cultura portuguesa ganhou um fôlego inusitado. Na voz de Mariza, o fado já não soa mais sombrio e melancólico como nos tempos de Amália Rodrigues, maior referência desse gênero musical.
"Eu vejo o fado por outro prisma. Quando estou no palco, tenho outra forma de observar a música e de sentir o público, mas não deixo de estar perto da tradição. As bases e tradições do fado estão todas lá", diz a cantora, que se apresenta hoje, no Vivo Rio, e amanhã, no Tom Brasil, em São Paulo.
Essa maneira diferente de encarar o fado tem a ver com as origens de Mariza. "Nasci em Moçambique, ex-colônia africana de Portugal, e cresci em Mouraria, bairro de Lisboa, muito perto da tradição da música portuguesa e do fado. De forma inconsciente, minha mãe me mostrou outros gêneros musicais, abriu portas em minha mente", relembra.
Uma dessas portas foi a da música brasileira, que tem acompanhado Mariza, fã de Elis Regina e Clara Nunes desde a infância. Seu próprio nome foi inspirado em Marisa Gata Mansa, intérprete carioca da primeira geração da bossa nova. "Meu pai viveu um tempo no Brasil e gostava muito dessa cantora, que eu conheço mal porque é difícil encontrar os discos dela." Mariza tinha só cinco anos quando começou a cantar fados na taverna que a família abriu em Lisboa, ao voltar da África.
"Obviamente, uma menina não poderia cantar os fados mais pesados, não teria bagagem para isso, mas meu pai foi me mostrando fados mais leves, que falam da cidade, do estar junto e comemorar a vida." Combinando novos autores e mestres do gênero no repertório, Mariza só precisou de dois álbuns "Fado em Mim" (2001) e "Fado Curvo" (2003) para se estabelecer como a nova diva do fado. A consagração definitiva veio com "Transparente" (2005), álbum que marcou o início de sua parceria com Jaques Morelenbaum. Graças aos arranjos e à produção do músico carioca, o fado ganhou uma leveza inédita.
"O Jaques tem uma forma de estar perante a música que me fascina. Ele me ajudou muito numa época em que eu procurava uma sonoridade especial. Eu já cantava muito fora de Portugal e sentia que algumas pessoas faziam reticências ao fado porque achavam que ele era pesado e triste. O Jaques me ajudou a encontrar uma linguagem mais moderna", diz Mariza, cujos discos já foram lançados em mais de 40 países.
Morelenbaum também participa dos shows de hoje e amanhã. O repertório se baseia em "Concerto em Lisboa" (2006), registro em CD e DVD de uma ótima apresentação da cantora, já lançado no Brasil. No roteiro, fados tradicionais de Pedro Rodrigues e Joaquim Campos convivem com poemas de Fernando Pessoa e Florbela Espanca musicados por autores mais novos, como Mário Pacheco e Tiago Machado. A cantora se diverte ao lembrar que "Transparente", o álbum que deflagrou sua fase atual, foi caracterizado por um crítico francês como "muito jazz", assim como um norte-americano encontrou forte influência da bossa nova nesse trabalho.
"Já meus amigos mais puristas e tradicionalistas do fado disseram que esse disco não poderia ser mais fadista. Acho que cada pessoa sente o que quer sentir", comenta rindo.
Mariza diz que ainda não sabe como será o álbum que pretende gravar no fim do ano, mas descarta a possibilidade de flertar com a eletrônica. "O fado que eu faço é muito orgânico, portanto a eletrônica não está dentro dos meus horizontes. Talvez mais tarde", diz, ressaltando que não tem nada contra quem quiser fazer a experiência. "A única coisa que peço é que a façam prestigiando a música, a língua e a cultura."


MARIZA
Quando:
hoje, às 21h30 (Rio) amanhã, às 22h (SP)
Onde: Vivo Rio (av. Infante Dom Henrique, 85, tel. 0/xx/21/2272-2919) e Tom Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281, tel. 0/xx/11/2163-2000)
Quanto: de R$ 80 a R$150 (Rio) e de R$ 80 a R$ 160 (SP)



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