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Rita Ribeiro coloca o Maranhão no tabuleiro
Cantora maranhense lança "Pérolas aos Povos" em que canta músicas de antigos e novos compositores
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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O Maranhão tem voz outra vez.
Ao estrear numa grande gravadora
-e lançar seu segundo CD, "Pérolas aos Povos"-, a cantora Rita
Ribeiro, 33, recoloca a música maranhense no mapa musical do país.
Com poucos nomes de projeção
nacional -João do Vale e Alcione
entre eles-, o Estado tem hoje em
Zeca Baleiro e Rita Ribeiro autor e
intérprete, ainda que os rejeitasse
quando eles ainda moravam lá.
Migrantes em São Paulo desde o
início da década, só tiveram caminho aberto após o advento do paraibano Chico César, que restabeleceu na cena nacional uma MPB
de cunho algo regionalista.
Paciente -"aprendi fazendo faculdade de enfermagem"-, Rita
entra na tal MPB como porta-voz
da música maranhense -interpreta desde o veterano e quase desconhecido Antônio Vieira até Zeca
Baleiro- e do underground -no
novo CD, apresenta Natalia Mallo,
Isla Jay e Vânia Borges.
Em entrevista à Folha, a também
underground (ainda) Rita Ribeiro
conta sua história.
ONDE, QUANDO, COMO, POR
QUÊ - "Vou cantar um trecho da
música do Itamar Assumpção: "Eu
sou do Maranhão/ Vim ao mundo
pra cantar/ É bumba, reggae,
baião/ Salsa, blues, jazz, cha-cha-cha" (ri). Sou do interior, de São
Benedito do Rio Preto, mas fui
criada na ilha mesmo, na periferia.
Aos 8 anos, morava na Cohab, ouvia reggae a noite inteira, deitada
na cama, o baixo batendo no peito.
Música para mim era uma coisa
quase inviável. Tentei fazer medicina, mas fiquei na segunda opção
-entrei em enfermagem, cheguei
a fazer veterinária também. Não
terminei nada, não tinha a ver.
No contato com a universidade,
passei a me envolver com movimentos culturais na cidade. Cantei
e dancei com grupos folclóricos e
fiz meu primeiro show em 1989,
com direção do Zeca Baleiro.
Cantava com ele em bares, os caras implicavam porque o repertório era equivocado para eles. Aí casei e mudei para São Paulo com o
marido. Fui recepcionista de escola de autista, gerente de loja de
shopping, cantei em cantina.
Enquanto isso, comecei a estudar
canto com Ná Ozzetti e Madalena
Bernardes. Fiquei três anos, estudando mesmo. Sou estudiosa."
CHICO, ZECA - "Chico César estava aqui fazia mais tempo, foi
quem começou tudo. Ele morava
com Zeca, e eu, do outro lado da
rua. Vamos nos reencontrar agora
no festival de Montreux, mas hoje
a gente se vê muito menos. Por isso
não dá para entrar numa viagem
de "neotropicalistas". Hoje impera
um individualismo real, assumido.
É uma perda, contato com pessoas
que criam faz falta."
PRIMEIRO DISCO - "Depois de
montar banda, fazer show, o passo
seguinte era fazer uma demo. Viabilizei com minha família, já os tinha convencido que não tinha jeito, que eu ia ser uma cantora. Zeca
produziu e estava fazendo o dele
no mesmo lugar e ao mesmo tempo. Fui atrás das gravadoras, e a
primeira porta em que bati, da Velas, se abriu. Cansei de ouvir reclamações, que ninguém encontrava
o disco nas lojas. A repercussão foi
porque o bicho foi embora, o CD
falou sozinho."
NEOTROPICALISTA - "Eu não
me identifico como a Gal do ano
2000 de jeito nenhum. É um equívoco. Chico tem, mesmo, um certo
culto ao movimento tropicalista,
mas minha história não é tanto assim. Antes de ouvir Caetano e Gil,
eu ouvia Lindomar Castilho e Waldick Soriano. Não tinha facilidade
para ter disco em casa; a música da
rua foi minha maior escola. Vivia
nos terreiros de umbanda, bumba-meu-boi, tambor de crioula."
SEGUNDO DISCO - "Mazzola
(diretor da nova gravadora) achava que eu não tinha repertório, até
pensou em fazer um disco ao vivo.
Mas constatei que não estava madura. Quando mostrava os autores
novos, ele quase dava um treco,
mas deixou. Questionou muito,
mas investiu no risco. Não quero
dar passo maior que a perna, a palavra de ordem desse disco é continuidade. Sou contra essa pressa
desesperada, de ter que mudar se
não acontecer agora. Mas também
sei que, se um disco desses não
funciona, coitadinha da nega!"
NOVOS AUTORES - "Erasmo Dibel, autor de "Filhos da Precisão", é
do interior do Maranhão, de Imperatriz. Ele começou a aparecer na
cena musical de São Luís e caiu no
gosto local, quando eu já estava em
São Paulo. É meu desejo de ouvir
uma música com minha voz nos
salões de reggae de São Luís.
Natalia Mallo é uma argentina
que conheci aqui em São Paulo. Ela
canta em português, sem sotaque,
é alucinada por MPB. Gosto da
música ("Déjà Vu'), me lembra
Jackson Five, a letra nem tanto
particularmente...
Isla Jay (autora da faixa-título) é
importantíssima na minha carreira. É fotógrafa e artista plástica, foi
ela quem inventou os "pitós" da minha cabeça. A gravadora não queria, mas foi um diferencial, todas
as cantoras tinham capas na estética de cabelos esvoaçantes, nordestinas ao vento. Falei: "Não vai ser
possível". Rolou o impacto, mesmo
que algumas pessoas digam: "Que
diabo de mulher horrível!" (risos)."
VELHOS AUTORES - "Antônio
Vieira é um grande sambista, tem
80 anos e sonha viver como músico. É aposentado, vive de bico, mas
é um sonhador, uma criança. Aí
você vê a burrice de um Estado que
não percebe o que tem, não dá valor. Há outros muitos lá.
São coisas que tenho vontade de
fazer, um disco com a velha guarda
do Maranhão e um com João do
Vale. Tenho material para três discos só de Antônio Vieira. Não precisa arreganhar a bunda para nada,
ele é sutil."
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