São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Devagar, a cantora está chegando lá

da Reportagem Local
Esqueça ambições louras e morenas. O projeto, aqui, é de calma e de carreira. Quem conhece Rita Ribeiro do primeiro disco (1997) sabe que é cantora virtuose, estudiosa, que gosta de encher de fibra interpretações de autores jovens e/ ou conterrâneos, de temas tradicionais, da obscura velha guarda de seu Estado natal, de poesia firme, de reggaes, até de ídolos bregas como Márcio Greyck.
Em "Pérolas aos Povos" é exatamente essa fórmula que ela repete. Se desagradar à velocidade do tempo, é só porque a necessidade de velocidade ficou caduca. Se Rita Ribeiro prosperar, talvez a nova MPB comprove, uma vez mais, que a pressa é inimiga da perfeição.
Então é assim. Ela está cantando muito, a ponto de disputar com folga o posto de melhor nova cantora brasileira. Quando enfrenta novos autores, é sua interpretação que dá sentido a composições ainda bastante inconsistentes.
Quando enfrenta Zeca Baleiro, Carlos Careqa, Chico César, Raul Seixas, Jorge Ben Jor ou Antônio Vieira, arrasa o quarteirão inteiro.
O tradicionalismo, de novo, rende o que há de mais espetacular no canto da moça. Em "Mana Chica", cantiga de bailado de escravos do século 18, entra em transe como já entrara em "Jurema".
"Banho Cheiroso", do octagenário Antônio Vieira (responsável, no primeiro disco, por "Cocada" e "Tem Quem Queira"), fala por si: "Você deve tomar/ Banho cheiroso/ Pra acabar com essa mofina/ E o corpo ficar jeitoso".
No dia em que a cantora decidir gravar um disco só de sambas de seu Vieira, o Brasil acordará ensolarado.
Poesia firme? Em mais inéditas, Zeca Baleiro prova estar apurando a qualidade de quase solitário poeta musical dos 90. Tristíssimas, "Muzak" e "Mambo da Dor" estão aí para provar. "Tremor, febre, frio/ Suor, arrepio/ Corte, tapa, tiro/ Só dói se respiro", chora o "Mambo da Dor".
Chico César segue de perto, na coquete "Pensar em Você"; Carlos Careqa, de muito perto, em "Eclipse em Meia-Lua" (de autoria dele, de Arrigo Barnabé e de Adriano Sátiro), prosseguimento da temática de "Cortei o Dedo", outra jóia do CD de estréia.
Se o envelhecido reggae é pedra de responsa no Maranhão, aqui satura o ambiente. Melodias favorecem "Filhos da Precisão" e "Há Mulheres", e o rapper Thaíde anarquiza versão jamaicana de "Vendedor de Bananas" (Jorge Ben), mas "Pérolas aos Povos", com letra de "leite, leite, leite", não tem muita salvação.
Por fim, a breguice. "Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesma" é de Raul Seixas -não do roqueiro, mas sim do cafonão produtor de pós-jovem guarda e pré-fama. Era cantada por (!) Núbia Lafayette e aqui é tratada como Marisa Monte trataria Tom Jobim. Sem pejo.
Esquemático? Rita apostou na mesmice, dirão alguns. Pode ser, mas ela sabe que, como dizia Jorge Ben e cantava Elis Regina, "devagar se vai ao longe, devagar eu chego lá". Já está indo, já está chegando. (PAS)



Avaliação:    


Disco: Pérolas aos Povos
Artista: Rita Ribeiro
Lançamento: MZA/Universal
Quanto: R$ 18, em média


Texto Anterior: Rita Ribeiro coloca o Maranhão no tabuleiro
Próximo Texto: Estranheza move disco
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.