|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Devagar, a cantora está chegando lá
da Reportagem Local
Esqueça ambições louras e morenas. O projeto, aqui, é de calma e
de carreira. Quem conhece Rita Ribeiro do primeiro disco (1997) sabe que é cantora virtuose, estudiosa, que gosta de encher de fibra interpretações de autores jovens e/
ou conterrâneos, de temas tradicionais, da obscura velha guarda
de seu Estado natal, de poesia firme, de reggaes, até de ídolos bregas
como Márcio Greyck.
Em "Pérolas aos Povos" é exatamente essa fórmula que ela repete.
Se desagradar à velocidade do tempo, é só porque a necessidade de
velocidade ficou caduca. Se Rita
Ribeiro prosperar, talvez a nova
MPB comprove, uma vez mais, que
a pressa é inimiga da perfeição.
Então é assim. Ela está cantando
muito, a ponto de disputar com
folga o posto de melhor nova cantora brasileira. Quando enfrenta
novos autores, é sua interpretação
que dá sentido a composições ainda bastante inconsistentes.
Quando enfrenta Zeca Baleiro,
Carlos Careqa, Chico César, Raul
Seixas, Jorge Ben Jor ou Antônio
Vieira, arrasa o quarteirão inteiro.
O tradicionalismo, de novo, rende o que há de mais espetacular no
canto da moça. Em "Mana Chica",
cantiga de bailado de escravos do
século 18, entra em transe como já
entrara em "Jurema".
"Banho Cheiroso", do octagenário Antônio Vieira (responsável,
no primeiro disco, por "Cocada" e
"Tem Quem Queira"), fala por si:
"Você deve tomar/ Banho cheiroso/ Pra acabar com essa mofina/ E
o corpo ficar jeitoso".
No dia em que a cantora decidir
gravar um disco só de sambas de
seu Vieira, o Brasil acordará ensolarado.
Poesia firme? Em mais inéditas,
Zeca Baleiro prova estar apurando
a qualidade de quase solitário poeta musical dos 90. Tristíssimas,
"Muzak" e "Mambo da Dor" estão
aí para provar. "Tremor, febre,
frio/ Suor, arrepio/ Corte, tapa, tiro/ Só dói se respiro", chora o
"Mambo da Dor".
Chico César segue de perto, na
coquete "Pensar em Você"; Carlos
Careqa, de muito perto, em "Eclipse em Meia-Lua" (de autoria dele,
de Arrigo Barnabé e de Adriano
Sátiro), prosseguimento da temática de "Cortei o Dedo", outra jóia
do CD de estréia.
Se o envelhecido reggae é pedra
de responsa no Maranhão, aqui satura o ambiente. Melodias favorecem "Filhos da Precisão" e "Há
Mulheres", e o rapper Thaíde anarquiza versão jamaicana de "Vendedor de Bananas" (Jorge Ben),
mas "Pérolas aos Povos", com letra
de "leite, leite, leite", não tem muita salvação.
Por fim, a breguice. "Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesma" é
de Raul Seixas -não do roqueiro,
mas sim do cafonão produtor de
pós-jovem guarda e pré-fama. Era
cantada por (!) Núbia Lafayette e
aqui é tratada como Marisa Monte
trataria Tom Jobim. Sem pejo.
Esquemático? Rita apostou na
mesmice, dirão alguns. Pode ser,
mas ela sabe que, como dizia Jorge
Ben e cantava Elis Regina, "devagar se vai ao longe, devagar eu chego lá". Já está indo, já está chegando.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Pérolas aos Povos
Artista: Rita Ribeiro
Lançamento: MZA/Universal
Quanto: R$ 18, em média
Texto Anterior: Rita Ribeiro coloca o Maranhão no tabuleiro Próximo Texto: Estranheza move disco Índice
|