São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2000


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Seis conselheiros se afastam da Fundação Bienal

CELSO FIORAVANTE
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise na Fundação Bienal, que teve início em fevereiro deste ano (leia quadro ao lado), teve ontem um novo lance: seis conselheiros anunciaram renúncia, o vice-presidente, Jens Olesen, renunciou ao seu cargo de vice (mas não ao de conselheiro) e o curador Ivo Mesquita pediu demissão.
"A razão detonadora dessa atitude foi a farsa da última ata, confeccionada por Pedro Corrêa do Lago, que não corresponde à verdade da última reunião do Conselho e nem às decisões tomadas ali, em 10 de julho", afirmou Milú Villela, que, até ontem, era candidata a substituir Carlos Bratke, o atual presidente da Fundação Bienal.
Além de Milú, os conselheiros que renunciaram são Jorge da Cunha Lima, Stella Teixeira de Barros, Lúcio Gomes Machado, Edgardo Pires Ferreira e Luiz Seraphico, também presidente do Conselho da Fundação Bienal.
Milú disse que o grupo colocaria hoje anúncios nos principais jornais do país anunciando a decisão pelo afastamento da instituição.
"A minoria de seis conselheiros que agora renuncia o faz por perda de espaço político, usando como pretexto uma discordância com minha ata", afirmou o conselheiro Pedro Corrêa do Lago. Para ele, "a exatidão da minha ata é comprovada pelos 14 conselheiros que assinam a convocação, maioria absoluta dos presentes à reunião que secretariei".
A discordância entre os conselheiros acirrou-se na reunião do último dia 7.
O grupo que agora renuncia afirma que Bratke e Seraphico pediram demissão de seus cargos na reunião, o que chegou a ser confirmado por Bratke em entrevista à Folha.
Mas, na última semana, a ata apresentada por Corrêa do Lago não marca eleições para o dia 7, apenas convoca a reunião para, em termos genéricos, "decidir a respeito dos cargos colocados à disposição".
O promotor Paulo José de Palma, curador de fundações, lamentou a renúncia dos conselheiros.
"Eles poderiam ter tentado resolver essa questão internamente, pois acusavam a manipulação da ata, o que seria um crime. Com esse ato, eles perdem a possibilidade de contestação", afirmou.
Segundo o promotor, com a renúncia de Seraphico, o seu vice, Mendel Aronis, deve assumir, e novas eleições devem ser convocadas em até 20 dias. Os demais cargos vagos dos conselheiros também poderão ser substituídos já nessa reunião.
Outro dos demissionários, o conselheiro Jorge da Cunha Lima, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, disse que "a finalidade da Bienal é produzir um dos mais importantes eventos de artes plásticas do mundo, mas, em vez de discutir isso, fica perdendo tempo com questões pequenas. Por isso acho melhor não ficar".
"Lá na Bienal não existe discussão. Quatro pessoas decidem tudo. É assim que ela funciona. Não dá para fazer parte de um conselho manipulado. Mas não existe raiva ou frustração. Essa atitude vai ajudar a repensar o modelo de funcionamento da Bienal, que perdeu seu foco de atuação", contou Milú Villela.
Mesmo assim, ela acena com a eventualidade de um retorno. "Voltar só seria possível se a Bienal for repensada da maneira que queremos. Atualmente não são discutidos os objetivos reais da instituição, pois ali há muita política de interesses pessoais", afirmou Milú.
A conselheira Stella Teixeira de Barros aponta Bratke como o culpado da crise. "Ele colocou lenha na fogueira em vez de tentar conciliar. Além do mais, dizia que não tinha tempo para cuidar do projeto cultural da Bienal", disse.
Procurados pela Folha, o presidente da Bienal, Carlos Bratke, e o presidente do conselho, Luiz Seraphico, não foram encontrados.


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