|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Seis conselheiros se afastam da Fundação Bienal
CELSO FIORAVANTE
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise na Fundação Bienal, que
teve início em fevereiro deste ano
(leia quadro ao lado), teve ontem
um novo lance: seis conselheiros
anunciaram renúncia, o vice-presidente, Jens Olesen, renunciou
ao seu cargo de vice (mas não ao
de conselheiro) e o curador Ivo
Mesquita pediu demissão.
"A razão detonadora dessa atitude foi a farsa da última ata, confeccionada por Pedro Corrêa do
Lago, que não corresponde à verdade da última reunião do Conselho e nem às decisões tomadas ali,
em 10 de julho", afirmou Milú Villela, que, até ontem, era candidata a substituir Carlos Bratke, o
atual presidente da Fundação Bienal.
Além de Milú, os conselheiros
que renunciaram são Jorge da Cunha Lima, Stella Teixeira de Barros, Lúcio Gomes Machado, Edgardo Pires Ferreira e Luiz Seraphico, também presidente do
Conselho da Fundação Bienal.
Milú disse que o grupo colocaria hoje anúncios nos principais
jornais do país anunciando a decisão pelo afastamento da instituição.
"A minoria de seis conselheiros
que agora renuncia o faz por perda de espaço político, usando como pretexto uma discordância
com minha ata", afirmou o conselheiro Pedro Corrêa do Lago. Para
ele, "a exatidão da minha ata é
comprovada pelos 14 conselheiros que assinam a convocação,
maioria absoluta dos presentes à
reunião que secretariei".
A discordância entre os conselheiros acirrou-se na reunião do
último dia 7.
O grupo que agora renuncia
afirma que Bratke e Seraphico pediram demissão de seus cargos na
reunião, o que chegou a ser confirmado por Bratke em entrevista
à Folha.
Mas, na última semana, a ata
apresentada por Corrêa do Lago
não marca eleições para o dia 7,
apenas convoca a reunião para,
em termos genéricos, "decidir a
respeito dos cargos colocados à
disposição".
O promotor Paulo José de Palma, curador de fundações, lamentou a renúncia dos conselheiros.
"Eles poderiam ter tentado resolver essa questão internamente,
pois acusavam a manipulação da
ata, o que seria um crime. Com
esse ato, eles perdem a possibilidade de contestação", afirmou.
Segundo o promotor, com a renúncia de Seraphico, o seu vice,
Mendel Aronis, deve assumir, e
novas eleições devem ser convocadas em até 20 dias. Os demais
cargos vagos dos conselheiros
também poderão ser substituídos
já nessa reunião.
Outro dos demissionários, o
conselheiro Jorge da Cunha Lima, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, disse que "a
finalidade da Bienal é produzir
um dos mais importantes eventos de artes plásticas do mundo,
mas, em vez de discutir isso, fica
perdendo tempo com questões
pequenas. Por isso acho melhor
não ficar".
"Lá na Bienal não existe discussão. Quatro pessoas decidem tudo. É assim que ela funciona. Não
dá para fazer parte de um conselho manipulado. Mas não existe
raiva ou frustração. Essa atitude
vai ajudar a repensar o modelo de
funcionamento da Bienal, que
perdeu seu foco de atuação", contou Milú Villela.
Mesmo assim, ela acena com a
eventualidade de um retorno.
"Voltar só seria possível se a Bienal for repensada da maneira que
queremos. Atualmente não são
discutidos os objetivos reais da
instituição, pois ali há muita política de interesses pessoais", afirmou Milú.
A conselheira Stella Teixeira de
Barros aponta Bratke como o culpado da crise. "Ele colocou lenha
na fogueira em vez de tentar conciliar. Além do mais, dizia que
não tinha tempo para cuidar do
projeto cultural da Bienal", disse.
Procurados pela Folha, o presidente da Bienal, Carlos Bratke, e o
presidente do conselho, Luiz Seraphico, não foram encontrados.
Texto Anterior: Crítica: Marisa Monte é garota papo-firme de seu tempo Próximo Texto: Curador Ivo Mesquita pede demissão Índice
|