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LITERATURA
"Cadernos de Literatura Brasileira" é dedicado desta vez ao escritor que completa 65 anos na próxima terça
Alheio a si, autor reflete "outro Ignácio"
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ignácio de Loyola Brandão
completa 65 anos na terça. "Quer
me ver feliz me dá um caderno",
diz o autor paulista, que usa computador, mas ama escrever à mão.
Adivinharam: ainda que não se
trate de um exemplar com folhas
brancas para encher de histórias e
dos rabiscos que faz enquanto
conversa, na segunda, Loyola
Brandão ganha de presente o 11º
número dos "Cadernos de Literatura Brasileira", publicação que o
Instituto Moreira Salles dedica semestralmente a um escritor.
O autor de "Não Verás País Nenhum" (1981), que começou a
carreira na redação do jornal "Última Hora", se acostumou a ser
observador da vida cotidiana, de
cujos fatos já tirou subsídios para
21 títulos. Agora, Loyola Brandão
passa a observado. Ou a observador, de novo, mas de si mesmo.
"É estranho se olhar assim", diz,
à Folha, na sala da revista "Vogue", cuja redação dirige. No retrato na capa da publicação, em
que aparece sorrindo -fato raro,
diz, não porque seja sisudo, mas
porque sorri quando quer, "não
quando mandam".
"Não é um livro meu, não é uma
entrevista para revista. É um pouco da vida. De repente te envolveram assim, te aprisionaram." E
explica logo que, sim, gosta: "É
claro que é uma coisa boa, gostosa, meio acaricia a gente".
E quando ele se olha "assim",
com a vida retratada pelos depoimentos de amigos, em fotos de arquivo, pelo "olhar dos outros",
como é o Ignácio que surge? "Difícil dizer, ainda não assimilei."
Loyola Brandão repara que é
um pouco como se alhear de si. "É
a visão deles, que bate um pouco
com a minha, mas às vezes não."
"A memória seleciona coisas",
continua, citando o primeiro depoimento, de José Celso Martinez
Corrêa, amigo desde a infância
em Araraquara. Do escrito do diretor teatral, Loyola Brandão ressalta lembranças apagadas.
"Ele fala, por exemplo, de uma
surra que levou da mãe na minha
frente." E conclui que os depoimentos -de sua primeira incentivadora estrangeira, a professora
italiana Luciana Stegagno Picchio; do ficcionista Antônio Torres; e dos jornalistas Dorian Jorge
Freire de Andrade e Arley Pereira
Gomes de Oliveira- lhe devolvem "um outro Ignácio".
Completam o volume uma cronologia, a entrevista concedida
aos editores do caderno e mais
cinco colaboradores, ensaios sobre diversos aspectos da obra do
homenageado, lista de publicações e trechos do romance inédito
de Loyola Brandão, "O Anônimo", além de fotos que retratam
São Paulo, onde o escritor mora,
Araraquara, onde nasceu, e Berlim, onde viveu entre 82 e 83.
CADERNOS DE LITERATURA
BRASILEIRA - IGNÁCIO DE LOYOLA
BRANDÃO - Depoimentos, trechos de
escritos e entrevista com o
homenageado, com fotos de Eduardo
Simões e Renate von Mangoldt. Editora:
Instituto Moreira Salles (tel. 0/xx/11/
3371-4455; www.ims.com.br). R$ 25
(184 págs.). Lançamento: segunda, 30/7,
às 19h, no Unibanco Arteplex (r. Frei
Caneca, 569, 3º piso), com abertura de
mostra de fotos do caderno.
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