São Paulo, sábado, 28 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

"Cadernos de Literatura Brasileira" é dedicado desta vez ao escritor que completa 65 anos na próxima terça

Alheio a si, autor reflete "outro Ignácio"

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ignácio de Loyola Brandão completa 65 anos na terça. "Quer me ver feliz me dá um caderno", diz o autor paulista, que usa computador, mas ama escrever à mão.
Adivinharam: ainda que não se trate de um exemplar com folhas brancas para encher de histórias e dos rabiscos que faz enquanto conversa, na segunda, Loyola Brandão ganha de presente o 11º número dos "Cadernos de Literatura Brasileira", publicação que o Instituto Moreira Salles dedica semestralmente a um escritor.
O autor de "Não Verás País Nenhum" (1981), que começou a carreira na redação do jornal "Última Hora", se acostumou a ser observador da vida cotidiana, de cujos fatos já tirou subsídios para 21 títulos. Agora, Loyola Brandão passa a observado. Ou a observador, de novo, mas de si mesmo.
"É estranho se olhar assim", diz, à Folha, na sala da revista "Vogue", cuja redação dirige. No retrato na capa da publicação, em que aparece sorrindo -fato raro, diz, não porque seja sisudo, mas porque sorri quando quer, "não quando mandam".
"Não é um livro meu, não é uma entrevista para revista. É um pouco da vida. De repente te envolveram assim, te aprisionaram." E explica logo que, sim, gosta: "É claro que é uma coisa boa, gostosa, meio acaricia a gente".
E quando ele se olha "assim", com a vida retratada pelos depoimentos de amigos, em fotos de arquivo, pelo "olhar dos outros", como é o Ignácio que surge? "Difícil dizer, ainda não assimilei."
Loyola Brandão repara que é um pouco como se alhear de si. "É a visão deles, que bate um pouco com a minha, mas às vezes não."
"A memória seleciona coisas", continua, citando o primeiro depoimento, de José Celso Martinez Corrêa, amigo desde a infância em Araraquara. Do escrito do diretor teatral, Loyola Brandão ressalta lembranças apagadas.
"Ele fala, por exemplo, de uma surra que levou da mãe na minha frente." E conclui que os depoimentos -de sua primeira incentivadora estrangeira, a professora italiana Luciana Stegagno Picchio; do ficcionista Antônio Torres; e dos jornalistas Dorian Jorge Freire de Andrade e Arley Pereira Gomes de Oliveira- lhe devolvem "um outro Ignácio".
Completam o volume uma cronologia, a entrevista concedida aos editores do caderno e mais cinco colaboradores, ensaios sobre diversos aspectos da obra do homenageado, lista de publicações e trechos do romance inédito de Loyola Brandão, "O Anônimo", além de fotos que retratam São Paulo, onde o escritor mora, Araraquara, onde nasceu, e Berlim, onde viveu entre 82 e 83.


CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - Depoimentos, trechos de escritos e entrevista com o homenageado, com fotos de Eduardo Simões e Renate von Mangoldt. Editora: Instituto Moreira Salles (tel. 0/xx/11/ 3371-4455; www.ims.com.br). R$ 25 (184 págs.). Lançamento: segunda, 30/7, às 19h, no Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569, 3º piso), com abertura de mostra de fotos do caderno.



Texto Anterior: Cinema: Festival de Veneza anuncia seleção
Próximo Texto: Artigo - Carlos Fuentes: Aspectos do romance latino-americano
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.