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Música cubana protagoniza longa de Andy Garcia
Ator americano de origem cubana volta à direção com tributo à cultura da ilha, tendo a revolução como cenário
Com roteiro de Guillermo Cabrera Infante, filme é pontuado por vários ritmos locais, pesquisados ao longo de 16 anos por Garcia
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quarto filme de Andy Garcia
como diretor, mas seu primeiro
longa-metragem ficcional, "A
Cidade Perdida", que estréia
hoje, retrata Havana, sua cidade natal, em 1958, na dura transição entre os regimes de dois
ditadores: Fulgencio Batista e
Fidel Castro.
Mas se engana quem acha
que a política está em primeiro
plano: "A real motivação para o
filme foi fazer um tributo à música e à cultura de Cuba, voltando o olhar para este momento
específico em que houve uma
mudança dramática na ideologia do país, algo que separou
muitas famílias", diz à Folha
Garcia, que faz o protagonista e
assina a trilha sonora de "A Cidade Perdida".
"Sou um produto desta história, sempre tive uma nostalgia profunda da cultura deste
país que deixei quando ainda
era uma criança. Daí o objetivo
do filme ser contar essa história usando a música como seu
protagonista."
Garcia, 50, tinha pouco mais
de cinco anos quando sua família fugiu de Cuba para se exilar
em Miami, em 1961.
De modo parecido, o empresário da noite Fico Fellove, seu
personagem principal, deixa
Havana em direção a Nova
York, pouco depois de Castro
subir ao poder.
Filho de uma família da elite
cubana (relativamente influente, como a de Garcia), Fellove
vê dois de seus irmãos se aliarem ao diretório revolucionário, perde sua casa de shows
-palco da homenagem de Garcia à cultura cubana- e fica
sem saída, salvo o exílio.
"Ficou insuportável viver lá,
os nossos direitos estavam sendo tomados, não havia limites
para o regime totalitário, era
uma circunstância em que meu
pai não queria ver seus filhos
crescendo", conta o diretor.
Com roteiro do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), "A Cidade Perdida" foi um projeto acalentado por longos 16 anos. O filme
apresenta uma Havana embalada por mambos, rumbas e boleros, ritmos que Garcia pesquisou ao longo de anos e que
foram tema de seus filmes anteriores, como "Cachao... Como Su Ritmo No Hay Dos", documentário sobre o músico Israel Lopez "Cachao".
Dos pontos de vista social e
político, a cidade aparece paralisada entre dois regimes totalitários.
"Não sou pessimista quanto
ao futuro, porque se fosse estaria abrindo mão da esperança.
Mas sou realista. A revolução
de Castro tinha como promessa restaurar a Constituição e a
democracia. Mas esta promessa foi traída pelo próprio Castro e este regime está aí por
mais de 47 anos. No entanto
acho que a democracia voltará
à ilha. Eu ainda espero e rezo
para que isso aconteça."
Futuro
Em duas semanas, Garcia
volta aos sets para filmar
"Ocean's Thirteen", mais uma
continuação de "Onze Homens
e um Segredo", sob a direção de
Steven Soderbergh. Como diretor, ele tem outros projetos na
manga, não necessariamente
sobre Cuba, e certamente com
muita música. "É algo com que
estou sempre envolvido."
Sem pisar em Cuba desde
1993, quando esteve em Guantánamo, Garcia não arrisca prever o futuro político de seu país,
após a morte de Fidel Castro.
"Não tenho uma bola de cristal. Mas espero que o país restaure a Constituição. A situação, no entanto, é imprevisível.
Tem havido uma repressão
muito forte, com a prisão dos
dissidentes. A falta de liberdade
e o desrespeito aos direitos humanos me preocupam. Não há
imprensa livre, partidos políticos e vozes alternativas."
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