São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Música cubana protagoniza longa de Andy Garcia

Ator americano de origem cubana volta à direção com tributo à cultura da ilha, tendo a revolução como cenário

Com roteiro de Guillermo Cabrera Infante, filme é pontuado por vários ritmos locais, pesquisados ao longo de 16 anos por Garcia


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quarto filme de Andy Garcia como diretor, mas seu primeiro longa-metragem ficcional, "A Cidade Perdida", que estréia hoje, retrata Havana, sua cidade natal, em 1958, na dura transição entre os regimes de dois ditadores: Fulgencio Batista e Fidel Castro.
Mas se engana quem acha que a política está em primeiro plano: "A real motivação para o filme foi fazer um tributo à música e à cultura de Cuba, voltando o olhar para este momento específico em que houve uma mudança dramática na ideologia do país, algo que separou muitas famílias", diz à Folha Garcia, que faz o protagonista e assina a trilha sonora de "A Cidade Perdida".
"Sou um produto desta história, sempre tive uma nostalgia profunda da cultura deste país que deixei quando ainda era uma criança. Daí o objetivo do filme ser contar essa história usando a música como seu protagonista."
Garcia, 50, tinha pouco mais de cinco anos quando sua família fugiu de Cuba para se exilar em Miami, em 1961.
De modo parecido, o empresário da noite Fico Fellove, seu personagem principal, deixa Havana em direção a Nova York, pouco depois de Castro subir ao poder.
Filho de uma família da elite cubana (relativamente influente, como a de Garcia), Fellove vê dois de seus irmãos se aliarem ao diretório revolucionário, perde sua casa de shows -palco da homenagem de Garcia à cultura cubana- e fica sem saída, salvo o exílio.
"Ficou insuportável viver lá, os nossos direitos estavam sendo tomados, não havia limites para o regime totalitário, era uma circunstância em que meu pai não queria ver seus filhos crescendo", conta o diretor.
Com roteiro do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), "A Cidade Perdida" foi um projeto acalentado por longos 16 anos. O filme apresenta uma Havana embalada por mambos, rumbas e boleros, ritmos que Garcia pesquisou ao longo de anos e que foram tema de seus filmes anteriores, como "Cachao... Como Su Ritmo No Hay Dos", documentário sobre o músico Israel Lopez "Cachao".
Dos pontos de vista social e político, a cidade aparece paralisada entre dois regimes totalitários.
"Não sou pessimista quanto ao futuro, porque se fosse estaria abrindo mão da esperança. Mas sou realista. A revolução de Castro tinha como promessa restaurar a Constituição e a democracia. Mas esta promessa foi traída pelo próprio Castro e este regime está aí por mais de 47 anos. No entanto acho que a democracia voltará à ilha. Eu ainda espero e rezo para que isso aconteça."

Futuro
Em duas semanas, Garcia volta aos sets para filmar "Ocean's Thirteen", mais uma continuação de "Onze Homens e um Segredo", sob a direção de Steven Soderbergh. Como diretor, ele tem outros projetos na manga, não necessariamente sobre Cuba, e certamente com muita música. "É algo com que estou sempre envolvido."
Sem pisar em Cuba desde 1993, quando esteve em Guantánamo, Garcia não arrisca prever o futuro político de seu país, após a morte de Fidel Castro.
"Não tenho uma bola de cristal. Mas espero que o país restaure a Constituição. A situação, no entanto, é imprevisível. Tem havido uma repressão muito forte, com a prisão dos dissidentes. A falta de liberdade e o desrespeito aos direitos humanos me preocupam. Não há imprensa livre, partidos políticos e vozes alternativas."


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