São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Crítica

Garcia cria personagens caricaturais em pretensioso longa épico de estréia

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Nascido em Havana, Andy Garcia mudou-se aos cinco anos para Miami. Acompanhou a família, que fugia de Fidel Castro. Suas contas sentimentais e políticas a acertar com Cuba e os revolucionários de Sierra Maestra estão na essência de "A Cidade Perdida", seu primeiro longa de ficção como diretor.
Outro cubano, o escritor Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), assina o roteiro, de ambições épicas. Começamos em 1958, quando a família Fellove ainda goza de fortuna e prestígio em Havana. Sua jóia é uma boate, El Trópico, administrada por Fico (Garcia), o mais velho dos três filhos de Don Federico (Tomas Milian).
Como se não bastasse a instabilidade vinda de fora do núcleo familiar, os outros dois filhos (Nestor Carbonell e Enrique Murciano) são seduzidos, por grupos e métodos diferentes, a lutar pela derrubada do ditador Fulgencio Batista. E, para complicar, um mafioso (Dustin Hoffman) quer se associar aos negócios dos Fellove.
Fico terá de lidar simultaneamente com todos esses desafios - manter a família unida apesar das divergências, usar as conexões com o governo para salvar os irmãos, cuidar da tristeza dos pais, impedir que a boate feche. Um bobo da corte (Bill Murray) o acompanha.
São mais de duas horas de amargura por tudo o que significa, para Fico, a "cidade perdida" do título. Há um flagrante descompasso, no entanto, entre o ar solene que se procura dar à sua trajetória e o desenho rasteiro, terrivelmente convencional, dos personagens e seus dramas.
Outra fragilidade é a da leitura política. O problema não é ser anticastrista, mas como ser. O olhar do filme para a revolução, Fidel e Che, bem como para Batista e sua polícia, parece involuntariamente caricatural, em uma tentativa de destruir mitos sem ter nada de consistente para pôr no lugar.


A CIDADE PERDIDA  
Direção: Andy Garcia
Produção: EUA, 2005
Com: Andy Garcia, Bill Murray, Dustin Hoffman, Inés Sastre
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Reserva Cultural e circuito


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