São Paulo, Quarta-feira, 28 de Julho de 1999
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PARTIDO ALTO
Nobre bebe na fonte pura do samba

BRUNO GARCEZ
da "Revista da Hora"


À primeira vista, o carioca Dudu Nobre, 25, mais se parece com um integrante do Run DMC: camiseta Nike, casaco esportivo, calças largas e correntes de ouro no pescoço. Ele até gosta de funk e de rap, mas a presença do inseparável cavaquinho denuncia: o seu negócio é samba.
Desde os 6 anos, idade em que começou a arranhar o cavaquinho e a frequentar rodas de pagode, Dudu se dedica ao samba partido alto, gênero praticado por bambas como Almir Guineto e por seu mestre e parceiro, Zeca Pagodinho, cuja banda integra há seis anos.
Foram essas as referências musicais que o cantor e compositor buscou em seu recém-lançado primeiro CD solo. "Procuro a informação na fonte pura", diz o músico, que descartou vários convites para ingressar em grupos de pagode.
A recusa de Dudu em aderir ao pagode meloso não faz dele um tradicionalista. "Curto um samba romântico, mas meu forte sempre foi o partido alto."
O flerte com o romantismo surge, por exemplo, em "Quebro, Não Envergo", faixa que compôs, aos 15 anos, sob a inspiração dos sambas de João Bosco e Aldir Blanc.
Dudu até comete pequenas transgressões, como usar a guitarra para reproduzir solos típicos de cavaquinho, como em "Quase Que o Bicho Pegou".
"Minha intenção foi modificar um pouquinho. Criar um samba autêntico, da veia, mas feito para jovens e por um jovem. Nada mais justo do que colocar uma guitarra", afirma.
O intento de "modificar um pouquinho" também se estende às letras. Dudu diz que aprecia os temas e as melodias dos sambas-canções de Cartola, mas evitou a dor-de-cotovelo.
"Não canto que ela me largou e que eu vou beber uma cachaça. Procuro bater em temas atuais, como dizer que "não janto mais sanduíche/ tenho dois Mitsubishi/ e telefone celular'", diz, cantando "Feliz da Vida", parceria com Nei Lopes.
Não cantar sobre bebedeiras não é só uma opção de estilo. Dudu é totalmente abstêmio. "Não fumo, não bebo, não cheiro e detesto até cafezinho. Só não sou um babaca completo porque gosto muito..." Antes de completar a frase, passa uma bela mulata nas imediações, e Dudu não perdoa: "Nossa senhora, que beleza."
O compositor conta já ter visto de tudo rumo às rodas de samba. "Quando tinha 12 anos, para ir ao pagode, pegava um ônibus que fazia o trajeto (das favelas) do complexo do Alemão (zona norte do Rio). Na primeira vez que tentaram me assaltar, falei: "Vamos fazer um sambinha". Eles concordaram: "Beleza, só avisa quando chegar o seu ponto, porque a gente tem que roubar o ônibus"."


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Disco: Dudu Nobre Artista: Dudu Nobre Lançamento: BMG Quanto: R$ 18, em média

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