|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PARTIDO ALTO
Nobre bebe na fonte pura do samba
BRUNO GARCEZ
da "Revista da Hora"
À primeira
vista, o carioca Dudu Nobre, 25, mais
se parece
com um integrante do Run DMC: camiseta
Nike, casaco esportivo, calças
largas e correntes de ouro no
pescoço. Ele até gosta de funk e
de rap, mas a presença do inseparável cavaquinho denuncia:
o seu negócio é samba.
Desde os 6 anos, idade em
que começou a arranhar o cavaquinho e a frequentar rodas
de pagode, Dudu se dedica ao
samba partido alto, gênero
praticado por bambas como
Almir Guineto e por seu mestre
e parceiro, Zeca Pagodinho,
cuja banda integra há seis anos.
Foram essas as referências
musicais que o cantor e compositor buscou em seu recém-lançado primeiro CD solo.
"Procuro a informação na fonte pura", diz o músico, que descartou vários convites para ingressar em grupos de pagode.
A recusa de Dudu em aderir
ao pagode meloso não faz dele
um tradicionalista. "Curto um
samba romântico, mas meu
forte sempre foi o partido alto."
O flerte com o romantismo
surge, por exemplo, em "Quebro, Não Envergo", faixa que
compôs, aos 15 anos, sob a inspiração dos sambas de João
Bosco e Aldir Blanc.
Dudu até comete pequenas
transgressões, como usar a guitarra para reproduzir solos típicos de cavaquinho, como em
"Quase Que o Bicho Pegou".
"Minha intenção foi modificar um pouquinho. Criar um
samba autêntico, da veia, mas
feito para jovens e por um jovem. Nada mais justo do que
colocar uma guitarra", afirma.
O intento de "modificar um
pouquinho" também se estende às letras. Dudu diz que aprecia os temas e as melodias dos
sambas-canções de Cartola,
mas evitou a dor-de-cotovelo.
"Não canto que ela me largou
e que eu vou beber uma cachaça. Procuro bater em temas
atuais, como dizer que "não
janto mais sanduíche/ tenho
dois Mitsubishi/ e telefone celular'", diz, cantando "Feliz da
Vida", parceria com Nei Lopes.
Não cantar sobre bebedeiras
não é só uma opção de estilo.
Dudu é totalmente abstêmio.
"Não fumo, não bebo, não
cheiro e detesto até cafezinho.
Só não sou um babaca completo porque gosto muito..." Antes
de completar a frase, passa
uma bela mulata nas imediações, e Dudu não perdoa:
"Nossa senhora, que beleza."
O compositor conta já ter visto de tudo rumo às rodas de
samba. "Quando tinha 12 anos,
para ir ao pagode, pegava um
ônibus que fazia o trajeto (das
favelas) do complexo do Alemão (zona norte do Rio). Na
primeira vez que tentaram me
assaltar, falei: "Vamos fazer um
sambinha". Eles concordaram:
"Beleza, só avisa quando chegar
o seu ponto, porque a gente
tem que roubar o ônibus"."
Avaliação:
Disco: Dudu Nobre
Artista: Dudu Nobre
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
Texto Anterior: Música: Nó em Pingo D'água chega ao 4º disco Próximo Texto: Marcelo Coelho: De olhos bem abertos Índice
|