CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha


Há muito que a unidade sonora do grupo carioca Nó em Pingo D'água expropria obras de consagrados compositores de choro e da música contemporânea, para indenizá-los por meio de arranjos originais, escritos pela tinta do bom gosto.
"Nó na Garganta" é o quarto CD do Nó em Pingo D'água. No entanto, é o primeiro a registrar composições de seus integrantes, com exceção da faixa homônima do disco, composta por Guinga, e de "Tristorosa", uma valsa seresta composta por um tal de Epaminondas Villalba.
"Há cerca de dez anos, mostramos ao poeta Cacaso (1944-1987) essa música do Villa-Lobos (1887-1959). Não sei porque, o maestro assinava como Epaminondas Villalba. Cacaso fez a letra e convidamos a Leila Pinheiro para gravá-la", disse Mário Séve, flautista e saxofonista do grupo, sobre a única música com letra do disco.
Apresentando uma linguagem intimamente ligada à música carioca, com raízes no choro e principalmente no samba, os cinco integrantes associam o som de instrumentos acústicos e elétricos.
"A idéia é continuar sempre inovando. Aproveitamos o fato de individualmente sofrermos influências de outros trabalhos que realizamos para concretizar isso", disse o artista.
Todos do grupo são músicos versáteis, que trafegam por outras vias, além da música instrumental. Papito (baixo elétrico) toca com a cantora Simone; Séve e Celso Silva (ritmista) tocam com o cantor Paulinho da Viola; Rogério Souza (violão) trabalha com regionais de choro; e Rodrigo Lessa (violão e bandolim) toca no Pagode Jazz Sardinha's Club.
A música "Pagode Jazz Sardinha's Club", também no CD, é um samba-choro envolto por improvisações, que abrem para infinitos caminhos, como o pop e o funk, sem perder nunca o sabor de choro na sua melodia.
Desde sua formação, em 78, o Nó em Pingo D'água participou de várias excursões pelo Brasil e pelo exterior, além de conquistar inúmeros prêmios. Entre eles, está o título de melhor composição e arranjo, ganho no último Festival de Choro, realizado no Rio, em 96, com a música "Conversa Fiada", inserida no CD.
"Esse é um outro samba choro, que o Rogério fez para homenagear Noel Rosa (1910-1937), por isso há uma citação de "Conversa de Botequim" nela", disse o fundador do grupo.
Postula-se que a primeira atitude de um artista independente, após ter gravado um CD, é levá-lo a uma gravadora, buscando, assim, um melhor aproveitamento de sua obra. Contudo, esse parece não ser o objetivo dos integrantes do Nó, que continua independente e registrou, com ótima qualidade técnica, as 12 faixas do CD, por um custo aproximado de R$ 30 mil. "Independente não é uma falta de opção, mas, sim, uma delas. Essa, talvez, seja a melhor maneira de fazer um produto artístico da maneira que se imagina e com qualidade", explicou.
O CD e mais informações sobre o grupo estão disponíveis no site www.noempingodagua.com.br.

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