|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Viúva do escritor está em São Paulo para eventos sobre o autor
"Tenho direito sobre a obra de
Borges", diz María Kodama
AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires
O lançamento das obras completas de Jorge Luis Borges em português, nesta semana, em São Paulo,
estabelece um reencontro do escritor argentino com suas origens.
"Essa edição em português deixaria Borges muito feliz. De certa
forma, é uma volta dele às suas
raízes, à língua de seus antepassados. Ele gostava de ter bisavós portugueses", disse à Folha a poeta
María Kodama, viúva do escritor.
Kodama está em São Paulo para
o lançamento da edição brasileira
das obras completas de Jorge Luis
Borges. Ela foi aluna de literatura
inglesa do escritor, nos anos 60, na
Universidade de Buenos Aires.
"Borges gostava do Brasil. Às
vezes, ficava assustado com os aspectos variados do país. Ele via a
selva como algo maravilhoso e ao
mesmo tempo terrível", afirmou.
Além do lançamento das obras
completas de Borges, Kodama
participa de várias atividades sobre o escritor neste mês, quando
se começa a comemorar o ano do
centenário do autor. Em 24 de
agosto, ele completaria 99 anos.
Ela organiza para 1999 uma exposição itinerante sobre Borges,
como um marco de seus cem anos.
A mostra vai passar por Veneza
(março), Paris, Madrid, Cidade do
México, Nova York e estará em
Buenos Aires em agosto.
Na última quarta-feira, Kodama
participou em Buenos Aires, no
Museu Nacional de Arte Decorativa, do lançamento de edição de
"El Aleph" para colecionadores,
ilustrada pela artista plástica Gabriela Aberastury.
São ao todo 25 livros que não se
assemelham. Cada uma das 4.000
páginas que compõem o total de
exemplares tem trabalho diferente
de Aberastury, que usa aquarela e
litografia, entre outras técnicas.
A edição demorou 12 anos para
ficar pronta. A impressão foi feita
de forma praticamente artesanal e
procurou o melhor contraste entre
letras e ilustrações.
"Há um livro numa universidade de Dallas (EUA), e outros já foram comprados por colecionadores. Não existe um preço fixo. Avaliamos cada exemplar em torno de
US$ 25 mil", afirmou o empresário e editor Ernesto Lowenstein,
especializado em edições de luxo.
O casamento de María Kodama,
53, com Borges, dias antes da
morte do escritor (1986), foi fruto
de polêmica na Argentina. A aproximação dos dois começou na
Universidade de Buenos Aires e se
acentuou quando morreu a mãe
do autor (1975).
Kodama, que detém os direitos
sobre a obra de Borges, acumulou
inimizades no meio literário do
país e entre os amigos do escritor.
Ela é acusada de tentar se apropriar da memória do autor.
"Não há nenhum tipo de apropriação. Eu fui sua mulher e tenho
o direito sobre sua obra. Minha
conduta nos últimos 12 anos segue
igual. Os que me acusam manipulam a memória de Borges. É mesquinho", disse Kodama.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|