São Paulo, sexta, 28 de agosto de 1998

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LITERATURA
Viúva do escritor está em São Paulo para eventos sobre o autor
"Tenho direito sobre a obra de Borges", diz María Kodama

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

O lançamento das obras completas de Jorge Luis Borges em português, nesta semana, em São Paulo, estabelece um reencontro do escritor argentino com suas origens.
"Essa edição em português deixaria Borges muito feliz. De certa forma, é uma volta dele às suas raízes, à língua de seus antepassados. Ele gostava de ter bisavós portugueses", disse à Folha a poeta María Kodama, viúva do escritor.
Kodama está em São Paulo para o lançamento da edição brasileira das obras completas de Jorge Luis Borges. Ela foi aluna de literatura inglesa do escritor, nos anos 60, na Universidade de Buenos Aires.
"Borges gostava do Brasil. Às vezes, ficava assustado com os aspectos variados do país. Ele via a selva como algo maravilhoso e ao mesmo tempo terrível", afirmou.
Além do lançamento das obras completas de Borges, Kodama participa de várias atividades sobre o escritor neste mês, quando se começa a comemorar o ano do centenário do autor. Em 24 de agosto, ele completaria 99 anos.
Ela organiza para 1999 uma exposição itinerante sobre Borges, como um marco de seus cem anos. A mostra vai passar por Veneza (março), Paris, Madrid, Cidade do México, Nova York e estará em Buenos Aires em agosto.
Na última quarta-feira, Kodama participou em Buenos Aires, no Museu Nacional de Arte Decorativa, do lançamento de edição de "El Aleph" para colecionadores, ilustrada pela artista plástica Gabriela Aberastury.
São ao todo 25 livros que não se assemelham. Cada uma das 4.000 páginas que compõem o total de exemplares tem trabalho diferente de Aberastury, que usa aquarela e litografia, entre outras técnicas.
A edição demorou 12 anos para ficar pronta. A impressão foi feita de forma praticamente artesanal e procurou o melhor contraste entre letras e ilustrações.
"Há um livro numa universidade de Dallas (EUA), e outros já foram comprados por colecionadores. Não existe um preço fixo. Avaliamos cada exemplar em torno de US$ 25 mil", afirmou o empresário e editor Ernesto Lowenstein, especializado em edições de luxo.
O casamento de María Kodama, 53, com Borges, dias antes da morte do escritor (1986), foi fruto de polêmica na Argentina. A aproximação dos dois começou na Universidade de Buenos Aires e se acentuou quando morreu a mãe do autor (1975).
Kodama, que detém os direitos sobre a obra de Borges, acumulou inimizades no meio literário do país e entre os amigos do escritor. Ela é acusada de tentar se apropriar da memória do autor.
"Não há nenhum tipo de apropriação. Eu fui sua mulher e tenho o direito sobre sua obra. Minha conduta nos últimos 12 anos segue igual. Os que me acusam manipulam a memória de Borges. É mesquinho", disse Kodama.



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