São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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"Críticas à Globo são levianas e desonestas", afirma Evandro

da Reportagem Local

Evandro Carlos de Andrade, diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ) desde julho de 95, acusa os críticos do telejornalismo da Globo de sectarismo e leviandade, em entrevista concedida por fax. Evandro assumiu o cargo na TV depois de ter sido diretor de Redação do jornal "O Globo" durante 23 anos.
Ele nega que a TV Globo tenha favorecido Fernando Collor na eleição de 89 e diz que "O Globo", sim, tinha candidato na ocasião, Mário Covas. (FBS)

Folha - Que tipo de pressão recebe o responsável pelo maior telejornal do país e como deve lidar com elas?
Evandro Carlos de Andrade -
Internamente, não recebo pressão alguma, por menor que seja. Qualquer erro que tenha cometido ou venha a cometer, por excesso ou omissão, terá sido ou será da minha exclusiva responsabilidade. Pressões externas, que só poderiam vir de políticos, igualmente não recebo, até porque me mantenho distante de qualquer tipo de convivência com políticos, para não me deixar sequer influenciar por eventuais simpatias ou antipatias pessoais.

Folha - A tendência de espetacularização do telejornalismo é mundial e muita gente a identifica no "JN". O sr. concorda? Como explica a cobertura do nascimento da filha da Xuxa?
Andrade -
O nosso telejornalismo é sempre organizado com o propósito de levar ao público um produto informativo que tenha começo, meio e fim, como se fosse um roteiro e com a preocupação de que esse produto, sem dourar pílulas ou forjar escândalos, seja do agrado do telespectador. Quanto à Sasha, a cobertura do nascimento dela desvendou o quanto é leviana, incompetente e intelectualmente desonesta grande parte do que se chama de "crítica de televisão". Primeiro, porque o tempo concedido ao assunto correspondeu sem a menor dúvida à curiosidade do público.
Depois, porque esse tempo excedeu o tempo normal do "JN", não acarretando qualquer prejuízo à divulgação dos principais fatos do dia. Comparou-se o caso da Sasha com a cobertura dada no mesmo dia à venda das teles. E esses críticos desabaram em cima do "JN", sem se darem conta de que o leilão das teles foi no dia seguinte e que todas as informações relevantes sobre essa privatização foram dadas exaustivamente durante todo o período em que se preparou e consumou a venda das teles. Ou seja: criticaram sem cumprir o dever de apurar o que criticavam.
E mais: todo mundo dedicou páginas e páginas ou minutos e minutos ao enterro da princesa Diana -e eu gostaria de saber em que aquele show funéreo foi mais importante para a educação dos nossos filhos do que o parto da Xuxa. Isso para não falar de página inteira que li em jornal de grande circulação sobre a última apresentação do seriado "Seinfeld" nos Estados Unidos, que imagino seja ignorado por 99,9999% do povo brasileiro.

Folha - O "JN" foi durante muito tempo acusado de subordinar as notícias a interesses políticos. Durante o regime militar, era considerado um jornal "oficioso"; durante a eleição presidencial de 89, foi acusado de favorecer Collor. Hoje, percebe-se maior preocupação com a isenção e o pluralismo, o que, no entanto, parece não ter sido ainda suficiente para apagar o estigma adquirido ao longo de décadas. Como o sr. vê isso?
Andrade -
O problema não está na Globo, e sim no sectarismo e, eventualmente, na desonestidade intelectual das acusações. O telejornalismo da Globo se desenvolveu num período em que a censura exerceu a mais brutal opressão sobre os meios de comunicação. Se desenvolveu apesar dessa censura, muito mais pesada aqui do que em qualquer outra televisão ou rádio ou jornal, pelo simples fato de que era, como é, disparadamente a televisão de maior audiência, graças aos seus méritos de empresa moderna, muito bem organizada e capaz de atrair e manter os melhores profissionais do ramo. A Rede Globo não ganhou um único canal dado pelos militares, ao contrário do que ocorreu com os competidores.
"Oficiosa" é inevitavelmente toda a imprensa quando se vive sob uma ditadura, e o máximo que se pode fazer, para resistir, é publicar, no lugar das notícias censuradas, poemas ou receitas ou exibir imagens ingênuas de bichinhos no zôo (quando se quer, efetivamente, resistir em vez de apoiar a opressão). Na eleição que acabou vencida por Collor, a TV Globo não teve candidato, mas "O Globo" sim, no primeiro turno: apoiou a candidatura de Mário Covas. Quanto à edição do debate entre Collor e Lula no segundo turno, basta recordar o reconhecimento do deputado José Genoino, que, honesto e franco como sempre, reconheceu em entrevista à revista "Imprensa" que Lula perdera mesmo para o competidor naquele debate. O "estigma" a que se refere é uma tentativa de concorrentes de depreciar e desacreditar o telejornalismo da Globo, mas esse esforço tem sido vão, porque o telespectador reconhece a isenção, o pluralismo, a imparcialidade e a exatidão com que procuramos desempenhar nossa tarefa.


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