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"Críticas à Globo são levianas
e desonestas", afirma Evandro
da Reportagem Local
Evandro Carlos de Andrade, diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ) desde julho de 95,
acusa os críticos do telejornalismo da Globo de sectarismo e leviandade, em entrevista concedida por fax. Evandro assumiu o
cargo na TV depois de ter sido diretor de Redação do jornal "O
Globo" durante 23 anos.
Ele nega que a TV Globo tenha
favorecido Fernando Collor na
eleição de 89 e diz que "O Globo",
sim, tinha candidato na ocasião,
Mário Covas.
(FBS)
Folha - Que tipo de pressão recebe o responsável pelo maior
telejornal do país e como deve
lidar com elas?
Evandro Carlos de Andrade
-Internamente, não recebo pressão alguma, por menor que seja.
Qualquer erro que tenha cometido ou venha a cometer, por excesso ou omissão, terá sido ou
será da minha exclusiva responsabilidade. Pressões externas,
que só poderiam vir de políticos,
igualmente não recebo, até porque me mantenho distante de
qualquer tipo de convivência
com políticos, para não me deixar sequer influenciar por eventuais simpatias ou antipatias pessoais.
Folha - A tendência de espetacularização do telejornalismo é
mundial e muita gente a identifica no "JN". O sr. concorda? Como explica a cobertura do nascimento da filha da Xuxa?
Andrade - O nosso telejornalismo é sempre organizado com o
propósito de levar ao público um
produto informativo que tenha
começo, meio e fim, como se fosse
um roteiro e com a preocupação
de que esse produto, sem dourar
pílulas ou forjar escândalos, seja
do agrado do telespectador.
Quanto à Sasha, a cobertura do
nascimento dela desvendou o
quanto é leviana, incompetente e
intelectualmente desonesta grande parte do que se chama de "crítica de televisão". Primeiro, porque o tempo concedido ao assunto correspondeu sem a menor dúvida à curiosidade do público.
Depois, porque esse tempo excedeu o tempo normal do "JN",
não acarretando qualquer prejuízo à divulgação dos principais fatos do dia. Comparou-se o caso da
Sasha com a cobertura dada no
mesmo dia à venda das teles. E esses críticos desabaram em cima
do "JN", sem se darem conta de
que o leilão das teles foi no dia seguinte e que todas as informações
relevantes sobre essa privatização
foram dadas exaustivamente durante todo o período em que se
preparou e consumou a venda
das teles. Ou seja: criticaram sem
cumprir o dever de apurar o que
criticavam.
E mais: todo mundo dedicou
páginas e páginas ou minutos e
minutos ao enterro da princesa
Diana -e eu gostaria de saber em
que aquele show funéreo foi mais
importante para a educação dos
nossos filhos do que o parto da
Xuxa. Isso para não falar de página inteira que li em jornal de
grande circulação sobre a última
apresentação do seriado "Seinfeld" nos Estados Unidos, que
imagino seja ignorado por
99,9999% do povo brasileiro.
Folha - O "JN" foi durante muito tempo acusado de subordinar as notícias a interesses políticos. Durante o regime militar,
era considerado um jornal "oficioso"; durante a eleição presidencial de 89, foi acusado de favorecer Collor. Hoje, percebe-se
maior preocupação com a isenção e o pluralismo, o que, no entanto, parece não ter sido ainda
suficiente para apagar o estigma adquirido ao longo de décadas. Como o sr. vê isso?
Andrade - O problema não está
na Globo, e sim no sectarismo e,
eventualmente, na desonestidade
intelectual das acusações. O telejornalismo da Globo se desenvolveu num período em que a censura exerceu a mais brutal opressão
sobre os meios de comunicação.
Se desenvolveu apesar dessa censura, muito mais pesada aqui do
que em qualquer outra televisão
ou rádio ou jornal, pelo simples
fato de que era, como é, disparadamente a televisão de maior audiência, graças aos seus méritos
de empresa moderna, muito bem
organizada e capaz de atrair e
manter os melhores profissionais
do ramo. A Rede Globo não ganhou um único canal dado pelos
militares, ao contrário do que
ocorreu com os competidores.
"Oficiosa" é inevitavelmente toda a imprensa quando se vive sob
uma ditadura, e o máximo que se
pode fazer, para resistir, é publicar, no lugar das notícias censuradas, poemas ou receitas ou exibir
imagens ingênuas de bichinhos
no zôo (quando se quer, efetivamente, resistir em vez de apoiar a
opressão). Na eleição que acabou
vencida por Collor, a TV Globo
não teve candidato, mas "O Globo" sim, no primeiro turno:
apoiou a candidatura de Mário
Covas. Quanto à edição do debate
entre Collor e Lula no segundo
turno, basta recordar o reconhecimento do deputado José Genoino, que, honesto e franco como
sempre, reconheceu em entrevista à revista "Imprensa" que Lula
perdera mesmo para o competidor naquele debate. O "estigma" a
que se refere é uma tentativa de
concorrentes de depreciar e desacreditar o telejornalismo da Globo, mas esse esforço tem sido vão,
porque o telespectador reconhece
a isenção, o pluralismo, a imparcialidade e a exatidão com que
procuramos desempenhar nossa
tarefa.
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