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CINEMA
Diabo de Polanski se repete
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
O mais novo filme de Roman
Polanski, "Le Neuvième Porte" (A
Nona Porta), que estreou esta semana em Paris, em 24 salas da cidade, traz de volta um velho conhecido do diretor: o diabo.
Polanski, que já tratara de ocultismo em "O Bebê de Rosemary"
(1968) e "A Dança dos Vampiros"
(1967), entre outros, afirma não
acreditar no demônio como entidade espiritual.
"Ele só me interessa como ficção cinematográfica. Eu sou muito materialista", disse em San Sebastián (Espanha), durante o festival de cinema da cidade.
Em "Le Neuvième Porte", produção hispano-francesa com
Johnny Depp e Emmanuelle Seigner, Polanski adotou um discurso
bastante distante do mito.
Nessa adaptação do romance
"El Club Dumas", do espanhol
Arturo Pérez Reverte, não se pode
ter certeza de que Lúcifer existe.
Para o diretor, a encarnação do
anjo mau (ou bom, nunca é evidente) é a mulher, no caso, a sua
própria.
Johnny Deep vive Dean Corso,
um caçador de livros raros que recebe a tarefa de um colecionador
chamado Boris Balkan de comprar o original de uma obra escrita no século 17.
Chamado "As Nove Portas da
Sombra", trata-se de uma co-autoria de uma vítima da Inquisição
com o coisa-ruim.
A odisséia começa em Nova
York, onde está a edição comprada por Balkan. Logo chega à Europa, passando por Toledo (Espanha), Sintra (Portugal) e Paris
(França), onde estão os outros
dois exemplares.
Balkan quer encontrar o verdadeiro livro para utilizá-lo num ritual de conhecimento, invocando
o dito-cujo.
Estamos diante de um enredo à
"O Nome da Rosa" (romance de
Umberto Eco filmado por Jean-Jacques Annaud) passado nos
dias de hoje.
A chave do mistério logo se manifesta: os três livros são verdadeiros, mas nenhum conta com todas as colaborações, na forma de
gravuras, do príncipe das trevas. É
preciso reuni-los.
Talvez influenciados pelo sopro
de confiança da recente declaração do papa João Paulo 2º, que
afirmou que a luta contra o beiçudo foi vencida, os jornais franceses não pouparam críticas ao novo filme de Polanski, o primeiro
realizado pelo cineasta desde "A
Morte e a Donzela" (1994).
Para eles, falta-lhe a dubiedade
de "O Bebê de Rosemary", em
que a protagonista, vivida por
Mia Farrow, acredita estar grávida do belzebu, mas tal fato pode
ora apresentar-se como verossímil, ora como efeito de uma manifestação de esquizofrenia da
personagem.
A história se repete como farsa.
Quando Corso se infiltra num ritual satânico, é impossível não se
lembrar de "A Dança dos Vampiros", mas também é claro que o
efeito dessa vez é bem menos interessante.
O fato é que o mofento, como
todos os nomes que o designam
demonstram, é suficientemente
interessante para manter a sua
majestade, mesmo que Polanski,
um grande diretor, não esteja nos
seus melhores dias.
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