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RELÂMPAGOS
Aurora de risco
JOÃO GILBERTO NOLL
Se dependesse de sua vontade não parava mais, firme
pela estrada de terra. Ia extraindo os passos de um vazamento de energia, ou que nome tivesse a coisa que a levava
a saltar da cama a cada despertar com ímpeto extravagante, mesmo que precisasse
então drenar duramente toda
a profusão para a sequência
sem fim. Era o seu estado agora, essa marcha reta ao amanhecer pela estrada de terra
-com outras crianças rumo
àquela escola de goteira
abrindo valas em ouvidos
frios. Passando a língua na rachadura do lábio, olhava o
atraso do irmão menor. "Moleque", ela esbravejou, e não
parou mais de trotar, até se
saber sozinha... Entrava numa claridade antecipada, irreal talvez. Sentiu que, naqueles ares, era uma clandestina.
Viu uma toca. Feito tatu, ali se
meteu. No escuro, esperou...
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