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Patrice Chéreau fala de seu novo filme, que ganha primeira exibição no Brasil
Intimidade entre estranhos
Divulgação
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Cena de "Intimidade", primeiro filme em língua inglesa do diretor francês Patrice Chéreau |
ANTONIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
Consagrado diretor de teatro e
ópera, Patrice Chéreau, 56, recheou seu imponente currículo
com mais um filme ousado e belo,
"Intimidade", levando o Urso de
Ouro em Berlim. Agora ganha
cinco exibições, de hoje a segunda, no 3º Festival do Rio BR.
Baseado em obra do britânico
Hanif Kureishi, "Intimidade"
provoca polêmica com suas cenas
de sexo cru, sendo apontado por
muitos como uma variante de "O
Último Tango em Paris", e se as
mentalidades de então se chocavam com a simples imaginação
da manteiga, as de hoje não aceitam o explícito "felatio". Filmada
em inglês, a história se resume
num recém-separado (Mark
Rylance) que conhece uma atriz
(Kerry Fox), mantendo com ela
um encontro semanal sem conversas e quase puramente físico.
Folha - Não é irritante ser acusado de ter feito uma obra arrojada
sexualmente, quase pornográfica?
Patrice Chéreau - Procuro não
levar a sério tal comentário. Meu
filme não se limita ao sexo. Falo
de amor, de desejo e de emoções.
Somente filmei 35 minutos de sexo. Sexo é a forma que Jay e Claire
se comunicam inicialmente. Queria mostrar o interessante que poderia ser o encontro amoroso entre desconhecidos. Sobre essa base, procuro que entendam o que
significa estar junto com alguém,
afinal o que sabemos sobre a pessoa com quem fazemos amor?
Folha - Alguns críticos norte-americanos falaram que os corpos
dos atores não são atraentes, provocam um certo mal-estar...
Chéreau - Não estava fazendo
pornografia, portanto busquei
atores com corpos normais, nada
perfeitos, como na vida real. Se eu
tivesse colocado corpos de modelos, o filme seria outro, justamente o que não me interessava.
Folha - Por que filmou em inglês e
com Londres como cenário?
Chéreau - Creio que se perderia
o essencial da história se eu não a
tivesse filmado no seu ambiente.
Há coisas bastante secretas que
pertencem à Inglaterra. Além disso, admiro o talento do cinema inglês e os seus atores.
Folha - Verdade que viu alguns
filmes como fonte de inspiração?
Chéreau - Sim. Quando estava
em dificuldades, via algumas imagens de "Faces", de Cassavetes,
"O Silêncio", de Ingmar Bergman, "Happy Together", de
Wong Kar-wai, e "Estrada Perdida", de David Lynch. Ajudou-me
principalmente Bergman, porque
contava o tipo de história que eu
queria captar, realçando a importância do desejo físico, mesmo
não o mostrando explicitamente.
Ajudou-me também "Anna Karenina" e outros romances de amor.
Folha - Como surgiu a idéia de filmar "Intimidade"?
Chéreau - Logo depois das filmagens de "Os que me Amam Tomarão o Trem", li a bonita novela
de Hanif Kureishi. Já conhecia
seus contos e havia visto muitos
anos antes "Minha Adorável Lavanderia". Procurei-o, num inverno especialmente simpático,
para trabalharmos no projeto.
Folha - Além de filmes clássicos,
algumas novelas de amor e sua experiência teatral ,"Intimidade" deve sua sensibilidade a algo mais?
Chéreau - À observação cotidiana das pessoas. Olho-as no restaurante, nas ruas, nos aviões. Quero
entendê-las, absorvê-las. Procuro
imaginar como sobrevivem, como amam. Em cada trabalho meu
coloco um pouco delas, da minha
vida, da vida dos meus amigos.
Folha - O que destacaria no filme?
Chéreau - A beleza da transformação que ocorre na vida daquelas pessoas a partir do primeiro
encontro. Ela salva a vida dele
quando o transforma em outro
homem. É um estranho encontro
de pessoas que fazem bem uma à
outra, ajudam-se mutuamente.
Folha - O que poderia falar do novo filme que está prestes a rodar?
Chéreau - "Betsy et l'Empereur"
conta os últimos dias de Napoleão, vivido por Al Pacino. Será no
estilo "A Rainha Margot", embora com menos sangue. Vou filmá-lo na ilha de Santa Helena, com
roteiro de Jean-Claude Carrière.
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