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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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MÔNICA BERGAMO

"Oscar 'Fake'" vive à sombra da irmã rica

Chris von Ameln/Folha Imagem
Showroom da Questão Serviços, que aluga pratos e copos


Nem todo passeio pela Oscar Freire, uma das ruas mais conhecidas de São Paulo, é sinônimo de glamour. O visitante descobre isso ao cruzar os 1.275 metros do trecho que vai da Rebouças até a Heitor Penteado. É a "Oscar "Fake'" (falsa, em inglês), como já começa a ser chamada carinhosamente, irmã pobre da via que do outro lado corta o chamado quadrilátero de ouro, nos Jardins. Surpreendem o pouco movimento e o clima de simplicidade que em nada lembram os 900 carros que passam por hora e as 10 mil pessoas que visitam por dia a irmã rica.
 

Um passeio pela "Oscar "Fake'", como o feito pela coluna na semana passada, revela que, diferentemente de sua prima rica, nem só de compras vive a rua. Quem gosta de fazer uma fé pode recorrer à banca de jogo do bicho no final, quase na Heitor Penteado. "Não posso falar nada", disse a banqueira, que não quis contar nem seu nome.
 

Se o dinheiro está curto, dá para sair satisfeito do brechó Su Fashion. Calças jeans de grife custam entre R$ 13 e R$ 30. O "highlight" é uma frasqueira Louis Vuitton, à venda por R$ 300. "A gente não aceita pechincha nessa", explica a vendedora Angelúcia Oliveira, a "Angel".
 

Cruzando a Rebouças, o valor das peças se multiplica. A frasqueira Vuitton, nova em folha, custa R$ 9.500 (na Haddock Lobo, não na Oscar Freire). Os jeans chegam a valer R$ 330.
 

Ao lado do brechó funciona o restaurante Miquelin, de comida a quilo. A decoração é simples: flores de ontem e um quadro com notas de dinheiro, "simpatia para atrair fortuna", diz a dona, Carmem Miquelin.
 

Carmem, 55, tem 30 anos de "Oscar 'Fake'". Há seis tem o restaurante, com cardápio caprichado -cinco opções de carne- e preço modesto (R$ 1,20 cada cem gramas).
 

Estacionar é um problema nos dois lados da Oscar Freire, por motivos diferentes. Do lado rico, perto das lojas de grife, há doze estacionamentos, que cobram cerca de R$ 10 pela vaga. No outro lado, comerciantes se queixam da falta de zona azul. "Os clientes não conseguem parar porque tem gente que deixa o carro aqui e pega o metrô", se queixa o cabeleireiro Milton Cândido Ribeiro, 59, dono de salão perto da estação Sumaré.
 

Ribeiro conta que não há uma associação de lojistas naquele trecho da rua. Na "irmã rica", a história é diferente: 320 estabelecimentos comerciais se cotizam e pressionam a Eletropaulo e a prefeitura para tirar do papel o Boulevard Oscar Freire, orçado em cerca de R$ 13 milhões.
 

Só a primeira fase deve custar R$ 4 milhões. Prevê o nivelamento do asfalto e reurbanização entre a Melo Alves e a Augusta. Os estacionamentos devem funcionar em esquema de "pool". Ainda não foi definido quanto cada lojista vai desembolsar. "Cada um vai dar o que pode", explica Fábio Saboya, coordenador do projeto.
 

O tratamento dado aos clientes no lado "fake" é mais simpático do que no lado chique da rua. Na Baccarat, por exemplo, o repórter, de jeans e camiseta, foi olhado de cima abaixo. Fotos, só com autorização prévia da assessoria de imprensa. Na Zoomp, onde se serve prosecco e café aos clientes, não se ofereceu nem um copo de água.
 

Um dos mais recentes estabelecimentos da "irmã pobre" é a Questão Serviços, que aluga copos, pratos e talheres, instalada na região há três meses. Um dos donos, Evaldo Capelloto acredita que estar na Oscar Freire vai incrementar os negócios. "Desde que chegamos aqui, passamos a ter mais acesso a fregueses classe A", afirma. "Já temos clientes até em Alphaville".
 

Cinco meses mais antiga, a loja de material de construção Eluta, do ex-mestre-de-obras Cleudeci Santos, vai bem, obrigado. No início faturava somente R$ 1.000 por mês. Agora o faturamento é de até R$ 15 mil. No lugar, segundo Santos, funcionava uma loja da Levi's. "Não dá para ter só roupas na Oscar Freire, né?", pergunta.
 

Passar a noite na Oscar Freire, no hotel Emiliano, não custa menos que R$ 855. O aluguel de um apartamento de dois quartos no lado Jardins sai entre R$ 1.000 e R$ 1.200. Já no lado Pinheiros, o mesmo apartamento vale metade do preço. E quem quiser apenas o quarto e não se importar de dividir o resto da casa com outros consegue achar barganhas por R$ 250 mensais.

E-mail bergamo@folhasp.com.br

SÉRGIO DÁVILA (interino)
COM CLEO GUIMARÃES E ALVARO LEME



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