São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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Américas utópicas

Premiado em Cannes e cotado para o Oscar por "Babel", o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu diz à Folha que o cinema latino hoje é melhor e mais humano do que as produções dos EUA; sessão de seu filme fez sucesso no Festival do Rio

Felipe Varanda/Folha Imagem
O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, no Rio


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Em "Babel", terceiro longa do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, os filhos do casal de norte-americanos Richard (Brad Pitt) e Susan (a australiana Cate Blanchett), vão parar casualmente no México, enquanto seus pais estão em viagem à África.
Um problema na fronteira entre os dois países, envolvendo a empregada mexicana que cuida das crianças (Adriana Bazzara) e o sobrinho dela (Gael García Bernal), coloca vidas em risco.
A "compaixão e as fronteiras", tomadas em seu sentido geográfico e também no dos limites individuais, são o tema central de "Babel", na definição de seu diretor.
Iñárritu está no Festival do Rio, acompanhando a apresentação do longa, que se tornou o maior hit numa mostra com 380 títulos. "Babel" foi o primeiro a ter ingressos esgotados. O filme está escalado também para a Mostra de São Paulo (20/10 a 2/11) e tem estréia nos cinemas brasileiros agendada para 19 de janeiro.
Premiado neste ano no Festival de Cannes como melhor diretor e cotado para o Oscar, o mexicano Iñárritu, 43, cruzou a fronteira em direção aos EUA desde seu filme anterior, "21 Gramas" (2003).
O diretor foi levado a Los Angeles (e ao ambiente de Hollywood) pelo sucesso de seu longa de estréia, "Amores Brutos" (2000), que hoje ele considera o título inicial de uma trilogia encerrada com "Babel".
Com uma carreira consolidada com apenas três filmes, Iñárritu prepara o caminho de saída da América. Quer viver num país europeu nos próximos anos. "Acho importante que meus filhos tenham essa experiência", afirma.
A experiência de latino de sucesso na meca da indústria do cinema tem seus aborrecimentos. Vir ao Brasil é a decisão de contornar um deles.
"A estratégia das distribuidoras [norte-americanas] é dar prioridade aos países que chamam de primeiro mercado. Eles se esquecem de que sou mexicano e tenho interesse em falar com os brasileiros, com os argentinos. É o meu continente, o meu sangue, a minha língua", diz. Defensor do fim do "apartheid que havia em relação ao cinema latino-americano, antes segregado a nichos nos festivais e sempre excluído das competições oficiais", Iñárritu inverte o jogo e proclama a superioridade do cinema feito neste lado do continente.
"Qualquer filme latino-americano hoje é melhor do que qualquer filme norte-americano, porque há temas humanos que o cinema norte-americano já não trata. Está cauterizado, pasteurizado."


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