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"DIG!", "FESTIVAL EXPRESS" E "PONHA A AGULHA SOBRE O REGISTRO"
Documentários aumentam o som do festival
COLUNISTA DA FOLHA
S ete anos de produção, 1.500
horas de filmagens e um
Grande Prêmio do Júri de Sundance depois, chegou ao Brasil via
Mostra o documentário "Dig!"
(2003). Na atual temporada de
shows de rock, pode ser considerado mais uma grande atração.
O filme traça a trajetória na cena
pop de dois bons amigos (e depois amargos rivais), Anton Newcombe e Courtney Taylor, músicos iniciantes, talentosos e de gênios diferentes. É o retrato do nascer e da ascensão da banda Dandy
Warhols, de Taylor, e do nascer e
da desgraça do Brian Jonestown
Massacre, de Newcombe.
Os dois grupos iniciam carreira
em clubecos sujos de Portland,
Oregon, com o mesmo propósito:
"Sinto que há uma revolução
acontecendo. Vamos dominar o
mundo com nossa música". O
que também pode ser traduzido
como "detonar todas as drogas" e
"sair todas as noites".
Ondi Timoner, amiga de Taylor
e Newcombe, acompanha os dois
músicos através de shows e gravações, altos e baixos, amores e obsessões, prisões e ameaças de
morte, tudo em seu limite. Sempre tendo como pano de fundo a
indústria da música no geral e a
cena independente em particular.
A câmera de Timoner é mais focada em Newcombe, um pouco
porque ele é mais talentoso que
Taylor, mas principalmente porque é bem mais explosivo, furioso, "incompreendido". Newcombe é o próprio rock star, mesmo
que ninguém de fora do circuito
indie de Portland saiba disso.
Enquanto Newcombe trata seus
companheiros de banda como
imbecis e quase não conseguem
terminar um só show sem o pau
quebrar, Taylor segue na paz com
seus amigos de Dandy Warhols e
parte para assinar o primeiro contrato e gravar o primeiro CD.
"Dig!" não quer passar a mensagem de que um comportamento
"família" é meio caminho para o
sucesso de uma banda de rock e
que a autodestruição não está
com nada. Mas é interessante ver
como o acaso e os meandros da
indústria da música podem levar
duas bandas pequenas que faziam
shows conjuntos em bares quaisquer à seguinte cena, lá para o final do filme: na mesma época em
que o Dandy Warhols chega a tocar no palco principal do britânico Reading Festival, talvez a principal reunião de bandas do mundo, o documentário flagra mais
uma explosão de raiva de Newcombe com seus companheiros,
chegando de um show em um boteco americano vazio, abrindo a
porta da van e jogando todos os
instrumentos do grupo na rua.
A ironia da história é que, hoje,
com "Dig!" lançado nos cinemas,
o Dandy Warhols amarga as piores críticas ao seu quinto álbum,
recém-lançado. E o Brian Jonestown Massacre encerrou turnê lotada nos EUA e agora vai tocar na
Ásia e na Europa. Graças a "Dig!".
Dentro da linha "filmes para
ouvir", a Mostra exibe hoje, às
16h10, na Sala UOL, o excelente
"Festival Express" (2003). Estrelando Janis Joplin, The Grateful
Dead, Buddy Guy, The Band e
Flying Burrito Brothers, mostra
uma pouco lembrada excursão de
astros da hora pelo Canadá por
cinco dias no verão de 1970.
"Festival Express" tem seu charme não só por ser uma impressionante janela de uma época bem
particular da história da música e
do comportamento jovem. Também porque o festival foi financeiramente um desastre (os hippies
faziam motim e pregavam entrada grátis para os shows) e tudo foi
tão tumultuado que as gravações
ficaram perdidas por 30 anos.
Também dentro da programação "sonora" do evento cinematográfico, "Ponha a Agulha sobre
o Registro" (2004), que passa segunda, às 19h, no Cineclube Vitrine, fala da música eletrônica. Filmado numa conferência sobre o
gênero em Miami, traz mais de 40
entrevistas sobre o fenômeno da
figura do DJ como ídolo popular e
é recheado por cena de bastidores
de clubes e discotecagens.
(LÚCIO RIBEIRO)
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