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"MARTHA ARGERICH, CONVERSAS NOTURNAS"
Filme traz manias e rara entrevista da pianista argentina Martha Argerich
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sensual, charmosa e vulcânica, Martha Argerich não é conhecida apenas no mundinho
restrito da música erudita. Quem
assistiu ao documentário "Nelson
Freire", de João Moreira Salles, vai
se lembrar dos longos cabelos negros (com fios brancos, é verdade) e da prosa cativante desta que
é, sem exagero, uma das maiores
pianistas da atualidade.
Argerich tem uma série de manias e idiossincrasias, e uma delas
é a de nunca falar com a imprensa. Trazer uma hora de entrevista
com ela talvez seja o maior mérito
de "Martha Argerich, Conversas
Noturnas", de Georges Gachot.
Nascida em Buenos Aires, em
1941, Argerich foi uma criança-prodígio, enviada para aperfeiçoamento para a Europa em 1955
pelo todo-poderoso presidente
Perón. Vitórias nos concursos internacionais de Bolzano e Varsóvia impulsionaram uma brilhante
carreira internacional, que não foi
abalada pelos cancelamentos
constantes. Em um trecho do filme, ela fala sobre a primeira vez
em que desmarcou um concerto.
Ela tinha 17 anos e estava curiosa para ver o que aconteceria se
faltasse a uma apresentação, alegando estar machucada. Para dar
mais verossimilhança à história,
infringiu-se uma lesão no dedo. O
corte foi tão sério que teve de cancelar os recitais subseqüentes.
O documentário não conta a
trajetória dela de maneira linear.
Argerich é deixada solta, falando
sobre música, compositores e repertório. O formato é simples: depoimentos da pianista são alternados com imagens de arquivo.
Carinho especial é devotado ao
austríaco Friedrich Gulda, 11 anos
mais velho e influência decisiva
em sua carreira, que é mostrado
tocando Beethoven, fumando e
jogando pingue-pongue.
E que imagens! Trecho do
"Concerto nº 1" de Liszt, sob regência de Leinsdorf, em 1973; pedaço do terceiro movimento do
concerto de Ravel, em 91, sob a
batuta de Dutoit, tocado com
uma rapidez de perder o fôlego; e
uma breve aparição em duo com
Nelson Freire, no teatro Colón,
em 99, são apenas alguns destaques, assim como uma raríssima
ocasião em que a ouvimos tocando música popular ("Libertango",
de Piazzolla). É a altíssima qualidade do fazer musical que faz de
"Martha Argerich, Conversas Noturnas" um filme leve e gostoso de
assistir.
(IRINEU FRANCO PERPETUO)
Martha Argerich, Conversas Noturnas
Direção: Georges Gachot
Quando: hoje, às 16h, no Cine
MorumbiShopping; e dia 2, às 17h, no
Cine Olido
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