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CRÍTICA
Rodgers encabeça retorno do Queen
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Brian May (guitarra) e
Roger Taylor (bateria) anunciaram que voltariam a fazer shows
sob a alcunha do Queen, Satanás
teve a certeza de que sua banda ia
ganhar dois ótimos músicos.
Afinal, haveria maior pecado
que reerguer um dos melhores
shows de rock da história, pau a
pau com os Rolling Stones, sem
sua prima-donna, Freddie Mercury (1946-1991), movidos apenas
por cobiça, vaidade e pelos sonhos de mais fama e fortuna?
Sim, leitor. Eles poderiam ter escolhido Robbie Williams, George
Michael e tantos outros, que o
próprio Cramulhão seria capaz de
bater a porta na cara dos hereges.
Tanto que o baixista John Deacon
se aposentou e nem dá as caras.
O que salva May e Taylor foi a
escolha inteligente de Paul Rodgers para o microfone. Ex-vocalista do Free (banda seminal dos
anos 70, do sucesso "All Right
Now"), ex-Bad Company (superbanda não tão bem-sucedida),
melhor voz do rock britânico, segundo Rod Stewart, Rodgers não
pretende ser maior que Sua Majestade, o repertório. E é aí que ele
garante as duas estrelas do disco.
"Fizemos alguns ensaios e tivemos a certeza de que tínhamos algo de bom", afirma Rodgers, 55, à
Folha. "Sei que eles tiveram outras experiências com George Michael e David Bowie, mas parece
que não tiveram a mesma liga que
conseguimos", completa.
"Return of the Champions", o
disco duplo que registra o show,
acaba se transformando naquilo
que poderia ser: um cover que
não ofende os fãs e os convida a
celebrar a obra que ficou.
A galera de Londres entendeu e
curtiu esse show, gravado no
Hyde Park diante de 65 mil pessoas. Estavam perdoados.
"Depois desses shows, o sentimento que me dá é de alívio", diz
Rodgers, satisfeito com a acolhida, depois de tantas dúvidas e críticas por parte da imprensa.
A verdade é que esse é um disco
que só pode dizer respeito aos fãs
de Queen e, por que não?, de Paul
Rodgers. Seu ar é de celebração do
passado, mas com versões dignas.
É elogiável o que o cantor faz em
"The Show Must Go On". Uma
interpretação rascante e pessoal,
que não pretende imitar Mercury.
É uma versão inspirada, como a
de "Tie Your Mother Down".
Além de recriar a energia do
Queen, o show ganha com a descontração, já que permite que os
membros remanescentes cantem
músicas que eles já cantavam ou
que eram de sua autoria.
Roger Taylor, cuja voz sempre
se assemelhou à de Rod Stewart,
canta a clássica "I"m in Love with
My Car", do álbum "A Night at
the Opera", de onde May recupera o country de "'39", já esquecida
na reta final do grupo.
O problema é que há coisas que,
num show desse tipo, você não
quer ouvir. Isso é "Say It's Not
True", música chata para uma
campanha contra a Aids, doença
que levou Mercury. Você também
não quer ouvir uma versão lenta
cantada por May de "Hammer to
Fall", um dos melhores rocks entre os altos e baixos do grupo.
A porção Rodgers também tem
suas ressalvas. Se "All Right Now"
é bem-vinda, as outras soam pálidas quando comparadas ao material do Queen -todos os clássicos, inclusive o tradicional playback de "Bohemian Rhapsody",
que Rodgers ataca no fim.
A última boa idéia foi dar o nome de "Queen + Paul Rodgers" à
empreitada, só para garantir os limites da coisa. "Não sei até quando vai durar, temos alguns shows
marcados", diz o cantor.
Return of the Champions
Artista: Queen e Paul Rodgers
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 50, em média
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