São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Rodgers encabeça retorno do Queen

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Brian May (guitarra) e Roger Taylor (bateria) anunciaram que voltariam a fazer shows sob a alcunha do Queen, Satanás teve a certeza de que sua banda ia ganhar dois ótimos músicos.
Afinal, haveria maior pecado que reerguer um dos melhores shows de rock da história, pau a pau com os Rolling Stones, sem sua prima-donna, Freddie Mercury (1946-1991), movidos apenas por cobiça, vaidade e pelos sonhos de mais fama e fortuna?
Sim, leitor. Eles poderiam ter escolhido Robbie Williams, George Michael e tantos outros, que o próprio Cramulhão seria capaz de bater a porta na cara dos hereges. Tanto que o baixista John Deacon se aposentou e nem dá as caras.
O que salva May e Taylor foi a escolha inteligente de Paul Rodgers para o microfone. Ex-vocalista do Free (banda seminal dos anos 70, do sucesso "All Right Now"), ex-Bad Company (superbanda não tão bem-sucedida), melhor voz do rock britânico, segundo Rod Stewart, Rodgers não pretende ser maior que Sua Majestade, o repertório. E é aí que ele garante as duas estrelas do disco.
"Fizemos alguns ensaios e tivemos a certeza de que tínhamos algo de bom", afirma Rodgers, 55, à Folha. "Sei que eles tiveram outras experiências com George Michael e David Bowie, mas parece que não tiveram a mesma liga que conseguimos", completa.
"Return of the Champions", o disco duplo que registra o show, acaba se transformando naquilo que poderia ser: um cover que não ofende os fãs e os convida a celebrar a obra que ficou.
A galera de Londres entendeu e curtiu esse show, gravado no Hyde Park diante de 65 mil pessoas. Estavam perdoados.
"Depois desses shows, o sentimento que me dá é de alívio", diz Rodgers, satisfeito com a acolhida, depois de tantas dúvidas e críticas por parte da imprensa.
A verdade é que esse é um disco que só pode dizer respeito aos fãs de Queen e, por que não?, de Paul Rodgers. Seu ar é de celebração do passado, mas com versões dignas.
É elogiável o que o cantor faz em "The Show Must Go On". Uma interpretação rascante e pessoal, que não pretende imitar Mercury. É uma versão inspirada, como a de "Tie Your Mother Down".
Além de recriar a energia do Queen, o show ganha com a descontração, já que permite que os membros remanescentes cantem músicas que eles já cantavam ou que eram de sua autoria.
Roger Taylor, cuja voz sempre se assemelhou à de Rod Stewart, canta a clássica "I"m in Love with My Car", do álbum "A Night at the Opera", de onde May recupera o country de "'39", já esquecida na reta final do grupo.
O problema é que há coisas que, num show desse tipo, você não quer ouvir. Isso é "Say It's Not True", música chata para uma campanha contra a Aids, doença que levou Mercury. Você também não quer ouvir uma versão lenta cantada por May de "Hammer to Fall", um dos melhores rocks entre os altos e baixos do grupo.
A porção Rodgers também tem suas ressalvas. Se "All Right Now" é bem-vinda, as outras soam pálidas quando comparadas ao material do Queen -todos os clássicos, inclusive o tradicional playback de "Bohemian Rhapsody", que Rodgers ataca no fim.
A última boa idéia foi dar o nome de "Queen + Paul Rodgers" à empreitada, só para garantir os limites da coisa. "Não sei até quando vai durar, temos alguns shows marcados", diz o cantor.


Return of the Champions
  
Artista: Queen e Paul Rodgers
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 50, em média


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