São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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CINEMA

Pelo cinema, toda nudez será abençoada

COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Num mundo supostamente machista, o cinema foi caridoso no espaço que deu para as mulheres mostrarem seu lado mais, digamos assim, John Wayne. À parte Marlene Dietrich e Greta Garbo, houve aquelas que peitavam os homens sem perder a suavidade. Uma delas foi a chatinha, mas notável, Jean Arthur, cujo papel célebre está em "A Mulher Faz o Homem".
Mas cineastas como Howard Hawks, contudo, desprezavam essas mitologias e preferiam os fatos, tanto mais complexos, aliás. No magnífico "Paraíso Infernal" (Cinemax, 17h15), Hawks não despreza a altivez da loura (Jean Arthur, ainda) que chega a uma base aérea nos Andes. Mas será o comandante da base, Cary Grant, quem deixará claro que ela, como qualquer mulher ali, não tem fibra para suportar o estresse que acompanha o cotidiano daquele lugar. O filme não deixará, também, de atestar certa fragilidade dos homens, que acabam tendo suas pequenas como sua melhor muleta.
O que Hawks nos fala, também, é sobre o papel de cada um na engrenagem homem-mulher, algo pertinente naquele ano de 1939, mas que serve hoje, pois a independência da mulher traduziu-se, às vezes, em aspereza.
Assim, temos uma outra loura, Darlene Glória, que foi das mulheres mais irreverentes de sua época, mangando da ordem machista sem deixar de ser um corpo à disposição dos olhares masculinos, um símbolo sexual. Em "Toda Nudez Será Castigada" (Canal Brasil, 20h), sua personagem Geni é deveras mais forte que Herculano (Paulo Porto), um borra-botas arruinado pela viuvez e que lhe pede em casamento. Como dona-de-casa, ela em princípio reforça um papel feminino perfeito para o ideário machista, mas o que faz, no fundo, é colocar em xeque os homens daquela família. Coube ao cinema, portanto, mostrar uma mulher, por assim dizer, ideal: defendendo sua vaga no mundo sem perder o salto alto. (PAULO SANTOS LIMA)

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