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CINEMA
Pelo cinema, toda nudez será abençoada
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Num mundo supostamente
machista, o cinema foi caridoso
no espaço que deu para as mulheres mostrarem seu lado mais, digamos assim, John Wayne. À parte Marlene Dietrich e Greta Garbo, houve aquelas que peitavam
os homens sem perder a suavidade. Uma delas foi a chatinha, mas
notável, Jean Arthur, cujo papel
célebre está em "A Mulher Faz o
Homem".
Mas cineastas como Howard
Hawks, contudo, desprezavam
essas mitologias e preferiam os fatos, tanto mais complexos, aliás.
No magnífico "Paraíso Infernal"
(Cinemax, 17h15), Hawks não
despreza a altivez da loura (Jean
Arthur, ainda) que chega a uma
base aérea nos Andes. Mas será o
comandante da base, Cary Grant,
quem deixará claro que ela, como
qualquer mulher ali, não tem fibra para suportar o estresse que
acompanha o cotidiano daquele
lugar. O filme não deixará, também, de atestar certa fragilidade
dos homens, que acabam tendo
suas pequenas como sua melhor
muleta.
O que Hawks nos fala, também,
é sobre o papel de cada um na engrenagem homem-mulher, algo
pertinente naquele ano de 1939,
mas que serve hoje, pois a independência da mulher traduziu-se,
às vezes, em aspereza.
Assim, temos uma outra loura,
Darlene Glória, que foi das mulheres mais irreverentes de sua
época, mangando da ordem machista sem deixar de ser um corpo
à disposição dos olhares masculinos, um símbolo sexual. Em "Toda Nudez Será Castigada" (Canal
Brasil, 20h), sua personagem Geni
é deveras mais forte que Herculano (Paulo Porto), um borra-botas
arruinado pela viuvez e que lhe
pede em casamento. Como dona-de-casa, ela em princípio reforça
um papel feminino perfeito para
o ideário machista, mas o que faz,
no fundo, é colocar em xeque os
homens daquela família. Coube
ao cinema, portanto, mostrar
uma mulher, por assim dizer,
ideal: defendendo sua vaga no
mundo sem perder o salto alto.
(PAULO SANTOS LIMA)
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