São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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DESIGN

Dupla de designers brasileiros apresenta novos trabalhos nos EUA e expõe uma seleção de peças em evento em Tóquio

Sinos dos Campana dobram em Nova York

MARA GAMA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os irmãos Humberto e Fernando Campana passaram parte do mês de junho de 2005 sob o calor de 40 C do verão europeu na boca dos fornos da mais tradicional manufatura de vidro de Murano, ilha vizinha à Veneza (Itália).
Fizeram a mesma trilha de designers como Gio Ponti, Ettore Sottsass e outros que experimentaram a produção de vidro nas instalações e com auxílio dos mestres vidreiros da Venini, casa fundada em 1921, produtora de luminárias, lustres, candelabros e castiçais e referência no design de cristais com a técnica do sopro.
O resultado pode ser visto de hoje até 18 de dezembro na Moss Galery, em Nova York, numa instalação que ocupa uma parede de 18 m de extensão por 3,5 m de altura.
Nela, 175 sinos de cristal de formatos inusuais, sonoridades variadas e altura máxima de 70 cm se sustentam numa trama de cordas de cânhamo. Um braço de corda pendente permite que os visitantes façam soar a instalação. Cada uma das peças é numerada e assinada -Campane di Campana; Venini per Moss, 2005. Os preços vão de US$ 1.600 a US$ 9.000.
"Chegamos a Murano sem projeto detalhado, mas decididos a criar sinos, tendo como referência um sino de cristal da Boêmia de nossa mãe", conta Fernando Campana, em entrevista por telefone anteontem, durante a montagem da exposição.
"Sino é um objeto meio sagrado, tem o poder do som, da anunciação. Resolvemos trabalhar com isso e com a brincadeira com o nosso nome", afirma. Campana, em italiano, significa sino.
"Quando começamos a pegar pedaços de lustres e candelabros, cornucópias e cornetas de dentro da vidreira com a intenção de fazer colagens, os mestres que trabalharam com a gente acharam loucura. Eles são tradicionais. Mas também nunca tinham feito sinos. De nosso lado, já estamos acostumados a começar sem saber o que virá. Nosso trabalho é empírico, aprendemos fazendo e incorporamos as imperfeições. Isso faz parte da nossa poética", diz Fernando.
Para suas "colagens de vidro", a dupla também usou cristais baratos e produzidos em série e vendidos a preço de banana nas lojinhas de Veneza. Joaninhas, sapos, escorpiões e personagens da Disney meio desfigurados se grudam aos sinos.
"Foi como trazer um vírus para dentro de um hospital. Usamos a coisa mais vulgar que se tem em vidro aplicada sobre a base mais pura, feita com a areia especial pelos mestres da Venini. Essas colônias de bichos têm a mesma idéia das cadeiras "Multidão" (feita com bonecas de pano)".
Logo após a abertura da exposição em Nova York, Fernando e Humberto Campana embarcam para Tóquio, para sua primeira exposição no Japão.
Uma seleção de oito peças de mobiliário produzidos pela casa de design italiana Edra será apresentada na sede da Embaixada brasileira em Tóquio de 1º a 18 de novembro. Fazem parte da mostra o pufe "Sushi", as cadeiras "Favela", "Coralo", "Jenette" e objetos da série "Zigzag".
De 2 a 6 de novembro, a dupla participa do Design Tide de Tóquio, um evento que reúne galerias, lojas, manufaturas e indústrias e que tem por objetivo integrar criadores e produtores para novos projetos e discussões.
Exposições e debates acontecem em locais de referência do design e da arquitetura na cidade. A peça dos Campana será exposta no Claska Hotel (Claska vem de "dou kurasuka" ou "como viver bem"), escolhido pela revista "Wallpaper" como o melhor hotel de 2004.
A Design Tide dá um prêmio internacional e edita um anuário com os trabalhos de cada uma de suas versões.
Entre artistas estrangeiros, participam da Design Tide neste ano os holandeses Tord Boontje e Marcel Wande, o tunisiano Tom Dixon e os coletivos internacionais Bob Foundation e Takeaway, do qual faz parte a brasileira Flavia Alves de Souza.


Mara Gama é gerente geral de entretenimento do UOL

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