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DESIGN
Dupla de designers brasileiros apresenta novos trabalhos nos EUA e expõe uma seleção de peças em evento em Tóquio
Sinos dos Campana dobram em Nova York
MARA GAMA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os irmãos Humberto e Fernando Campana passaram parte do
mês de junho de 2005 sob o calor
de 40 C do verão europeu na boca dos fornos da mais tradicional
manufatura de vidro de Murano,
ilha vizinha à Veneza (Itália).
Fizeram a mesma trilha de designers como Gio Ponti, Ettore
Sottsass e outros que experimentaram a produção de vidro nas
instalações e com auxílio dos
mestres vidreiros da Venini, casa
fundada em 1921, produtora de
luminárias, lustres, candelabros e
castiçais e referência no design de
cristais com a técnica do sopro.
O resultado pode ser visto de
hoje até 18 de dezembro na Moss
Galery, em Nova York, numa instalação que ocupa uma parede de
18 m de extensão por 3,5 m de altura.
Nela, 175 sinos de cristal de formatos inusuais, sonoridades variadas e altura máxima de 70 cm
se sustentam numa trama de cordas de cânhamo. Um braço de
corda pendente permite que os visitantes façam soar a instalação.
Cada uma das peças é numerada e
assinada -Campane di Campana; Venini per Moss, 2005. Os preços vão de US$ 1.600 a US$ 9.000.
"Chegamos a Murano sem projeto detalhado, mas decididos a
criar sinos, tendo como referência
um sino de cristal da Boêmia de
nossa mãe", conta Fernando
Campana, em entrevista por telefone anteontem, durante a montagem da exposição.
"Sino é um objeto meio sagrado, tem o poder do som, da anunciação. Resolvemos trabalhar
com isso e com a brincadeira com
o nosso nome", afirma. Campana, em italiano, significa sino.
"Quando começamos a pegar
pedaços de lustres e candelabros,
cornucópias e cornetas de dentro
da vidreira com a intenção de fazer colagens, os mestres que trabalharam com a gente acharam
loucura. Eles são tradicionais.
Mas também nunca tinham feito
sinos. De nosso lado, já estamos
acostumados a começar sem saber o que virá. Nosso trabalho é
empírico, aprendemos fazendo e
incorporamos as imperfeições. Isso faz parte da nossa poética", diz
Fernando.
Para suas "colagens de vidro", a
dupla também usou cristais baratos e produzidos em série e vendidos a preço de banana nas lojinhas de Veneza. Joaninhas, sapos,
escorpiões e personagens da Disney meio desfigurados se grudam
aos sinos.
"Foi como trazer um vírus para
dentro de um hospital. Usamos a
coisa mais vulgar que se tem em
vidro aplicada sobre a base mais
pura, feita com a areia especial pelos mestres da Venini. Essas colônias de bichos têm a mesma idéia
das cadeiras "Multidão" (feita com
bonecas de pano)".
Logo após a abertura da exposição em Nova York, Fernando e
Humberto Campana embarcam
para Tóquio, para sua primeira
exposição no Japão.
Uma seleção de oito peças de
mobiliário produzidos pela casa
de design italiana Edra será apresentada na sede da Embaixada
brasileira em Tóquio de 1º a 18 de
novembro. Fazem parte da mostra o pufe "Sushi", as cadeiras
"Favela", "Coralo", "Jenette" e
objetos da série "Zigzag".
De 2 a 6 de novembro, a dupla
participa do Design Tide de Tóquio, um evento que reúne galerias, lojas, manufaturas e indústrias e que tem por objetivo integrar criadores e produtores para
novos projetos e discussões.
Exposições e debates acontecem em locais de referência do
design e da arquitetura na cidade.
A peça dos Campana será exposta
no Claska Hotel (Claska vem de
"dou kurasuka" ou "como viver
bem"), escolhido pela revista
"Wallpaper" como o melhor hotel de 2004.
A Design Tide dá um prêmio internacional e edita um anuário
com os trabalhos de cada uma de
suas versões.
Entre artistas estrangeiros, participam da Design Tide neste ano
os holandeses Tord Boontje e
Marcel Wande, o tunisiano Tom
Dixon e os coletivos internacionais Bob Foundation e Takeaway,
do qual faz parte a brasileira Flavia Alves de Souza.
Mara Gama é gerente geral de entretenimento do UOL
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