São Paulo, quarta, 28 de outubro de 1998

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NETVOX
O walkman dos piratas

MARIA ERCILIA
editora de Internet

Todo mundo já gravou uma fita com suas músicas preferidas para levar numa viagem ou dar para um amigo. Todo mundo sabe que reproduzir música sem pagar royalties é ilegal, mas a Sony e a BMG não vão sair atrás de ninguém por causa de compilações caseiras, com capinhas desenhadas ou rabiscadas a caneta.
Mas certos tipos de infração são uma questão de escala. Tirar cópias xerox de livros escolares se tornou ilegal no Brasil, por exemplo. Tinha virado uma indústria grande a ponto de incomodar editoras. Mas ainda dá para levar um livro no xerox da esquina e tirar umas cópias, ninguém vai ser preso por isso. Pedofilia sempre existiu -mas nunca com tanta facilidade de acesso como na Internet.
É por esse problema da escala que a indústria fonográfica está arrancando os cabelos. O inimigo se chama MP3 -um formato de gravação de áudio que deixa os arquivos dez vezes menores e que se espalhou feito praga na Internet (uma busca no Altavista encontrou a palavra MP3 1.757.416 vezes!).
Existem alguns sites oficiais de MP3, com o copyright em dia. Mas a grande maioria é de arquivos ilegais, de garotos que copiam CDs inteiros e oferecem para troca em salas de bate-papo e sites. Você não vai achar estes sites no Yahoo, mas perguntando um pouco por aí, encontra de tudo.
Qualquer um pode pegar um CD, colocar no drive do computador e, usando um "data ripper" (que pode ser encontrado em sites como o www.mp3.com), copiá-lo todo para o seu computador. Daí à transferência para um site qualquer é questão de minutos.
Mesmo assim, o MP3 ainda estava restrito a quem usa o computador mais intensamente. Você pegava as músicas em formato digital, mas para tirá- las do computador teria que queimar um CD, e para isso precisaria ter um dispositivo que grava CDs em casa, que pouca gente tem etc.
Só que um aparelhinho chamado Rio veio complicar -ou simplificar- as coisas. Ele vai ser lançado em novembro nos EUA, a US$ 199. É um walkman ainda menor que os comuns, que pode ser conectado ao computador e copia uma hora de música em MP3.
A qualidade é muito próxima à de CD, e o Rio pode ser chacoalhado à vontade, pois não tem partes móveis, nem cabeçotes, nem agulhas.
A indústria de música norte- americana resolveu processar a Diamond, fabricante do Rio, afirmando que ele é um incentivo à pirataria. Ontem o juiz deu uma sentença favorável à Diamond, que vai poder lançar o produto em paz.
As gravadoras queriam que o Rio, se lançado, tivesse um dispositivo que impede a gravação de músicas ilegais. A Diamond não quer saber disso -nem de pagar os royalties que os fabricantes de equipamentos de gravação pagam à indústria.
A empresa alega que o Rio não é um gravador, mas um aparelho que executa músicas gravadas da Internet. Seja como for, o walkman vai poder chegar ao mercado, tirando o MP3 do domínio nerd.
Mesmo nos sites autorizados, o movimento é enorme. O MP3.com, que existe há cerca de um ano, já teve 4 milhões de downloads, e seu tráfego cresce 45% por mês. No Brasil, é só procurar que você encontra também muita coisa em MP3.
Existem alternativas ao MP3, como o formato da N2K (www.n2k.com) e da Liquid Audio (www.liquidaudio.com), que permitem o controle de direitos autorais. Ambos usam sistemas de criptografia que identificam a pessoa que copiou o arquivo de CDs da Internet.
Mas nem tudo é gravação pirata no mundo do MP3. No topo das paradas extra-oficiais estão trechos sampleados de depoimentos de Bill Clinton, com nomes sugestivos como "That Woman" e "She Touched My Weenie"...
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Revista fala de tecno e metal
Tem tecno, rock, pop e muito palpite na revista on line brasileira "The Bambas", de Camilo Rocha -o número 6 já está na Web (www.hey.to/thebambas). Tem de Chemical Brothers a Iron Maiden, passando por Love and Rockets e até Lenny Kravitz

NOTAS

Péssima combinação
Diz Scott Adams, criador de Dilbert: "Não acho que o maior volume de mídia esteja deixando as pessoas mais estúpidas. Acho que as pessoas são tão burras quanto eram no tempo das cavernas. A evolução não trabalhou tão depressa. Mas o mundo se tornou mais complicado, por isso há somente algumas pessoas que podem enxergar todos os fatos em uma situação e mantê-los em mente. As duas piores coisas que aconteceram foram devido à tecnologia. Tudo se tornou mais complicado. Mesmo pessoas inteligentes não conseguem dar conta do mundo. Mas ao mesmo tempo, por causa de pesquisas e enquetes instantâneas (e a Internet vai tornar isso pior, quando qualquer um puder votar em casa, tomando cerveja), você tem mais democracia e pessoas com menos capacidade de entender as coisas. Não poderia existir combinação pior".
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Ataque a empresas
Cerca de 35% das empresas brasileiras sofreram algum tipo de invasão em seus computadores, sendo que 27% destas invasões ocorreram nos últimos 12 meses. São as conclusões de uma pesquisa realizada pela empresa de segurança Módulo. As empresas brasileiras estão extremamente vulneráveis a ataques via Internet, e 42% delas apontam a rede mundial como seu maior fator de risco externo. Leia mais no www.modulo.com.br
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Na Rocinha
Vai ser inaugurado ainda este ano um laboratório de acesso à Internet na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. O patrocínio é da TV Rocinha e do provedor de acesso carioca Bridge.
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