São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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DE OSWALD A NIEMEYER

Áreas como a fotografia, que não foi representada no evento, ganham espaço na mostra em SP

Exposição completa a Semana de 1922

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O ciclo de exposições com artistas modernistas brasileiros (Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, no MAM, e as obras da coleção Fadel, no Centro Cultural Banco do Brasil) recebe sua última e mais completa etapa com a mostra "Brasil, da Antropofagia a Brasília - 1920-1950", que será aberta no próxima sábado, no Museu de Arte Brasileira da Faap.
Enquanto a mostra do CCBB questiona o que seu curador, Paulo Herkenhoff, classifica como uma "visão geopolítica da arte a partir da geopolítica de São Paulo", a exposição da Faap, sob a curadoria do professor de literatura da USP, Jorge Schwartz, assume a Semana de Arte Moderna de 1922 como inspiração.
"Logo que recebi o convite para organizar a exposição na Espanha, achei que era importante incorporar o caráter multidisciplinar da Semana de 22, apresentando assim artes plásticas, literatura, arquitetura e música, incluindo fotografia e cinema."
A ausência dessas duas áreas no evento paulista, organizado há 80 anos, é, aliás, uma das críticas de Herkenhoff ao vanguardismo paulista. "Não tinha cabimento um evento excluir a fotografia, uma das expressões marcantes do início do século 20", afirma o curador da mostra no CCBB.

Flávio de Carvalho
Apesar das visões divergentes, ambos os curadores têm um ponto em comum: a importância do artista Flávio de Carvalho. Ele é destaque no CCBB e o único artista a ter uma sala especial na Faap. "Ele transitou por várias áreas, da arquitetura à pintura, de desenhista de roupas à performance", afirma Schwartz.
Mesmo ressaltando a importância do casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, fundadores, junto com Raul Bopp, do movimento antropofágico (logo na entrada da mostra é possível vislumbrar, por um pequeno quadrado, a tela "Abaporu", de Tarsila, que inspirou Oswald no "Manifesto Antropófago"), Schwartz aponta o recifense Vicente do Rego Monteiro, como precursor da temática. O desenho "Antropófago" (1921), que faz parte da mostra, adianta em oito anos o texto de Oswald, o que retira de certa forma a sua originalidade.
A mostra foi organizada com o auxílio de cinco curadores para seus diferentes temas. Na Faap, ela está organizada em dez salas, que obedecem a uma ordem cronológica. "Não quis nenhuma cenografia especial, são as obras que devem ser ressaltadas", afirma Schwartz.
O que foi motivo de crítica na Espanha, o excesso de documentos e didatismo, foi mantido no Brasil. A organização da mostra privilegia o uso de vitrines na horizontal que, utilizadas em grande quantidade, podem cansar o visitante.
Entretanto a diversidade de obras expostas -há desde originais de documentos da organização da Semana de 22, pela primeira vez expostos, até maquetes italianas de edifícios modernos como o Copan, de Oscar Niemeyer, e o conjunto do Pedregulho, de Affonso Reidy, tornam a visita um percurso de descobrimentos. Independente do partido que se tome. (FABIO CYPRIANO)


BRASIL, DA ANTROPOFAGIA A BRASÍLIA - 1920-1950. Mostra que retrata 40 anos do modernismo brasileiro de forma multidisciplinar. Curadoria: Jorge Schwartz. Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, SP, tel. 0/xx/11/3662-7198). Quando: abertura sábado (para convidados); de ter. a sex., das 10h às 20h, sáb. e dom., das 13h às 18h. Até 2/ 3/2003. Quanto: entrada franca.


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