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NET CETERA
A vida é uma droga, e aí você morre (on-line)
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Um hacker e seus dois amigos estão sentados num sofá
discutindo uma idéia que um deles teve. Resolvem fazer um juramento: o primeiro dos três que
morrer está autorizando em vida
que os outros dois coloquem uma
webcam dentro de seu caixão e
transmitam ao vivo e online a decomposição de seu cadáver.
"Webcam, não, necrocam",
corrige Christine, a única garota
do trio, que descobriu que está
com uma forma incurável de câncer e tem poucos meses de vida,
mas não perdeu o humor.
"OK, necrocam", concede Xeno, o hacker-chefe, que vem ganhando mais dinheiro que seu pai com seus esquemas de informática e, com isso, causando uma certa cizânia em sua família.
"Então, vamos jurar", continua
ele, que além disso mantém um
daqueles sites que transmitem tudo o que você faz 24 horas por dia.
E os três: "Juramos pelo túmulo
de Bill Gates!".
Assim começa "Necrocam", um
obscuro telefilme holandês que
acaba de cair na rede e começa a
formar um pequeno culto a seu
redor. Merece: são pouco mais de
50 minutos que lidam de uma
maneira original e direta com a
morte entre adolescentes na era
do www e do pontocom.
Foi exibido em setembro último
pela emissora pública holandesa
VARA, que, com o sucesso alcançado entre os adolescentes, resolveu colocar o filme inteiro à disposição em seu site (www.vara.nl/necrocam). O melhor: com legendas em inglês, já que o original
é falado em holandês.
A direção é de Dana Nechustan,
holandesa que vem fazendo sua
carreira com telefilmes para a VARA, curtas e, até agora, um longa,
"Total Loss", de 2000, não por
acaso a história de um trio (desta
vez amoroso) que se envolve depois de um acidente.
Já o roteiro é da jornalista especializada em internet Ine Poppe,
criadora do polêmico site Women with Beards (www.womenwithbeards.org), que é isso mesmo, um endereço que reúne
exemplares da cada vez mais popular prática homossexual feminina, de mulheres com barbas.
A mistura deu certo. Principalmente no final, em que os dois remanescentes conseguem instalar
a tal necrocam no caixão da pessoa que morre do trio original (as
aparências enganam).
Com o detalhe de que os internautas que visitam o site que
mostra o corpo sendo decomposto podem controlar a temperatura do caixão, acelerando ou atrasando o processo de deglutição
dos vermes. Já que não controlaram a vida, tentam dominar a
morte a toques de mouse.
E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Site: www.uol.com.br/sergiodavila
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