|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"COLEÇÃO BRASIL"
Com extras em todos os discos, saem "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Bye Bye Brazil" e "Romance da Empregada"
Pacote ressalta produção ambígua dos Barreto
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A Paramount chama de
"Coleção Brasil". Mas não
estaria errada se chamasse de
"Coleção Barreto" seus três lançamentos: "Bye Bye Brazil", "Dona
Flor e Seus Dois Maridos" e "Romance da Empregada" -todos
produzidos pela L.C. Barreto.
A impressão deixada por esse
conjunto inicial é ambígua. Não
faz justiça à diversidade da produção Barreto (que inclui, entre outros, o prodigioso "Memórias do
Cárcere", de Nelson Pereira dos
Santos, ou o sublime "Inocência",
de Walter Lima Jr.), mas indica a
dedicação cada vez maior aos trabalhos em família -isto é, feitos
por Bruno e Fabio, os dois filhos
de Luiz Carlos e Lucy Barreto.
Dos três, o maior êxito pertence
a Bruno. "Dona Flor" permanece
como o maior sucesso filmado no
Brasil. É característico de um cinema estritamente representativo, que é o professado por Bruno.
Isso lhe dá a vantagem de se dirigir a um público amplo. Mas convém perguntar o que se ganha
com isso (além de dinheiro).
Não é muito: se adapta uma
obra de Jorge Amado, se traz uma
Sonia Braga no auge da beleza e se
tira um filme simpático pela safadeza tão "made in Brazil", embora disfarçada de produto cultural.
No "making of", ele diz que quis
criticar os costumes da classe média. Já vi políticos apelarem para
lugares-comuns menos comuns.
A "pièce de résistence" é, sem
dúvida, "Bye Bye Brazil", um dos
dois ou três melhores filmes de
Carlos Diegues. O registro não é o
do realismo representativo, mas o
da alegoria espetacular. Defende
um cinema espetáculo à brasileira, que às vezes é mal compreendido, outras mal executado.
Aqui foi bem executado e bem
compreendido: sua Caravana Rolidei vai aos confins do Brasil,
constatando (ou postulando) a
morte de um velho país e o nascimento de um novo. Estávamos
em 1979, ano da anistia. Momento
de constatar que o Brasil sonhado
pela esquerda nos anos 60 estava
morto e enterrado pelos ventos
modernizadores da ditadura. O
que vinha era outra coisa. Diegues
acertou na mosca, é o mínimo.
Completa o lote "Romance da
Empregada", para alguns o melhor Bruno Barreto, para outros
meio antiquado. A notar: extras
em todos os discos, importante
em termos de registro histórico.
Coleção Brasil
Bye Bye Brazil:
Dona Flor e Seus Dois Maridos:
Romance da Empregada:
Distribuidora: Paramount
Quanto: R$ 40, cada DVD
Texto Anterior: TV paga: National Geographic terá documentário brasileiro Próximo Texto: Viva Voz - Alguém Pode Estar te Ouvindo Índice
|