São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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"COLEÇÃO BRASIL"

Com extras em todos os discos, saem "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Bye Bye Brazil" e "Romance da Empregada"

Pacote ressalta produção ambígua dos Barreto

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A Paramount chama de "Coleção Brasil". Mas não estaria errada se chamasse de "Coleção Barreto" seus três lançamentos: "Bye Bye Brazil", "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Romance da Empregada" -todos produzidos pela L.C. Barreto.
A impressão deixada por esse conjunto inicial é ambígua. Não faz justiça à diversidade da produção Barreto (que inclui, entre outros, o prodigioso "Memórias do Cárcere", de Nelson Pereira dos Santos, ou o sublime "Inocência", de Walter Lima Jr.), mas indica a dedicação cada vez maior aos trabalhos em família -isto é, feitos por Bruno e Fabio, os dois filhos de Luiz Carlos e Lucy Barreto.
Dos três, o maior êxito pertence a Bruno. "Dona Flor" permanece como o maior sucesso filmado no Brasil. É característico de um cinema estritamente representativo, que é o professado por Bruno. Isso lhe dá a vantagem de se dirigir a um público amplo. Mas convém perguntar o que se ganha com isso (além de dinheiro).
Não é muito: se adapta uma obra de Jorge Amado, se traz uma Sonia Braga no auge da beleza e se tira um filme simpático pela safadeza tão "made in Brazil", embora disfarçada de produto cultural.
No "making of", ele diz que quis criticar os costumes da classe média. Já vi políticos apelarem para lugares-comuns menos comuns.
A "pièce de résistence" é, sem dúvida, "Bye Bye Brazil", um dos dois ou três melhores filmes de Carlos Diegues. O registro não é o do realismo representativo, mas o da alegoria espetacular. Defende um cinema espetáculo à brasileira, que às vezes é mal compreendido, outras mal executado.
Aqui foi bem executado e bem compreendido: sua Caravana Rolidei vai aos confins do Brasil, constatando (ou postulando) a morte de um velho país e o nascimento de um novo. Estávamos em 1979, ano da anistia. Momento de constatar que o Brasil sonhado pela esquerda nos anos 60 estava morto e enterrado pelos ventos modernizadores da ditadura. O que vinha era outra coisa. Diegues acertou na mosca, é o mínimo.
Completa o lote "Romance da Empregada", para alguns o melhor Bruno Barreto, para outros meio antiquado. A notar: extras em todos os discos, importante em termos de registro histórico.


Coleção Brasil
Bye Bye Brazil:     
Dona Flor e Seus Dois Maridos:   
Romance da Empregada:   

Distribuidora: Paramount
Quanto: R$ 40, cada DVD


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