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Eterno "cafajeste", Valadão morre aos 76
Ator de filmes como "Boca de Ouro" e "Bonitinha, mas Ordinária", "machão" estava internado havia uma semana
Convertido à religião evangélica há mais de dez anos, ele encerra carreira com Zé do Caixão em "Encarnação do Demônio"
DA REPORTAGEM LOCAL
Eterno "cafajeste" do cinema
brasileiro, Jece Valadão morreu ontem, aos 76 anos, em São
Paulo. O ator estava internado
havia uma semana, em razão de
uma crise de insuficiência respiratória aguda, e respirava
com o auxílio de aparelhos.
Valadão deu entrada na
emergência do hospital Modelo
na segunda-feira (20/11), e no
dia seguinte foi transferido à
UTI do Panamericano. Segundo o boletim médico que noticiou sua morte, ele sofreu ontem uma "piora no quadro geral, com instabilidade hemodinâmica e comprometimento da
função renal" e foi submetido a
hemodiálise. Morreu às 17h20,
após uma arritmia cardíaca.
Seu currículo no cinema registra mais de cem filmes, com
atuações célebres, como em
"Os Cafajestes" (1962), "Boca
de Ouro" e "Bonitinha, Mas Ordinária" (ambos de 1963).
Conhecido por interpretar o
"machão" no cinema nas décadas de 60 e 70, Valadão encerrou ontem sua carreira arrependido de ter representado
esse papel também na vida real.
Convertido há pouco mais de
dez anos à religião evangélica,
tornou-se pastor e passou a
condenar o tratamento que antes dava às mulheres -além de
seis casamentos, colecionava
amantes-, a vida boêmia regada a álcool e cigarro e a falta de
atenção dispensada aos filhos.
Valadão possuía vários imóveis e carros de luxo, tudo deixado para trás com a conversão,
que o fez também restringir a
presença no cinema e na TV.
Em 2001, recusou convite
para atuar na novela "Porto dos
Milagres", da Globo, escrita por
Aguinaldo Silva com base em
Jorge Amado. Numa entrevista, explicou o motivo: "Tinha
muita coisa de macumba".
Antes da internação, dedicava-se às filmagens de "Encarnação do Demônio", de José
Mojica Marins, que marca a
volta de Zé do Caixão às telas.
Valadão deixou cenas como o
coronel Claudiomiro. Até o fechamento desta edição, a Gullane Filmes, produtora do longa-metragem, não havia divulgado que destino dará ao último personagem do ator.
Neste ano, Valadão atuou
também na novela da Globo
"Bang Bang" e interpretou um
velho bicheiro na elogiada série
"Filhos do Carnaval", dirigida
por Cao Hamburger para a
HBO, que concorreu ao Emmy
Internacional, o "Oscar da TV".
Pai de nove filhos, foi casado
com Vera Gimenez. Dizia em
tom de brincadeira ser "quase
sogro de Mick Jagger", já que a
relação com a atriz começou
quando Luciana Gimenez -ex-namorada do astro e filha de
Vera com um empresário- tinha nove meses. Sua atual mulher chama-se Vera Lúcia.
Ele iniciou a carreira como
radialista nos anos 40. No cinema, começou como figurante e
logo passou a protagonizar
chanchadas, participou do cinema novo e trabalhou em comédias da década de 70.
Produtor
Além de ator, também foi um
dos principais produtores do
país entre os anos 60 e 70. Entre os títulos produzidos por
ele, estão "Navalha na Carne"
(1969) e "Eu Matei Lúcio Flávio" (1979). Atuou ainda como
diretor e roteirista. Na TV, participou das minisséries "Anos
Dourados" (1986) e "Memorial
de Maria Moura" (1994), além
de novelas como "Olho por
Olho" (1988), "O Dono do Mundo" (1991), na Globo.
Em 2001, sua conversão religiosa foi documentada em "O
Evangelho Segundo Jece Valadão", no qual conta saborosas
histórias: "Brochei com a Norma [Bengell]", confessa, sobre a
musa de "Os Cafajestes".
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