São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Eterno "cafajeste", Valadão morre aos 76

Ator de filmes como "Boca de Ouro" e "Bonitinha, mas Ordinária", "machão" estava internado havia uma semana

Convertido à religião evangélica há mais de dez anos, ele encerra carreira com Zé do Caixão em "Encarnação do Demônio"

DA REPORTAGEM LOCAL

Eterno "cafajeste" do cinema brasileiro, Jece Valadão morreu ontem, aos 76 anos, em São Paulo. O ator estava internado havia uma semana, em razão de uma crise de insuficiência respiratória aguda, e respirava com o auxílio de aparelhos.
Valadão deu entrada na emergência do hospital Modelo na segunda-feira (20/11), e no dia seguinte foi transferido à UTI do Panamericano. Segundo o boletim médico que noticiou sua morte, ele sofreu ontem uma "piora no quadro geral, com instabilidade hemodinâmica e comprometimento da função renal" e foi submetido a hemodiálise. Morreu às 17h20, após uma arritmia cardíaca.
Seu currículo no cinema registra mais de cem filmes, com atuações célebres, como em "Os Cafajestes" (1962), "Boca de Ouro" e "Bonitinha, Mas Ordinária" (ambos de 1963).
Conhecido por interpretar o "machão" no cinema nas décadas de 60 e 70, Valadão encerrou ontem sua carreira arrependido de ter representado esse papel também na vida real.
Convertido há pouco mais de dez anos à religião evangélica, tornou-se pastor e passou a condenar o tratamento que antes dava às mulheres -além de seis casamentos, colecionava amantes-, a vida boêmia regada a álcool e cigarro e a falta de atenção dispensada aos filhos.
Valadão possuía vários imóveis e carros de luxo, tudo deixado para trás com a conversão, que o fez também restringir a presença no cinema e na TV.
Em 2001, recusou convite para atuar na novela "Porto dos Milagres", da Globo, escrita por Aguinaldo Silva com base em Jorge Amado. Numa entrevista, explicou o motivo: "Tinha muita coisa de macumba".
Antes da internação, dedicava-se às filmagens de "Encarnação do Demônio", de José Mojica Marins, que marca a volta de Zé do Caixão às telas. Valadão deixou cenas como o coronel Claudiomiro. Até o fechamento desta edição, a Gullane Filmes, produtora do longa-metragem, não havia divulgado que destino dará ao último personagem do ator.
Neste ano, Valadão atuou também na novela da Globo "Bang Bang" e interpretou um velho bicheiro na elogiada série "Filhos do Carnaval", dirigida por Cao Hamburger para a HBO, que concorreu ao Emmy Internacional, o "Oscar da TV".
Pai de nove filhos, foi casado com Vera Gimenez. Dizia em tom de brincadeira ser "quase sogro de Mick Jagger", já que a relação com a atriz começou quando Luciana Gimenez -ex-namorada do astro e filha de Vera com um empresário- tinha nove meses. Sua atual mulher chama-se Vera Lúcia.
Ele iniciou a carreira como radialista nos anos 40. No cinema, começou como figurante e logo passou a protagonizar chanchadas, participou do cinema novo e trabalhou em comédias da década de 70.

Produtor
Além de ator, também foi um dos principais produtores do país entre os anos 60 e 70. Entre os títulos produzidos por ele, estão "Navalha na Carne" (1969) e "Eu Matei Lúcio Flávio" (1979). Atuou ainda como diretor e roteirista. Na TV, participou das minisséries "Anos Dourados" (1986) e "Memorial de Maria Moura" (1994), além de novelas como "Olho por Olho" (1988), "O Dono do Mundo" (1991), na Globo.
Em 2001, sua conversão religiosa foi documentada em "O Evangelho Segundo Jece Valadão", no qual conta saborosas histórias: "Brochei com a Norma [Bengell]", confessa, sobre a musa de "Os Cafajestes".


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