São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Crítica

"Deserto Feliz" acerta com olhar poético sobre a opressão

Longa de Paulo Caldas usa lirismo para abordar vida angústia de jovem nordestina

CRÍTICO DA FOLHA

Na imagem-chave de "Deserto Feliz", usada na abertura e que mais tarde organiza a narrativa, uma adolescente (a estreante Nash Laila) está sentada à beira de uma cama, com expressão angustiada. Parece ser um quarto de hotel. Ao fundo, um homem mais velho, deitado.
A personagem será apresentada em três tempos, com a cadência de um registro cotidiano documental pelo diretor Paulo Caldas, em seu primeiro longa solo - ele assinou a ficção "Baile Perfumado" (1996) com Lírio Ferreira e o documentário "O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas" (2000) com Marcelo Luna.
Primeiro, encontramos a moça em casa, na cidade do título, sertão de Pernambuco.
Descrever o meio como opressivo seria eufemismo. Vítima de violência física e moral, ela se prepara silenciosamente, mas com determinação, para pular fora desse barco.
O que lhe acontece, nos dois tempos seguintes, lembra a trajetória de inúmeras jovens nordestinas e permite que se vislumbre, no varejo de uma única história de vida, o drama social que, no atacado, aponta para a reduzida perspectiva de futuro oferecida aos jovens pelo país.
Não é, contudo, um filme-denúncia convencional. Escrito por Caldas, Marcelo Gomes, Xico Sá e Manoela Dias, o longa se afirma pela poesia, com destaque para a beleza amarga (como na canção-tema "Rosa Amarela") de seu terceiro tempo, fusão entre sonho e medo, entre desejo de escapar à própria circunstância e incapacidade de fazê-lo. (SÉRGIO RIZZO)


DESERTO FELIZ
Produção: Brasil/Alemanha, 2007
Direção: Paulo Caldas
Com: Nash Laila, Zezé Mota
Onde: estréia hoje no Unibanco Arteplex e no iG Cine
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: bom


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