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LIVROS
Obra traz Dawkins na melhor forma
"O Maior Espetáculo da Terra", que sai agora no Brasil, é um "tour de force" darwinista, sem mau humor de livros anteriores
Biólogo britânico seduz o leitor com racionalidade e dialoga com ele o tempo todo ao desfilar amostra das evidências da evolução
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Richard Dawkins atende a ligação do jornalista, algo que
não faz com frequência. Como
a entrevista é para falar do livro
"O Maior Espetáculo da Terra",
que acaba de sair no Brasil, o
biólogo britânico se resigna a
concedê-la. Mas se vinga do repórter pela impertinência.
Responde ora com monissílabos ("É."), ora com instruções
("Olhe no meu site."). Questionado sobre os neolamarckistas,
seus adversários intelectuais, o
maior divulgador de ciência vivo encerra o tema com a menos
científica das atitudes: "Não
quero discutir isso". No total,
respondeu a 15 questões em 13
minutos. O leitor será poupado
da transcrição da entrevista.
Ainda bem que Dawkins não
depende de simpatia para vender livros. Seria uma pena que o
público deixasse de ler "O
Maior Espetáculo da Terra" devido à inteligência emocional
do autor. Porque o livro não é
só bom: é um "tour de force"
darwinista, que vem a calhar no
ano em que se celebra o bicentenário de nascimento de Charles Darwin (1809-1882), pai da
teoria evolutiva, e os 150 anos
de "A Origem das Espécies".
Na nova obra, Dawkins desfila uma pequena (mas significativa) amostra das evidências
em favor da evolução. Como
Darwin, começa explicando a
seleção artificial, processo pelo
qual escolhas humanas são capazes, por exemplo, de criar a
couve-flor, o brócolis e a acelga
a partir de um único ancestral
-um tipo de repolho selvagem.
Depois, põe-se a explicar como a natureza faz esse mesmo
serviço, transformando as espécies em intervalos (em geral)
imensos de tempo por meio
principalmente da seleção de
variações geradas ao acaso numa população. Todos os conceitos fundamentais do pensamento evolutivo são apresentados por Dawkins, que diz ainda
como e por que os cientistas sabem que é tudo verdade.
O álibi do autor para escrever
a obra é converter criacionistas. Desculpa esfarrapada: antes mesmo de publicar o anterior, o libelo ateísta "Deus, um
Delírio", o inglês já era o inimigo número 1 dessa turma.
"Deus, um Delírio" ataca as religiões com tanta virulência
que os criacionistas, se pudessem ser convertidos, não ouviriam argumentos de Dawkins.
"O Maior Espetáculo da Terra" traz a verve dawkinsiana
em sua melhor forma (perdida
no chatérrimo "A Grande História da Evolução", de 2004). É
uma leitura leve, em que Dawkins seduz o leitor com racionalidade e dialoga com ele o
tempo todo. A certa altura, recomenda que feche o livro e só
o retome se estiver descansado,
porque será obrigado a explicar
conceitos difíceis. Mas a explicação a seguir é tão boa que a
dificuldade desaparece.
Os fãs de Dawkins notarão a
ausência da rabugice característica do autor. Em vez de chamar o leitor de idiota, Dawkins
faz piadas. O repórter impertinente questiona se tanto bom
humor é efeito da aposentadoria, em 2008. O biólogo protesta: diz que "Deus, um Delírio", é
um livro bem-humorado, tá?
Puxa, que bom que ele avisou.
O MAIOR ESPETÁCULO
DA TERRA
Autor: Richard Dawkins
Tradução: Laura Teixeira Motta
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 53 (440 págs.)
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