São Paulo, sábado, 28 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GASTRONOMIA - CRÍTICA
O mar não está para Marchesi

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Comida é italiana, e o resto é o resto. Pensando ao longo dessa linha, reservei uma mesa para dois no restaurante Infinito, do edifício World Trade Center, onde, dos dias 25 de novembro a 1º de dezembro, o chef italiano Gualtiero Marchesi apresenta a sua arte.
Como sempre ouvi dizer que Marchesi é considerado um dos melhores chefes de cozinha da Itália, cheguei ao restaurante pronta para ouvir a música de um coro de querubins. Mas, assim que a saladinha de esturjão com suas ovas chegou à mesa, percebi que o mar não estava para peixe.
Quando se paga R$ 180 por pessoa para jantar, o mínimo que se espera é não conseguir contar quantas ovinhas de caviar repousam sobre enrijecidos filés de peixe.
Deve ser uma daquelas abomináveis economias incorporadas ao mundo do fino comer por influência da nouvelle cuisine, pensei.
Determinada a não me deixar abater, esperei pelo segundo prato com entusiasmo. Mas, quando os nhoquinhos de polenta, fonduta e trufas brancas de Alba chegaram à mesa, meu mundo desabou.
Comida italiana tem necessariamente de ser generosa. Até o Alfredo de Roma, com a cozinha itinerante meia-boca que apresenta pelos restaurantes do mundo, sabe disso.
E quatro finas lâminas de trufas sobre uma porção de nhoquis tépidos não é exatamente o que se espera de um cozinheiro do gabarito de Marchesi.
Se, ao sentar à mesa do Infinito, eu tivesse colocado uma venda sobre os olhos, jamais teria descoberto que estava comendo as especialidades de um renomado cozinheiro do norte da Itália.
Poderia facilmente ter me iludido de que se tratava de uma nouvelle cuisine das mais banais, das que até os norte-americanos já pegaram a manha de preparar.
Ou então, acharia que estava saboreando um daqueles repastos para 700 pessoas, servidos em transatlânticos de luxo.
Tentei várias vezes falar com Gualtiero Marchesi antes, durante e depois do jantar.
Até que o gentil maître que nos serviu colocou um ponto final na questão, informando que ele havia ido embora.
Em nome da tradicional cozinha italiana, o único consolo que me resta é ter o benefício da dúvida de não saber ao certo se Gualtiero Marchesi realmente esteve no Infinito na triste noite em que jantei lá.
²
E-mail: barbara@uol.com.br
²
O quê: Os Sabores de Gualtiero Marchesi Quando: hoje, segunda e terça Onde: restaurante Infinito (av. das Nações Unidas, 12.551, 2º andar do WTC Club, tels. 011/3043-7130/3043-7171) Quanto: R$ 90 (almoço) e R$ 180 (jantar)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.