São Paulo, sábado, 28 de novembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CINEMA "Jogo Subterrâneo", segundo longa do diretor, é inspirado no conto "Manuscrito Encontrado em um Bolso" Gervitz leva Cortázar a metrô argentino
JOSÉ GERALDO COUTO da Equipe de Articulistas Onze anos depois de "Feliz Ano Velho" (1987), o cineasta Roberto Gervitz, 41, prepara seu segundo longa-metragem de ficção, "Jogo Subterrâneo". Inspirado no conto "Manuscrito Encontrado em um Bolso", do argentino Julio Cortázar (1914-84), o filme será rodado, em sua maior parte, no metrô de Buenos Aires. "No conto, a história se passa no metrô de Paris", disse Gervitz à Folha. "Mas eu sempre o li como uma história fortemente argentina, e certas linhas antigas do metrô de Buenos Aires têm a atmosfera perfeita para o filme." A história narrada no conto é tipicamente cortazariana: um homem estabelece as regras de um jogo do acaso nas linhas do metrô para encontrar a mulher ideal. "O que me interessou no texto foram duas coisas: a idealização de uma realidade e a criação de um sistema que controle a vida. É um pouco aquela frase do Joseph Mankiewicz: você cria um jogo para jogar, e é o jogo que acaba te jogando", afirma Gervitz. ˛ Adaptação livre Segundo o cineasta, seu filme será uma "adaptação livre" do conto original, que faz parte do livro "Octaedro". Mas ele não tomará tantas liberdades quanto seu colega Guilherme de Almeida Prado, que transformou o conto de Cortázar "Cambio de Luces" no longa "A Hora Mágica". "Guilherme fez um filme muito pessoal, que acentua a brejeirice do universo do rádio. Mas ele respeitou a essência do conto, que é sobre a tentativa de moldar a realidade a partir de uma idealização", afirmou. Roberto Gervitz escreveu o roteiro de "Jogo Subterrâneo" em parceria com Leopoldo Serran (leia trecho ao lado). Na adaptação, o cineasta diz ter mudado o final da história e acrescentado personagens. A principal dificuldade, segundo ele, foi encontrar o modo de narrar: "O conto é narrado em primeira pessoa, como se fosse um diário. Criamos um personagem que entra em contato com a história e faz a mediação entre ela e o espectador". ˛ Dimensão romântica Para Gervitz, a história tem uma dimensão romântica, "mas possibilita também a discussão desse romantismo e da dificuldade de lidar com o real". O elenco do filme será composto de atores argentinos e brasileiros. Alguns deles já estão praticamente definidos, mas o diretor prefere não divulgar nomes por enquanto. Ele está na fase da captação de recursos para viabilizar a produção. Se tudo correr bem, as filmagens serão no segundo semestre do ano que vem, e o filme será lançado no ano 2000. ˛ "Lúcio Flávio" Gervitz começou a trabalhar em cinema como assistente de montagem de "Lúcio Flávio" (1977), de Hector Babenco. Um ano depois, em parceria com Sérgio Toledo, fez o documentário de longa-metragem "Braços Cruzados, Máquinas Paradas", sobre as greves no ABC paulista. Desde 1987, quando adaptou para o cinema o best seller "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva, Gervitz tem dirigido filmes publicitários. Foi um dos responsáveis pela série "Gente que Faz", do extinto banco Bamerindus. O cineasta tem dois outros projetos em vista: um documentário sobre a estilista Zuzu Angel -morta em circunstâncias suspeitas durante o regime militar- e o longa de ficção "Clandestino", sobre um garoto que viaja escondido para os EUA para encontrar o pai, um chofer de caminhão emigrado. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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