São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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TV ABERTA

Direção pesada quase destrói mito de Evita

Clara
SBT, 14h15.
  
(Clara's Heart). EUA, 88, 107 min. Direção: Robert Mulligan. Com Whoopi Goldberg, Michael Ontkean. Governanta jamaicana (Goldberg) ajuda família que atravessa crise profunda após a perda de um filho. Cinema de assistência social. Mulligan já fez melhor.

Patch Adams - O Amor É Contagioso
Globo, 16h10.   
(Patch Adams). EUA, 98, 115 min. Direção: Tom Shadyac. Com Robin Williams, Daniel London. Amor pelos pacientes e humor serão receitas básicas dos tratamentos prescritos pelo pouco ortodoxo médico Hunter Adams. Com esses métodos, ele curará e provocará a dor de cotovelo dos seus pares. O filme é baseado em fatos reais e tem por natureza um lado piegas. Com Williams no papel central, bota piegas nisso.

A Grande Virada
SBT, 23h45.   
(The Big Tease). EUA, 99, 86 min. Direção: Kevin Allen. Com Craig Ferguson, Francis Fisher. Cabeleireiro escocês é convidado a participar de concurso nos EUA. Vai. Na verdade, ele foi convidado apenas para ficar na platéia. Como os custos eram grandes, ele batalha para entrar, de verdade, no tal concurso.

Anna e o Rei
Globo, 23h.   
(Anna and the King). EUA, 99, 148 min. Direção: Andy Tennant. Com Jodie Foster, Chow Yun-Fat. Viúva inglesa torna-se preceptora dos incontáveis filhos do rei do Sião, encara o déspota e termina por ganhar sua estima. Refilmagem em longa de "O Rei e Eu", que já não era tudo isso. Barbas de molho. Inédito.

Evita
SBT, 1h25.  
(Evita). EUA, 96, 134 min. Direção: Alan Parker. Com Madonna, Antonio Banderas, Jonathan Pryce. A história de Evita Perón, atriz, primeira-dama da Argentina, mito entre os "descamisados" de seu país, que morreu prematuramente de câncer. Uma direção pesada e um monte de músicas berradas parecem pretender destruir o mito de Evita.

Emmanuelle - O Mundo de Desejo
Bandeirantes, 1h30.  
(Emmanuelle, a World of Desire). França, 96, 95 min. Direção: L.L. Shapira. Com Krista Allen, Paul Michael Robinson. Considerado um dos piores episódios da série "Emmanuelle", esta produção traz a bonitinha Krista Allen no papel de uma mulher que coleciona uma série de amantes.

Terremoto
SBT, 3h45.   
(Earthquake). EUA, 74, 148 min. Direção: Mark Robson. Com Charlton Heston, Ava Gardner. Exemplo característico do chamado "filme catástrofe" dos anos 70, em que uma grande desgraça (afundamento de navios, incêndio de edifícios etc.) e a maneira como afetava uma série de atores convidados eram o centro dos acontecimentos. Aqui, trata-se de um grande terremoto em Los Angeles. O interesse dramático é mínimo. Tudo se sustenta nas imagens espetaculares da destruição, que (pelo menos na tela grande) são de fato impressionantes. Só para São Paulo.

Vítima do Medo
Globo, 3h30.  
(Kiss and Tell). EUA, 96. Direção: Andy Wolk. Com Francie Swift, Cheryl Ladd. Mulher casada e feliz (Swift) recebe visita de uma mulher (Ladd) que diz ser amante de seu marido. É o fim do paraíso

A Fábrica de Sonhos de George Lucas
SBT, 5h20.   
(From Star Wars to Star Wars). EUA, 99. Direção: Jon Kroll. Documentário sobre a Industrial Light & Music, a empresa de Lucas responsável pelo desenvolvimento de efeitos especiais, com participação de bambambãs dos efeitos, como Harry Harryhausen, da direção, como Steven Spielberg, além do próprio Lucas. Um belo filme institucional? A conferir, se alguém aguentar o horário. (IA)


TV PAGA

Para Zurlini, o sofrimento é nossa essência

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Valerio Zurlini é possivelmente o diretor de cinema mais triste do mundo. Que isso não desanime, pois, como nos lembra Noel Rosa, saber sofrer é uma arte.
Embora italianos, os protagonistas de "A Moça com a Valise" (Eurochannel, hoje, 22h30, e amanhã, 14h) parecem mergulhados na frase de Noel.
Ou pelo menos isso é o que acontece com Aida (Claudia Cardinale), bela garota seduzida por Marcello. Marcello é aquele que sabe viver: ganha a garota, marca um encontro e desaparece.
Manda em seu lugar o sensível Lorenzo (Jacques Perrin), irmão menor, que imediatamente se apaixona por ela. Não há razão nesse amor: Lorenzo é quase um menino. Mas quem disse que no amor a razão dá as cartas? É como se Lorenzo visse em Aida o seu duplo feminino, alguém destinado à infelicidade e a transformar a própria infelicidade em beleza.
Porque se há uma coisa que não falta a Zurlini é o sentido da beleza. É, nesse sentido, um clássico. Isso vale para cada plano que compõe. Mas vale, sobretudo, para os personagens que coloca em cena. Claudia compõe uma figura patética com sua valise à mão, indefesa, bela como nunca, à espera de um sacripanta.
A felicidade bate à sua porta. Mas quem disse que os infelizes são capazes de percebê-la? Qualquer um na platéia nota que Lorenzo é mais belo, mais interessante, mais profundo que seu irmão. Bastaria Aida ser capaz de olhá-lo para que a melancolia se dissipasse do rosto do rapaz.
Mas será isso possível? Não, a lógica do melodrama não é essa: a felicidade está ali, ao nosso alcance, e não conseguimos percebê-la. E se conseguimos haverá um fator exterior a impedi-la. Em Zurlini, como em Douglas Sirk, o sofrimento é nossa essência. Ele aponta nossos limites, nossas fraquezas, ao mesmo tempo que nos redime pela beleza que os rostos de Claudia e, sobretudo, Jacques, exprimem tão enfaticamente.


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