São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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ENTRELINHAS

Só o erário salva

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na Feira de Frankfurt, em outubro, um dos diretores do evento alemão vaticinou: "A indústria editorial depende do protagonismo de dois jovens: Jesus Cristo e Harry Potter". No caso brasileiro, haveria de incluir aí um terceiro elemento, já não tão jovem: o governo FHC.
Pesquisa recém-divulgada pela Câmara Brasileira do Livro aponta que excluídas as compras federais -e demais programas estaduais- a indústria livreira do país vendeu, no primeiro semestre de 2002, 5 milhões de exemplares menos do que no mesmo período de 2001.
Incluindo as contribuições do erário, o mercado aumentou 42%, chegando à marca de 160 milhões de livros vendidos.
"O investimento do governo é significativo, mas muito concentrado", pondera o presidente da CBL, Raul Wassermann. As duas últimas grandes compras federais de não-didáticos, por exemplo, brindaram só nove das 515 editoras do país.
Outra novidade apontada pelo Diagnóstico do Setor Editorial Brasileiro, nome da pesquisa, é a redução do número de títulos produzidos no país. Se no primeiro semestre de 2001 o mercado editorial lançou 7.571 títulos novos, no período equivalente, em 2002, foram 5.840 novidades. "É um sinal de cautela dos editores", diz Wassermann.

"EXCOMUNGO"
Dono de um dos melhores textos da língua espanhola contemporânea, em ficção ou ensaio, Javier Marías rompeu na semana passada uma colaboração iniciada há oito anos com a revista "El Semanal". O escritor se rebelou depois que texto seu crítico à Igreja Católica foi censurado pela publicação espanhola.
 
Marías, que era editado aqui pela Martins Fontes, acaba de fechar com a Cia. das Letras a publicação de seu próximo romance, "Seu Rosto Amanhã".

PRIMAVERA
Curt Meyer-Clason, responsável por versões de Guimarães Rosa na Alemanha, está traduzindo para o idioma de Goethe o livro "Biografia de uma Árvore", do jovem poeta gaúcho Carpinejar.

OPS
Reeditaram o pilar da poesia moderna "Cantos", de Erza Pound. Uótimo. Mas não custava atualizar um (triste) fato. Seu tradutor, José Lino Grünewald, não está vivo como aponta a edição da Nova Fronteira. Morreu em 2000.

FORA DA ESTANTE

Há quem classifique Iris Murdoch, ou Dame Iris Murdoch (1919-99), de a última grande romancista do século 19. Ora seguindo os caminhos abertos por Dickens, ora os de Dostoiévski e Tolstói, essa irlandesa fez, em pleno século 20, uma obra prolífica tanto na ficção quanto no ensaísmo filosófico -não raro ambientando questões existenciais em seus romances. Idolatrada mundo afora, a inspiradora do recente filme "Iris" já teve algo dos seu 30 livros editados aqui por Nova Fronteira e pela falecida Artenova. Hoje está à míngua no Brasil.

LACUNAS

2002 foi o ano em que perdemos: escritores como o Nobel espanhol Camilo José Cela, o poeta cearense Patativa do Assaré e a grande autora infantil sueca Astrid Lindberg; ensaístas, como o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o filósofo americano John Rawls e o euclydiano Roberto Ventura; e editores, como o alemão Siegfried Unseld (da Suhrkamp), o italiano Leonardo Mondadori e a brasileira Donatella Berlendis.
elek@folhasp.com.br


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