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ENTRELINHAS
Só o erário salva
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Feira de Frankfurt, em
outubro, um dos diretores
do evento alemão vaticinou: "A
indústria editorial depende do
protagonismo de dois jovens:
Jesus Cristo e Harry Potter". No
caso brasileiro, haveria de incluir aí um terceiro elemento, já
não tão jovem: o governo FHC.
Pesquisa recém-divulgada pela Câmara Brasileira do Livro
aponta que excluídas as compras federais -e demais programas estaduais- a indústria
livreira do país vendeu, no primeiro semestre de 2002, 5 milhões de exemplares menos do
que no mesmo período de 2001.
Incluindo as contribuições do
erário, o mercado aumentou
42%, chegando à marca de 160
milhões de livros vendidos.
"O investimento do governo é
significativo, mas muito concentrado", pondera o presidente
da CBL, Raul Wassermann. As
duas últimas grandes compras
federais de não-didáticos, por
exemplo, brindaram só nove
das 515 editoras do país.
Outra novidade apontada pelo
Diagnóstico do Setor Editorial
Brasileiro, nome da pesquisa, é a
redução do número de títulos
produzidos no país. Se no primeiro semestre de 2001 o mercado editorial lançou 7.571 títulos novos, no período equivalente, em 2002, foram 5.840 novidades. "É um sinal de cautela
dos editores", diz Wassermann.
"EXCOMUNGO"
Dono de um dos melhores
textos da língua espanhola
contemporânea, em ficção ou
ensaio, Javier Marías rompeu
na semana passada uma
colaboração iniciada há oito
anos com a revista "El
Semanal". O escritor se rebelou
depois que texto seu crítico à
Igreja Católica foi censurado
pela publicação espanhola.
Marías, que era editado aqui
pela Martins Fontes, acaba de
fechar com a Cia. das Letras a
publicação de seu próximo romance, "Seu Rosto Amanhã".
PRIMAVERA
Curt Meyer-Clason,
responsável por versões de
Guimarães Rosa na Alemanha,
está traduzindo para o idioma
de Goethe o livro "Biografia de
uma Árvore", do jovem poeta
gaúcho Carpinejar.
OPS
Reeditaram o pilar da poesia
moderna "Cantos", de Erza
Pound. Uótimo. Mas não
custava atualizar um (triste)
fato. Seu tradutor, José Lino
Grünewald, não está vivo
como aponta a edição da Nova
Fronteira. Morreu em 2000.
FORA DA ESTANTE
Há quem classifique Iris
Murdoch, ou Dame Iris
Murdoch (1919-99), de a última grande romancista do
século 19. Ora seguindo os
caminhos abertos por Dickens, ora os de Dostoiévski e
Tolstói, essa irlandesa fez,
em pleno século 20, uma
obra prolífica tanto na ficção
quanto no ensaísmo filosófico -não raro ambientando
questões existenciais em
seus romances. Idolatrada
mundo afora, a inspiradora
do recente filme "Iris" já teve
algo dos seu 30 livros editados aqui por Nova Fronteira
e pela falecida Artenova. Hoje está à míngua no Brasil.
LACUNAS
2002 foi o ano em que perdemos: escritores como o Nobel espanhol Camilo José Cela, o poeta cearense Patativa do Assaré e a
grande autora infantil sueca Astrid Lindberg; ensaístas, como o
sociólogo francês Pierre Bourdieu, o filósofo americano John
Rawls e o euclydiano Roberto Ventura; e editores, como o alemão Siegfried Unseld (da Suhrkamp), o italiano Leonardo Mondadori e a brasileira Donatella Berlendis.
elek@folhasp.com.br
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