São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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"SEQUESTRO..."

Obra é "antitortura"

Hosmany usa política para realçar romance

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Onde termina a ficção e onde começa a realidade? Essa a grande dúvida (e o atrativo) do romance policial "Sequestro Sangrento", que o autor, o ex-cirurgião plástico Hosmany Ramos, faz questão de não esclarecer.
A dúvida aumenta ao analisar o passado e o presente de Hosmany. Ele deixou de ser um dos mais famosos cirurgiões de sua área no país para se transformar num criminoso condenado a 53 anos de prisão por homicídio, sequestro, contrabando de armas e roubo. Crimes que ele nega.
Até que ponto os personagens do livro existiram e participaram da sua vida? Na apresentação da obra, o aviso: "Muitas das informações e situações narradas foram baseadas em pessoas que conheci e com quem convivi. Gente que, por alguma razão, se sente em perigo, vulnerável à Justiça, ou sub judice, não podendo, portanto, levantar poeira na imprensa".
Mas o que há no livro? Hosmany conta a história de políticos, empresários, assassinos que possuem ligações promíscuas de corrupção, chantagem e crimes. Há personagens como Pedro Paulo Alarcão Jeremias, o PP, influente nos bastidores da política e que participou da campanha de um presidente fictício. Coincidência?
E outros como Albert Goldenberg, dono de uma construtora que consegue, por meio de licitações fraudulentas, contratos bilionários do governo federal. Para isso, mantém funcionários no Orçamento da União e paga aluguéis de casarões para políticos. As vidas dos personagens se amarram na ambição desenfreada pelo dinheiro, luxúria, sexo e tudo que só muito dinheiro pode oferecer.
Hosmany diz ter duas pretensões com o livro: a primeira é acabar com a tortura no país e a segunda, provocar a criação de um ministério anticorrupção.
No lançamento do romance, na penitenciária de Araraquara, o autor fez uma homenagem ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem vai pedir indulto de sua pena. Ele se compara ao escritor francês Jean Genet (1910-86) para pedir liberdade. "O presidente francês da década de 50, quando assumiu, deu o indulto a Jean Genet, que estava condenado à prisão perpétua. Aquilo possibilitou que ele fizesse a grande obra que deixou. Então, estou fazendo esse pedido."


SEQUESTRO SANGRENTO. Autor: Hosmany Ramos. Editora: Geração Editorial. Quanto: R$ 34 (392 págs.).


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