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"SEQUESTRO..."
Obra é "antitortura"
Hosmany usa política para realçar romance
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Onde termina a ficção e onde
começa a realidade? Essa a grande
dúvida (e o atrativo) do romance
policial "Sequestro Sangrento",
que o autor, o ex-cirurgião plástico Hosmany Ramos, faz questão
de não esclarecer.
A dúvida aumenta ao analisar o
passado e o presente de Hosmany. Ele deixou de ser um dos
mais famosos cirurgiões de sua
área no país para se transformar
num criminoso condenado a 53
anos de prisão por homicídio, sequestro, contrabando de armas e
roubo. Crimes que ele nega.
Até que ponto os personagens
do livro existiram e participaram
da sua vida? Na apresentação da
obra, o aviso: "Muitas das informações e situações narradas foram baseadas em pessoas que conheci e com quem convivi. Gente
que, por alguma razão, se sente
em perigo, vulnerável à Justiça, ou
sub judice, não podendo, portanto, levantar poeira na imprensa".
Mas o que há no livro? Hosmany conta a história de políticos,
empresários, assassinos que possuem ligações promíscuas de corrupção, chantagem e crimes. Há
personagens como Pedro Paulo
Alarcão Jeremias, o PP, influente
nos bastidores da política e que
participou da campanha de um
presidente fictício. Coincidência?
E outros como Albert Goldenberg, dono de uma construtora
que consegue, por meio de licitações fraudulentas, contratos bilionários do governo federal. Para isso, mantém funcionários no Orçamento da União e paga aluguéis
de casarões para políticos. As vidas dos personagens se amarram
na ambição desenfreada pelo dinheiro, luxúria, sexo e tudo que só
muito dinheiro pode oferecer.
Hosmany diz ter duas pretensões com o livro: a primeira é acabar com a tortura no país e a segunda, provocar a criação de um
ministério anticorrupção.
No lançamento do romance, na
penitenciária de Araraquara, o
autor fez uma homenagem ao
presidente eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), a quem vai pedir indulto de sua pena. Ele se compara
ao escritor francês Jean Genet
(1910-86) para pedir liberdade. "O
presidente francês da década de
50, quando assumiu, deu o indulto a Jean Genet, que estava condenado à prisão perpétua. Aquilo
possibilitou que ele fizesse a grande obra que deixou. Então, estou
fazendo esse pedido."
SEQUESTRO SANGRENTO. Autor:
Hosmany Ramos. Editora: Geração
Editorial. Quanto: R$ 34 (392 págs.).
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