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POLÍTICA CULTURAL
Novo presidente fala sobre o que pretende mudar nas rádios e TVs da empresa de comunicação do governo
Radiobrás não será chapa-branca, diz Bucci
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há três semanas no cargo de
presidente da Radiobrás, Eugênio
Bucci, 43, tem em suas mãos não
só o destino da "Voz do Brasil",
produto mais famoso da empresa
de comunicação do governo.
O jornalista -que já foi crítico
de TV da Folha e outros veículos- comandará quatro estações
de rádio, duas de televisão, um site de notícias, além da produção
de publicidade de órgãos estatais.
Em entrevista, ele falou dos planos para a poderosa estatal, que
conta com repasse de cerca de R$
70 milhões/ano da União. E garantiu que não será chapa-branca,
apesar de dizer que não pretende
fazer um jornalismo independente do Estado.
Folha - Há muito o que mudar no
caminho que a Radiobrás seguia?
Eugênio Bucci - Sim. Mais muita
coisa tem uma orientação com a
qual concordo. Uma é a Agência
Brasil, um site que veicula informações do governo com credibilidade, constantemente citado como fonte em vários veículos.
Folha - E o que tem que mudar?
Bucci - A primeira coisa é dar ao
cidadão as informações a que ele
tem direito. Uma empresa como a
Radiobrás, que tem quatro emissoras de rádio, duas de TV e o site,
pode contribuir muito para isso.
Também vamos estabelecer uma
comunicação de mão dupla, ouvir
público e colocá-lo ativamente
nas programações das emissoras.
Folha - Como seria isso?
Bucci - É necessária a presença
da reclamação ou sugestão do telespectador. Como a página do
leitor e o ombudsman nos jornais.
Mas não há ombudsman de TV.
Folha - No ano passado, por sugestão do ministério da Justiça,
não foi criado o cargo de ombudsman na Radiobrás?
Bucci - Temos uma ouvidoria,
mas aprofundaremos a função.
Folha - O sr. acha possível que a
Radiobrás e seus veículos não
caiam na tentação do governo de
uma comunicação chapa-branca?
Bucci - Costuma-se pensar em
comunicação de governo para arregimentar consciências e não para dotar o cidadão do que precisa
para seu próprio julgamento. Pela
primeira vez, direito à informação
não se contradiz à comunicação
do governo. Um governo como o
de Lula sabe que só na cidadania
tem sustentação e não combina
com a idéia de chapa-branca.
Folha - Polêmicas do governo Lula, como elevação da taxa de juros
e Imposto de Renda, seriam tratadas como em outros veículos?
Bucci - São temas que cabem numa comunicação que a Radiobrás
pode fazer. Mas é preciso estabelecer diferenças. A Folha, por
exemplo, e a Radiobrás ocupam
lugares diferentes no espaço público. A Folha busca um jornalismo sobretudo independente do
Estado, o que é essencial para a
democracia. A Radiobrás é financiada pelo Estado e não tem pretensão de ser independente na
mesma perspectiva da Folha. Mas
pode ser independente de forças
que atuam de forma coercitiva na
sociedade, como a do capital.
Folha - Em 2002, o Tribunal de
Contas da União verificou que a Radiobrás cobrou valores superiores
em até 345% aos do mercado na
confecção de publicidade dos órgãos estatais. Isso mudará?
Bucci - Desconheço esses casos.
Mas é evidente que os preços têm
que ser os praticados no mercado.
Folha - O sr. é favorável à obrigatoriedade da transmissão da "Voz
do Brasil" pelas rádios?
Bucci - Sou um servidor público
e minha obrigação é fazer cumprir a lei. O que posso fazer não é
discutir obrigatoriedade, mas tornar a "Voz do Brasil" um noticiário mais interessante e relevante.
Folha - O sr. participará da elaboração de políticas da TV comercial?
Bucci - Pretendo opinar se tiver
oportunidade. Mas essa não é
uma área que dependa da minha
ação e que esteja dentro das minhas atribuições. Portanto, eu só
posso participar se for convidado.
E, se for, participarei sempre na
condição de cidadão.
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