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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Novo presidente fala sobre o que pretende mudar nas rádios e TVs da empresa de comunicação do governo

Radiobrás não será chapa-branca, diz Bucci

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há três semanas no cargo de presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, 43, tem em suas mãos não só o destino da "Voz do Brasil", produto mais famoso da empresa de comunicação do governo.
O jornalista -que já foi crítico de TV da Folha e outros veículos- comandará quatro estações de rádio, duas de televisão, um site de notícias, além da produção de publicidade de órgãos estatais. Em entrevista, ele falou dos planos para a poderosa estatal, que conta com repasse de cerca de R$ 70 milhões/ano da União. E garantiu que não será chapa-branca, apesar de dizer que não pretende fazer um jornalismo independente do Estado.
 

Folha - Há muito o que mudar no caminho que a Radiobrás seguia?
Eugênio Bucci -
Sim. Mais muita coisa tem uma orientação com a qual concordo. Uma é a Agência Brasil, um site que veicula informações do governo com credibilidade, constantemente citado como fonte em vários veículos.

Folha - E o que tem que mudar?
Bucci -
A primeira coisa é dar ao cidadão as informações a que ele tem direito. Uma empresa como a Radiobrás, que tem quatro emissoras de rádio, duas de TV e o site, pode contribuir muito para isso. Também vamos estabelecer uma comunicação de mão dupla, ouvir público e colocá-lo ativamente nas programações das emissoras.

Folha - Como seria isso?
Bucci -
É necessária a presença da reclamação ou sugestão do telespectador. Como a página do leitor e o ombudsman nos jornais. Mas não há ombudsman de TV.

Folha - No ano passado, por sugestão do ministério da Justiça, não foi criado o cargo de ombudsman na Radiobrás?
Bucci -
Temos uma ouvidoria, mas aprofundaremos a função.

Folha - O sr. acha possível que a Radiobrás e seus veículos não caiam na tentação do governo de uma comunicação chapa-branca?
Bucci -
Costuma-se pensar em comunicação de governo para arregimentar consciências e não para dotar o cidadão do que precisa para seu próprio julgamento. Pela primeira vez, direito à informação não se contradiz à comunicação do governo. Um governo como o de Lula sabe que só na cidadania tem sustentação e não combina com a idéia de chapa-branca.

Folha - Polêmicas do governo Lula, como elevação da taxa de juros e Imposto de Renda, seriam tratadas como em outros veículos?
Bucci -
São temas que cabem numa comunicação que a Radiobrás pode fazer. Mas é preciso estabelecer diferenças. A Folha, por exemplo, e a Radiobrás ocupam lugares diferentes no espaço público. A Folha busca um jornalismo sobretudo independente do Estado, o que é essencial para a democracia. A Radiobrás é financiada pelo Estado e não tem pretensão de ser independente na mesma perspectiva da Folha. Mas pode ser independente de forças que atuam de forma coercitiva na sociedade, como a do capital.

Folha - Em 2002, o Tribunal de Contas da União verificou que a Radiobrás cobrou valores superiores em até 345% aos do mercado na confecção de publicidade dos órgãos estatais. Isso mudará?
Bucci -
Desconheço esses casos. Mas é evidente que os preços têm que ser os praticados no mercado.

Folha - O sr. é favorável à obrigatoriedade da transmissão da "Voz do Brasil" pelas rádios?
Bucci -
Sou um servidor público e minha obrigação é fazer cumprir a lei. O que posso fazer não é discutir obrigatoriedade, mas tornar a "Voz do Brasil" um noticiário mais interessante e relevante.

Folha - O sr. participará da elaboração de políticas da TV comercial?
Bucci -
Pretendo opinar se tiver oportunidade. Mas essa não é uma área que dependa da minha ação e que esteja dentro das minhas atribuições. Portanto, eu só posso participar se for convidado. E, se for, participarei sempre na condição de cidadão.


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