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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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Polêmica ronda o prédio do Dops

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Mezanino do segundo andar da antiga sede do Dops, no centro de SP, cuja nova ocupação será definida pela Secretaria de Cultura


DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia de que o prédio do antigo Dops, na região central de São Paulo, poderá não mais abrigar o Museu do Imaginário do Povo Brasileiro (MIPB) virou polêmica no meio cultural.
O artista plástico Emanoel Araújo, que coordenou a elaboração do projeto do MIPB a pedido da Secretaria Estadual da Cultura, diz que a nova secretária, Cláudia Costin, não analisou o trabalho antes de dizer que o museu talvez não seja adequado ao local.
A secretária, no cargo desde 3 de janeiro, afirma que leu os três livros com os planos do MIPB, entregues por Araújo à secretaria.
O projeto foi encomendado e pago pela secretaria, no início de 2002, a um grupo de intelectuais coordenado por Araújo, ex-diretor da Pinacoteca. Em dezembro, o projeto foi entregue ao então secretário, Marcos Mendonça.
A criação do museu e sua instalação no endereço do antigo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foram determinadas por decreto assinado por Geraldo Alckmin, em janeiro de 2002. A assessoria do governador informou que, se ficar decidido que o MIPB não será instalado no local, o decreto será revogado.
O edifício, projeto de Ramos de Azevedo construído em 1914 como apoio à cia. Sorocabana de trens, começou a ter sua nova ocupação definida em 2002. A idéia era dividi-lo em dois espaços: o Memorial da Liberdade, lembrando o uso do local no regime militar, e o Museu do Imaginário. O MIPB, inaugurado simbolicamente em julho, com a mostra "Intolerância", seria realmente instalado neste ano.
Pelo projeto coordenado por Araújo, o museu teria três partes: exposição permanente, mostras temporárias e centro de pesquisa. A elaboração foi de abril a dezembro de 2002, com reuniões periódicas entre os membros do grupo, entre eles o historiador Nicolau Sevcenko e o professor de literatura Ivan Teixeira, ambos da USP. Todos foram pagos pelo Estado.
A secretária Cláudia Costin afirma que o prédio do Dops seria mais adequado a um museu sobre a história de São Paulo. "Esse complexo mais histórico da cidade, que pega a Sala São Paulo, a Luz etc, não seria tão adequado para uma coisa mais de vanguarda [como o MIPB]." A secretária avalia que falta um museu sobre a história de São Paulo e que o prédio do Dops poderia servir para preencher essa lacuna. "Mas é só uma idéia", diz Costin.
"A idéia do Museu do Imaginário passava por se estudar a história do Brasil a partir da arte, num projeto de uma coisa muito dinâmica, muito viva e, no entanto, falta o museu da história de São Paulo. O melhor espaço [para o MIPB] não me parece ser o antigo Dops. Lá parece ter mais vocação para ser um museu da própria história de São Paulo, para os 450 anos da cidade [25 de janeiro de 2004]. O MIPB será colocado num outro lugar. Mas ainda não tomei a decisão", diz Costin, que encomendou um "plano de vocação de espaços" para definir o que fará com o prédio do Dops e outros edifícios públicos.
"Ela [Costin] não tem obrigação de fazer o MIPB. A questão é que o Estado gastou dinheiro com esse projeto e ela teria que dar uma resposta que não fosse pelo seu bel-prazer, dizendo que é um museu de vanguarda. Melhor ainda que seja de vanguarda. O Museu do Imaginário foi projetado para aquele prédio e não para outro. Ela está confundindo museu com butique", diz Araújo.
Costin diz que uma resposta sobre o destino do local e do MIPB deve ser dada em meados de março. (LM)


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