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ARTES CÊNICAS
Ao comemorar 50 anos, o histórico teatro tem sua vida recontada em obra e ganha mostra dramatúrgica
Arena coloca em cena a sua resistência
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 50 anos do Teatro de Arena,
grupo que surgiu em São Paulo
em 1953, fez sua primeira apresentação em um palco com esse
formato circular no ano seguinte
e, em 1955, encontrou endereço
numa loja da rua Teodoro Baiama, no centro, é tema de um livro,
do projeto de residência de uma
companhia e um de seus fundadores estréia uma peça, com novos grupo e espaço na cidade.
"Sinto-me como se estivesse
realizando o mesmo sonho do
teatro de grupo daqueles anos
50", afirma José Renato, 77, que
vai dirigir "RG", com a cia. A Casa
da Comédia, no Teatro dos Arcos.
A Cia. Livre ocupa o teatro homenageado, por um ano, com o
projeto "Conta Arena 50 Anos",
uma mostra de dramaturgia que
abre amanhã.
Já o livro "Teatro de Arena
- Uma Estética de Resistência" é
de autoria do jornalista e dramaturgo Izaías Almada ("Lembrar É
Resistir") e será lançado na terça.
Ele mesmo ex-integrante do
Arena, entre 1964-69, Almada
permitiu-se entrecruzar suas memórias com a história do grupo
que afirmou a importância da
dramaturgia nacional, até então
preterida em relação aos textos
estrangeiros.
O público passou a ser visto em
cena, como protagonista. É o caso
da greve dos operários em "Eles
Não Usam Black-Tie" (1958), de
Gianfrancesco Guarnieri. Também foram importantes as peças
que ajudaram a entender a história de outra forma, como em
"Arena Conta Zumbi" e "Arena
Conta Tiradentes".
O mineiro Almada, 61, decidiu
escrever o livro quando, em mesas-redondas, ouviu o comentário repisado de que o Arena fazia
"um teatro iminentemente político, sectário, partidário, maniqueísta e outros adjetivos".
"Essas classificações me pareciam reducionistas, erros de informação repetidos sobretudo
pelos mais jovens", afirma.
O autor foi a campo para dar
mais fôlego às memórias. Entrevistou 11 personalidades que tiveram relação direta com a história
do Arena, entre elas dramaturgos
como Guarnieri, Oduvaldo Viana
Filho, Augusto Boal, Chico de Assis, além do crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000).
Almada define o depoimento de
Almeida Prado, colhido pouco
antes de sua morte, como um dos
mais importantes do livro. "Foi
uma surpresa ouvir do Décio que
foi ele quem trouxe a idéia do teatro de arena para o Brasil. Ele tomou conhecimento desse formato de palco em uma conferência
que assistiu na França. Trouxe os
documentos para sua aula na Escola de Artes Dramáticas e repassou o material para o Zé Renato."
Por isso a experiência de espetáculos em arena veio antes da inauguração do edifício. Até então, as
apresentações aconteciam nas salas de exposição do segundo andar do Museu de Arte Moderna,
na rua Sete de Abril.
John Herbert, Eva Wilma, Jorge
Fischer Jr., Milton Gonçalves, Lélia Abramo, Eugênio Kusnet, enfim, são muitos os artistas que
têm sua história vinculada ao grupo, que foi desfeito em meados
dos anos 70, e ao espaço, que segue ativo e tentando se reinventar.
"É isso o que propõe este livro,
recompondo nossas memórias e
ativando, talvez, a esperança de
que o teatro recupere o seu espaço
e espante para sempre os fantasmas das crises cíclicas que o
acompanham", escreve José Renato na apresentação do livro.
(VALMIR SANTOS)
TEATRO DE ARENA - UMA ESTÉTICA
DE RESISTÊNCIA. Autor: Izaías Almada.
Editora: Boitempo. Quanto: R$ 29 (159
págs). Lançamento: dia 3/2, às 18h30, na
Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073)
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