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ANÁLISE
Líder foi mais que um político habilidoso
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Apanhe um ativista negro
que luta contra o apartheid -o
regime de segregação racial que
vigorou na África do Sul entre
1948 e 1990-, atire-o na prisão
por 27 anos, convertendo-o
num símbolo. Deixe descansar
enquanto a organização por ele
comandada, o Congresso Nacional Africano (CNA), cresce
em prestígio e influência sobre
a maioria negra.
Essa é a receita para criar
uma liderança política e que
lançou Nelson Rolihlahla Mandela no caminho para a Presidência sul-africana, após sua libertação do cárcere em 1990.
Só que Mandela foi para a
África do Sul muito mais do que
um político habilidoso. Ele revelou-se também um estadista.
Os anos de desmantelamento do apartheid, entre 1990 e a
eleição de Mandela em 1994,
foram um período conturbado.
Cinco de cada dez analistas
diziam que o país não resistiria
e seria tragado por uma guerra
civil que resultaria na expulsão
da minoria branca.
Foi esse cenário que Nelson
Mandela conseguiu evitar.
Ele teve de equilibrar-se sobre uma gilete. De um lado,
precisou arrefecer os temores
dos brancos.
Frederik de Klerk, o último
presidente do apartheid, o homem que ordenou a libertação
de Mandela (e com o qual dividiu o Nobel da Paz), acabou
sendo convidado para assumir
a Vice-Presidência no governo
de unidade nacional.
De outro, o desafio era conter
os ânimos de seus próprios
aliados, que haviam suportado
40 anos de perseguições.
Embora tenha iniciado sua
militância com a resistência
pacífica, Mandela liderou a ala
do CNA que abraçara a luta armada nos anos 80, patrocinando ações que causaram a morte
de civis. Essa trajetória não o
impediu de admitir publicamente que sua organização
também violara direitos humanos, o que lhe valeu algumas
inimizades.
As atitudes de Mandela durante a Copa do Mundo de rúgbi condensam de uma maneira
exemplar os dilemas e as armadilhas daquele momento decisivo para a África do Sul.
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