São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

Líder foi mais que um político habilidoso

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Apanhe um ativista negro que luta contra o apartheid -o regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1990-, atire-o na prisão por 27 anos, convertendo-o num símbolo. Deixe descansar enquanto a organização por ele comandada, o Congresso Nacional Africano (CNA), cresce em prestígio e influência sobre a maioria negra.
Essa é a receita para criar uma liderança política e que lançou Nelson Rolihlahla Mandela no caminho para a Presidência sul-africana, após sua libertação do cárcere em 1990.
Só que Mandela foi para a África do Sul muito mais do que um político habilidoso. Ele revelou-se também um estadista.
Os anos de desmantelamento do apartheid, entre 1990 e a eleição de Mandela em 1994, foram um período conturbado.
Cinco de cada dez analistas diziam que o país não resistiria e seria tragado por uma guerra civil que resultaria na expulsão da minoria branca.
Foi esse cenário que Nelson Mandela conseguiu evitar.
Ele teve de equilibrar-se sobre uma gilete. De um lado, precisou arrefecer os temores dos brancos.
Frederik de Klerk, o último presidente do apartheid, o homem que ordenou a libertação de Mandela (e com o qual dividiu o Nobel da Paz), acabou sendo convidado para assumir a Vice-Presidência no governo de unidade nacional.
De outro, o desafio era conter os ânimos de seus próprios aliados, que haviam suportado 40 anos de perseguições.
Embora tenha iniciado sua militância com a resistência pacífica, Mandela liderou a ala do CNA que abraçara a luta armada nos anos 80, patrocinando ações que causaram a morte de civis. Essa trajetória não o impediu de admitir publicamente que sua organização também violara direitos humanos, o que lhe valeu algumas inimizades.
As atitudes de Mandela durante a Copa do Mundo de rúgbi condensam de uma maneira exemplar os dilemas e as armadilhas daquele momento decisivo para a África do Sul.


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