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NETVOX
Coisas de mulher
MARIA ERCILIA
do Universo Online
O Yahoo inaugurou na última sexta um novo guia da
Web, dirigido exclusivamente
a mulheres, o Beatrice's Web
(http://www.bguide.com).
Por dever de ofício, fui conferir. Mas todo o marketing do
negócio, com uma bonequinha
chamada Beatrice cheia de dicas e respostas, me incomodou.
Por que será que todo produto endereçado a mulheres tem
que receber uma cobertura xaroposa e açucarada? Beatrice,
a "recepcionista" do guia, saracoteia pra lá e pra cá, dá
tchauzinho e ainda diz que dá
duro procurando novidades
para que as moças possam descansar e secar as unhas.
O guia em si acaba não sendo tão ruim, tem alguns endereços interessantes -mas é
mínimo, mal dá para chamar
de guia. Três ou quatro dicas
por assunto e só. Irregular
também.
Alguns endereços são cuidadosamente comentados, em oito ou dez linhas. Outros não
merecem duas linhas. Não tem
nenhum link sobre sexo, que
pelo jeito não é considerado
coisa de mulher.
Enfim, acaba dando impressão de vestiário das meninas,
de coisa meio segregada, meio
forçada. Talvez seja uma maneira de dar uma domesticada
na Internet, já que boa parte
da Web às vezes lembra mais a
parede do borracheiro -todos
aqueles GIFs mal escaneados e
poses contorcionistas.
Mas tudo isso é desnecessário. Há menos mulheres usando a Internet porque há menos
mulheres com acesso a computadores -não porque faltam
cartuns sorridentes com quem
elas possam se identificar.
O parceiro do Yahoo nesse
embrião de guia é o Women's
Wire (http://www.women.com), serviço para mulheres que existe
há anos -deve ser quase tão
antigo quanto o Yahoo.
Já passou por muitas confusões e polêmicas -a "Wired"
o processou por infração de
copyright em 94; há pouco
tempo, sofreu uma reforma e se
voltou mais para moda e consumo, o que despertou protestos de muitas usuárias.
São sinais de que mulher na
Web passou de minoria absoluta a mercado viável. A novidade do Beatrice's Web são os
anúncios -de decoração, roupas, carros, lojas. É uma tentativa de concentrar a demografia feminina da Web numa esquina cor-de-rosa.
A verdade é que ainda não
surgiu uma marca forte para
mulheres na Internet, algo
equivalente a revistas como
"Feed" e "Word", que são
pequenas, mas têm prestígio e
público definido.
Em janeiro de 94 a média de
mulheres na Internet era de
5% do total -quase nada!
Eram tão poucas que todo
mundo conhecia os pontos de
encontro femininos: GeekGirl
(http://www.geekgirl.com), mais pop,
Women's Wire, concentrado
em serviços, e ECHO (http://www.echonyc.com), entre alguns outros. O Echo nunca foi só feminino, mas sempre concentrou
muitas mulheres.
Hoje a porcentagem pulou
para 31,4% (os dados são da
GVU Survey, http://www.survey.cc.gatech.edu/, respectivamente de janeiro de 94 e outubro de 96).
Com um crescimento tão rápido, vai ser inevitável que
surjam muito mais sites para
mulheres. Ótimo -só que vai
ter que aparecer algo mais
convincente que um cartum
com óculos de gatinho.
E-mail: netvox@uol.com.br
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