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"Guinevere' é "Pigmalião-99'
AMIR LABAKI
enviado especial a Park City (EUA)
O drama romântico "Guinevere", de Audrey Wells, pousou
no Sundance-99 como a principal carta da distribuidora Miramax na competição ficcional.
Um letreiro de abertura celebra os 20 anos da casa dos irmãos Weinstein, cuja ascensão
na cena independente (apesar
da vinculação ao grupo Disney) praticamente coincide
com a do próprio festival.
"Guinevere", contudo, foi logo ofuscado pela vitória da Miramax no leilão por "Happy,
Texas", de Mark Illsley, uma
comédia policial envolvendo
no vilarejo do título um casal
de criminosos e um policial, todos gays. Derrotados na disputa falam num preço recorde pelos direitos em torno de US$ 10
milhões. A Miramax reconhece
apenas um acordo por volta de
US$ 2,5 milhões mais participação na bilheteria para os produtores a partir da venda do
primeiro ingresso.
O melodrama de Wells, uma
roteirista estreando na direção,
parece um produto de menor
risco. É um "Pigmalião" versão
99, com Stephen Rea ("Traídos
pelo Desejo") como o mentor e
a Sarah Polley ("O Doce Amanhã") fazendo a bela pupila.
Não são Bernard Shaw nem
sequer William Wyler ("Minha
Bela Dama") as referências básicas. Wells parece inspirar-se
mais no Adrian Lyne ("9 e Meia
Semanas de Amor"). San Francisco poucas vezes viu assim revelada sua porção yuppie.
Polley faz Harpey, a caçula de
uma abonada família de advogados. Um curso em Harvard
seria seu destino não fosse o
encontro com o boêmio fotógrafo Cornelius (Rea), "Connie" para os íntimos, na festa de
casamento da irmã. Segue-se
uma edição da velha história da
troca do entediante conforto da
vida burguesa pelas aventuras
do mundo artístico, com Harpey rebatizada de Guinevere
pelo mestre-amante.
É claro que ela logo descobre
ser mais uma a ocupar o posto
de jovem discípula de Connie.
Embalado por muito jazz latino, bossa-nova inclusive, a relação cumpre seu ciclo. Rea faz
o que pode para escapar da armadura beat-chique de seu
personagem, enquanto Polley
dá conta com facilidade das limitações de Guinevere.
Ponto para você se lembrou
do episódio "Lições de Vida",
de Martin Scorsese, para "Contos de Nova York" (1989). Se o
esquematismo lá já incomodava, imagine aqui nesta pálida
imitação. "Guinevere" pode até
vir a fazer dinheiro, mas nada
tem a ver com a ousadia que se
procura no Sundance. Mais
que um filme a ver, eis um
exemplo a se estudar.
²
O crítico
Amir Labaki está em Park City como jurado da competição latino-americana
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