São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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NOITE ILUSTRADA ERIKA PALOMINO
Quem disse que em janeiro não tem nada?

SÃO Paulo não é Nova York, mas está parecendo. Primeiro, pega fogo num dos clubes mais luxuosos da cidade, o Chaos (que aliás tem filial em Nova York). Modelos choram na porta; donos de clube concorrente brindam com champagne; moradores descem dos prédios vizinhos para aplaudir. Quer coisa mais Nova York que isso? De toda forma, os boatos dão conta que o clube iria fechar de qualquer forma, já que havia duas multas por conta do projeto Psiu (taí uma coisa que realmente funciona em São Paulo). Eu digo Rudolph Giuliani! Entre os donos, existe uma intenção de fazer alguma coisa, mas nada ainda foi decidido. Primeiro eles precisam "resolver pepinos antigos" e receber o dinheiro do seguro. É Nova York ou não é?
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DEPOIS, ganhamos anteontem um clube tipo internacional, o U-Turn, que tem como projeto, você sabe, mudar de três em três meses já sabendo que a gente se cansa rápido das coisas mesmo. Palmas para o arquiteto, Paulus Magnus, que concebeu aquela que é uma das pistas mais bonitas da cidade, com o pé direito alto na medida certa. E diz que na véspera, por conta das tintas secando, todo mundo tinha que andar de meias no meio das obras. A inauguração estava abarrotada. Em São Paulo é assim: se não está entupido, não é sucesso. Então vamos encher a casa! E do que deu para ver entre centenas de pessoas, o clube com certeza é lindo, com decoração optical de Muti Randolph, que também fez os prêmios da coluna, lembra? No aperto, as barangas-de-sandália ficam ainda mais grossas, e os bofes de camisa listrada ainda mais dzarms. Mas todos os mailings estavam lá. Do underground, estavam quase todos lá também, concentrados à volta da Normanda, na chapelaria que já nasce famosa. Do staff, Luiz Eurico Klotz e Betão Pandiani recebiam "as themselves"; a hostess Adriana Recchi vestia saia de tacha de Alexandre Herchcovitch (a nossa Fernanda Montenegro, segundo Fernando Zarif -que anda anunciando também ida para Paris), e Cacá Ribeiro vestia Sommer (da nova coleção, claro).
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E quem disse que não acontece nada no começo do ano em São Paulo? Começa na quinta-feira o projeto "Tribos Eletrônicas", com 12 grupos e quatro DJs, pretendendo transformar o palco do Sesc Vila Mariana em pista de dança. Os ingressos são amigos, a R$ 10 e R$ 5. Os destaques da programação são Ramilson Maia; Moreno Veloso e D2; Nude e Daúde e M4J (na quinta em si); sexta tem Habitants; Edgard Scandurra e Arnaldo Antunes; sábado tem o inglês Aphrodite, de jungle; Otto e André Abujamra; domingo tem Friendtronik (do Xerxes) e a estrela do momento na cidade, o DJ Marky Mark.
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E, por falar em DJ, Noite Ilustrada prossegue a discussão em torno dos ingressos vip, sobre o cachê dos DJs etc, polêmica discutida por Angelo Leuzzi e Mau Mau nos prêmios da coluna. Pelos mails recebidos, dá para notar que o povo do underground parece bem disposto a pagar um ingresso simbólico para ajudar os clubes a bancar as noites e tal. "Não vejo o fato de não pagar entrada como algo que classifique alguém como vip ou não. Isso está mais ligado ao glamour de passar batido pela fila na porta do que uma questão financeira", diz Gaia Passarelli, do site Rraurl. "Escutei de pessoas na Lov.e que elas só estavam ali porque o DJ "tal' estaria tocando. Então acho que o DJ com certeza merece os melhores cachês", diz outro leitor. Um DJ em São José dos Campos diz que, mesmo iniciante, ganha em sua cidade R$ 120. Outro motivo, além de fazer dinheiro, é dar uma nivelada no público, pelo poder aquisitivo. E você, o que acha?

E agora mesmo que a situação vai complicar, com a alta dos discos importados. Um single americano ou inglês está na faixa de R$ 25 a R$ 27. Na Galeria Ouro Fino esse preço já existe há duas semanas e ontem bateu nos R$ 30, mas nas galerias do centro, a B-Side vende a loja inteira a R$ 15 (semana que vem aumenta). Com cachê baixo, como nossos DJs poderão se atualizar? Será o reinado das coletâneas, talvez?
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ENQUANTO isso, os DJs do Rio se articulam num fórum informal de profissionais relacionado a rádio, casas e festas.
Mas tudo do mainstream. Eles se reúnem na casa de um deles, no bairro de Santa Teresa, para tentar barrar o avanço do pagode e do axé diante da música eletrônica nesses eventos. Isso mesmo.
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TUDO acontece meio na surdina, sem divulgação, somente para os seletos convidados. "Nem adianta ir que não vai entrar", declarou um dos integrantes dessa "sociedade secreta".

MAS o Carnaval está aí, e o povo no Rio se articula. Fabio Demente sai na frente, na Fundição novamente, com Renato Cecin e DJs australianos na festa conjunta com o povo de Sydney, isso no dia 13, sábado de Carnaval. Na terça-feira, dia 16, quem toca é o DJ Abel, de Miami. A Bunker, das festas tecno mais animadas do Rio, funciona normalmente, enquanto outra novidade da cidade é a estréia da Disco Fever de Mauro Borges na cidade, onde antes era o Factoria.
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E, por conta dessa estréia, um ônibus de drag queens tipo Priscilla foi para o Rio e virou reportagem do "Fantástico" semana passada, super do bem, supercarinhosa e respeitosa. E Léia Bastos subiu no ônibus, correndo, tipo Priscilla mesmo. E quem diria que isso iria acontecer há cinco anos, hein? Parabéns para todos!
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E, por falar em Marky Mark, ele toca hoje (e toda sexta) na Torre do Dr. Zero, junto com o Bispo. Hoje tem também lá o show do Currupyo, o sensacional projeto de breakbeat de Ramilson Maia. Também hoje, não perca a volta do queridíssimo DJ Zozó à Lôca, com ingressos amigos a R$ 10,00.
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E, falando em sexta, Oscar Bueno é agora também promoter das sextas do Lov.e, além do Lov.e in Paradise com George Actv.
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CACÁ Di Guglielmo, representante oficial de Santos na cena, estréia hoje no Massivo Litoral projeto de música eletrônica, o Atomic. "Queremos ampliar a cena da Baixada Santista", diz o Palito.
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E a cor do verão moderno em São Paulo é o branco. Dos fashionistas do MorumbiFashion aos hypes do U-Turn. Se joga!
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E-mail: palomino@uol.com.br



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