São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cinema/estréias - Crítica/"Rambo 4"

Stallone, a múmia, estrela um tosco filme B

Divulgação
O ator e diretor Sylvester Stallone em cena de "Rambo 4"

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A primeira imagem de John Rambo no cinema mostrava o herói vindo de frente em nossa direção, em "Rambo - Programado para Matar". A última tomada de "Rambo 4" é justamente o seu avesso: o personagem segue, de costas, em direção a uma casa no fundo do plano. Fica claro, entre esses dois quadros, entre aquela apresentação e este adeus, uma missão cumprida, selando uma visita ao cinema que durou de 1982 a 2008.
A um cinema de ação que surgiu nos anos 80 coalhado de truculências e metáforas políticas, professando a luta do bem contra o mal com uma falta de sutileza só vista no cinema de guerra americano dos anos 40.
Por isso, ao assistir a "Rambo 4", surge o espanto com a entrega de corpo e espírito de seu diretor, ator e roteirista, Sylvester Stallone, para fazer deste a semelhança aos outros três filmes, realizados na Guerra Fria dos anos 80. Uma idéia, professada pelo próprio John Rambo, de que nada muda, o que parece crível pela recorrência de Stallone à mesma estrutura dramática e visual dos outros longas. Assim, nada teria mudado entre a política de Ronald Reagan e a de George W. Bush? Segundo Sylvester Stallone, ou John Rambo, não.
À parte a questão ideológica, muitos dos filmes de ação recentes apresentam sofisticação visual e complexidades que constroem uma bela experiência de cinema, além de pôr em xeque a certeza de que a ação sanitária do herói contra os bandidos seja sempre o melhor caminho -"Munique" ou "Homem-Aranha 3" são exemplos.

Cinema sem sutilezas
Em "Rambo 4", é tudo preto no branco, e as primeiras imagens (apresentadas por um noticiário, porque o filme quer dizer que a situação é próxima do "real", do nosso mundo de agora) mostram uma guerra brutal em Mianmar, que dizima de crianças indefesas a dóceis cãezinhos. Em assistencialismo às vítimas, missionários (branquinhos, bem cevados e americanos, claro) acabam sendo capturados pelos "monstros".
Talvez seja irrelevante dizer que um dos vilões gosta de meninos, o que causa náuseas a John Rambo, que, claro, romperá sua dormência pacifista e irá ao socorro dos religiosos.
Mas é valioso citar que o próprio Rambo reitera aquilo que ele amargava no filme de 1982 (disponível em DVD no Brasil), sobre ter sido preparado para matar e os tempos de paz lhe serem um tremendo tormento.
Agora, neste "Rambo 4", não há drama para o herói, que assume muito bem esse seu lado violento, o que o põe bem à vontade para, por exemplo, flechar inimigos ou lhes arrancar a glote com as próprias mãos. Maior crime, talvez, seja o de Stallone, que assina um filme extremamente sombrio, graças à estética contemporânea de câmera na mão, cortes rápidos e fotografia esmaecida, porém muito mal utilizada e que torna tudo muito tosco, um verdadeiro filme de "terror", um filme B ou, mais propriamente, um "snuff movie".
Está claro, enfim, para o que veio este "Rambo 4". Após vencer uma guerra perdida, a do Vietnã, em "Rambo 2", e limpar o Afeganistão dos invasores soviéticos em "Rambo 3", Rambo ressurge agora um tanto múmia, alquebrado mas bastante veemente em seu discurso político, em sua fé que a solução dos problemas do mundo está na violência, para fazer lembrar sua importância para o mundo que o largou à clandestinidade.


RAMBO 4
Produção:
EUA/Alemanha, 2008
Direção: Sylvester Stallone
Com: Sylvester Stallone, Julie Benz e Matthew Marsden
Onde: estréia hoje nos cines Eldorado, Iguatemi Cinemark e circuito
Avaliação: péssimo


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Crítica/"Estamos Bem Mesmo Sem Você": Drama familiar visto por olhos de menino é um belo primeiro filme
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.