CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Em sua estréia na direção cinematográfica, o ator e autor de novelas e de teatro Miguel Falabella até balança, mas não cai. Como já é tradição das produções da marca Globo Filmes, "Polaróides Urbanas" só quer cumprir as tarefas de oferecer entretenimento com razoável padrão de acabamento e de satisfazer o imenso nicho de público que vai ao cinema para ver algo parecido com o que se acostumou a assistir na TV.
As ambições cinematográficas do diretor são limitadas, contentando-se com a inspiração superficial nos filmes da fase cômica de Almodóvar, cujos climas são reiterados na trilha sonora pastiche de Guto Graça Mello.
O filme se torna eficaz, contudo, quando Falabella deixa de lado as referências chiques e investe no que tem de mais pessoal em seus trabalhos como autor: um amor pelo universo feminino, o tratamento irônico de temas como solidão e desencontros, e o culto ao humor como antídoto aos males que sofre quem costuma levar tudo a sério demais.
Para isso, o diretor estreante associa duas de suas habilidades: um texto cheio de tiradas quase sempre engraçadas e um time de atrizes das quais arranca bons desempenhos.
À frente de todas, Marília Pêra parece possuída pelo demônio ao recuperar, no papel mais caricato dos dois que desempenha, o descontrole cômico de Dercy Gonçalves. Arlete Salles não fica atrás como a celebridade com síndrome do pânico (que dá vontade de vê-la com mais freqüência no cinema). E Stella Miranda entrega um tanto de humanismo sem esbarrar na pieguice.
Em vez de Almodóvar, Falabella encontra na matriz de Hugo Carvana e na da chanchada um modelo que torna seu filme mais brasileiro e popular, só perdendo a mão nos momentos em que abandona esse rumo para parecer profundo, como na constrangedora cena final.