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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Paris - ultima.moda@folha.com.br
Paris entre o passado e o presente
Dior volta aos anos 60; Balenciaga repensa a silhueta contemporânea
O espetáculo era, afinal, fascinante. Ao som de "Mrs. Robinson", o clássico de Simon e
Garfunkel, as modelos entravam por uma passarela longuíssima, tendo ao fundo do
palco uma cascata de água e a
logomarca gigantesca: Dior.
Elas usavam penteados enormes, como os que foram mania
nos anos 60, um tanto mais
exagerados, como os da Barbie.
Era também dos anos 60 que
vinha a inspiração das roupas,
desde os tailleurs à la Jacqueline Onassis até os looks psicodélicos de Twiggy. Nem parecia a
temporada de inverno da semana de moda de Paris, nem
parecia que estamos em 2008.
A coleção de John Galliano
para a Christian Dior foi uma
viagem no tempo, um recuo até
os otimistas anos 60, como
classificou o estilista britânico.
Uma volta muito literal, vale dizer. Havia poucos e sutis indícios de criação original, nenhuma releitura crítica do período
e praticamente nada que perturbasse a transfusão nostálgica feita diretamente para as bonecas da nossa época.
O motivo? Possivelmente comercial. São looks certificados
pela história e pelo uso, que
exercem forte atração nas consumidoras da Dior. Boa parte
deles atende ao estilo que a grife define como sendo o da
"working woman". Ou seja, são
para executivas top, entre o escritório e o coquetel.
O desfile da Dior aconteceu
na última segunda-feira e foi
um dos principais da temporada inverno-2008 de Paris, iniciada no sábado.
Foi um desfile-sintoma. Uma
das principais grifes de luxo do
mundo, a Christian Dior deve
saber o que está fazendo ao pisar no freio, segurando a criatividade de seu estilista. Ainda
mais quando se avizinha uma
recessão mundial.
No "New York Times", Ruth
de La Perla apontou nos EUA
um certo revival da figura de
Jacqueline Onassis e um desejo
de retorno à silhueta de tempos
"mais simples" (sic). Os anos 60
não foram simples assim, claro,
mas, como os EUA são o maior
mercado da moda mundial, as
grandes maisons devem estar
preocupadas em insuflar um
pouco de certeza e otimismo
nas lojas do país.
De quebra, agradam aos mercados emergentes, como Rússia, Índia, China e mesmo o
Brasil, onde as complicações
estilísticas sempre ficam em
segundo plano, e as consumidoras preferem um look nitidamente "de grife".
Na outra margem da moda
francesa, destacou-se o desfile
da Balenciaga, que até quarta-feira havia mostrado a coleção
mais importante desta temporada em Paris.
Em termos de negócios, se
comparada à Dior e à Chanel, a
Balenciaga é uma maison de
porte médio e deve ser por isso
que concede maior liberdade a
Nicolas Ghesquière e não teme
uma certa atitude vanguardista
do designer francês.
A surpresa da Balenciaga
nesta temporada veio, porém,
menos da ousadia do que do fato de Ghesquière ter conseguido criar uma coleção que concilia as demandas do mercado
fashion com a alta invenção e o
gosto contemporâneo, sem falar no toque muito sexy que
conseguiu acrescentar.
Em parte da coleção -que
flerta algumas vezes com os
anos 60-, os vestidos justos,
em construções exatas e sucintas, recebem recortes imprevistos que recriam a silhueta e
retalham as convenções.
Em outros momentos do
desfile, aparecem casacos e vestidos futuristas de látex, calças
superjustas acompanhadas de
blusas com drapeamentos, voltas e enlaces labirínticos e, ainda, mantôs de látex estampados, inspirados na arte japonesa e espanhola.
Ghesquière conseguiu sintetizar todas as suas experimentações das últimas temporadas
numa coleção que é uma verdadeira pedra-de-toque para o
prêt-à-porter atual, perdido
entre as riquezas do passado e a
incerteza do futuro.
Versace faz desfile iluminado
Ainda bem que no final veio a
Versace. A temporada inverno-2008 de Milão, marcada por
um excesso de discrição e sobriedade, se iluminou com a
paleta de cores de Donatela
Versace -do fúcsia ao amarelo- e as estampas do artista holandês Timotheus Roeloffs, que
a estilista convidou para trabalhar ao seu lado. O verniz artístico, tratado sem pretensão,
caiu bem à coleção.
Os looks margearam o sexy
sem cair na vulgaridade, em
construções um tanto mais sofisticadas, mas sempre discretas, para não ferir o gosto burguês da clientela -sutis assimetrias, minimalismo sem exageros... Tudo acabou dando certo no desfile, e prova disso é que
as modelos ficaram lindas.
O desfile da DSquared é sempre um dos mais concorridos
da semana milanesa. É uma
festa pop, repleta de celebridades italianas e até internacionais, com uma energia agitada,
mas cuja vibração nem sempre
encontra correspondência nas
coleções, que resultam muito
irregulares. Não foi diferente
desta vez. Algumas boas peças
aqui e ali não conseguiram
afastar a sensação de dejà-vu.
O estilista Matthew Williamson conseguiu conciliar seu
próprio design com a tradição
forte da Emilio Pucci. Tanto assim, que fez um de seus melhores desfiles para a grife nas últimas temporadas em Milão,
abrindo com looks mais pessoais e conduzindo o público de
maneira quase imperceptível à
féerica estamparia pucciana.
com VIVIAN WHITEMAN
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