São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Coleção traz livro de Jorge Amado

"Tocaia Grande - a Face Obscura", lançado em 1984, estará à venda no próximo domingo nas bancas

DA REPORTAGEM LOCAL

Terceiro volume da "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros", "Tocaia Grande - A Face Obscura", com seus coronéis e jagunços, prostitutas e imigrantes, constitui uma espécie de regresso do escritor Jorge Amado (1912 -2001) ao universo que o consagrou: o dos grandes painéis da região do cacau.
Regresso, na verdade, não é a palavra mais apropriada, já que o autor sempre se manteve próximo da temática. "Tocaia Grande" (1984) insere-se na seara dos livros "Terras do Sem-Fim" e "Gabriela Cravo e Canela".
São obras que indicam uma tentativa de conciliar o velho e o novo numa utopia popular, não isenta de contradições, que caminha ora para a tragédia, ora para a comédia.
Representante do chamado "romance de [19]30", como Erico Verissimo, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, Amado publicou mais de três dezenas de livros. Foi - e ainda é, sete anos após sua morte - o mais conhecido ficcionista brasileiro. E qual é a razão desse fascínio? Em parte a resposta está na matéria que ele escolheu narrar: a gênese de uma civilização.

Fronteiras incertas
Trata-se de um terreno de fronteiras incertas, em que as forças da barbárie sofrem a pressão das regras coercitivas do "progresso".
Tocaia Grande, por exemplo, é um paraíso ungido em sangue. Escora-se em normas políticas próprias a uma ordem pré-industrial. Nasceu como recompensa ao jagunço tornado capitão Natário da Fonseca, que ali exerce o poder como um líder militar. As terras são dadas a quem necessitar e os amores correm sem freios.
Mas a cidade -o grande personagem deste romance- percebe que não pode viver fora do mundo. Recebe a visita de representantes da Igreja, que pretendem erradicar a lascívia. Depois, enfrenta a investida do filho do antigo protetor de Natário, que deseja conquistá-la. Em seu rastro seguem o juiz, o promotor, o intendente, os agentes da "sociedade" pretensamente ordenada e moderna.
Para plasmar o assunto de suas fábulas -o mundo caduco, que teima em não sucumbir- e para compor um panorama vastíssimo e cheio de personagens, Amado combinou o realismo bruto com técnicas narrativas emprestadas ao romantismo e à tradição oral do Nordeste. Uma estratégia que se mostrou bem-sucedida.
A "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros" reúne 20 títulos. Depois de "Tocaia Grande", é a vez de "Sentimento do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade.


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